terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda da tirania de Assad é razão para celebração

O Globo

Mas futuro da Síria, nas mãos de grupos jihadistas, desperta preocupação e traz incerteza à região

A realidade convulsiva do Oriente Médio ganhou novo capítulo com a queda da ditadura da família Assad, que governou a Síria por mais de 50 anos. O exílio de Bashar al-Assad na Rússia marca o fim do regime tirânico iniciado por seu pai, Hafez. Os dois governaram o país na base da repressão e da tortura, financiados por aliados externos. Somente na década passada, mais de 300 mil morreram numa guerra civil sangrenta que opôs milícias e facções religiosas, em que as forças de Assad chegaram a usar armas químicas contra o próprio povo. Com a vitória dos rebeldes, celebrações pelo fim da era Assad despontaram na capital, Damasco, pelo país e pelo mundo. Mas os casos de tiranias recentes também derrubadas no Oriente Médio — como Saddam Hussein no Iraque ou Muammar Gaddafi na Líbia — são suficientes para despertar preocupação com o futuro.

Antonio Lavareda: Quem evitou golpe em 2022 em última instância foram os EUA

Anna Satie / UOL

Para o cientista político Antonio Lavareda, não foi a consciência das Forças Armadas, mas a posição do governo dos Estados Unidos que frustrou os planos golpistas para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder em 2022.

Em entrevista ao UOL, o analista disse que os comandantes brasileiros não podem levar o crédito pela manutenção da democracia quando as investigações mostram que eles tinham conhecimento prévio da trama e não fizeram denúncia alguma.

Ele destaca que, durante o processo eleitoral daquele ano, enviados pelo presidente Joe Biden se reuniram com os chefes das Forças Armadas e deixaram claro que o país não apoiaria uma ruptura institucional.

Forças Armadas do Brasil e dos EUA têm ligação histórica

Em pé de guerra - Merval Pereira

O Globo

O ambiente hoje no Congresso é mais favorável a um recrudescimento do sentimento de polarização política que de pacificação, levando a reforma ministerial a ser a única solução para apaziguar os ânimos

A recusa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino em rever detalhes de sua decisão sobre o pagamento das emendas parlamentares, mudança solicitada pela Advocacia-Geral da União (AGU), fez aumentar o clima de revolta entre os parlamentares, que se recusaram a dar quórum para o início do debate da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

As prioridades do Congresso não são as mesmas do país — reforma tributária, pacote fiscal, corte de gastos, entre outros. Como está em jogo a disputa para as presidências da Câmara e do Senado, a maior preocupação dos deputados e senadores é agradar aos eleitores — dentro do Congresso, não os nacionais, que os elegem. Há muito pouco tempo para aprovar tudo o que precisa — faltam dez dias para o recesso.

Juros, novo BC e crise política - Míriam Leitão

O Globo 

Conflito entre o Supremo e Congresso sobre as emendas trava votações importantes em uma semana já tensa com a alta maior dos juros

Esta última reunião do Copom do ano e da gestão de Roberto Campos Neto é a mais importante em muito tempo. O Banco Central deve acelerar de novo a alta dos juros. Um grande número de bancos e consultorias projetam uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic, para 12%, com algumas apostas chegando a 1 ponto percentual. O clima de país em crise se espalhou entre operadores e dirigentes de instituições financeiras. Desde a última reunião, o dólar subiu de R$ 5,67 para R$ 6,08 e a inflação no acumulado de 12 meses ultrapassou o teto da meta. Com o IPCA a ser divulgado hoje, deve chegar a 4,8%, mesmo número da mediana das previsões do Focus para o ano.

A nova fase da IA – Pedro Doria

O Globo

Os sistemas devem sair trabalhando sem que alguém dê o comando

Na semana passada, Sam Altman se sentou no palco da conferência DealBook, do jornal New York Times. O CEO da OpenAI encarou uma entrevista de pouco mais de meia hora com o jornalista Andrew Ross Sorkin, em que o destaque veio ali pelo meio.

— A AGI está bastante próxima. Vem, talvez, já no ano que vem — afirmou Altman.

A sigla em inglês quer dizer inteligência artificial geral. Mais frequentemente, é descrita de forma mais simples: aquele momento em que inteligências artificiais igualam ou superam a humana.

Uma pausa dramática se faz necessária. Altman sugeriu que IAs podem superar a inteligência humana brevemente. Talvez no ano que vem.

Síria preocupa o Brasil por razões humanitárias - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Temos uma comunidade de 5 milhões de sírios e libaneses, plenamente integrada e concentrada em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro

Depois que rebeldes derrubaram o ditador Bashar al-Assad e tomaram o controle do país, o governo federal decidiu retirar as equipes técnicas e diplomatas que estavam em Damasco, que se deslocaram para o Líbano, onde deverão embarcar para o Brasil num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Cerca de 3,5 mil brasileiros vivem na Síria e foram aconselhados a deixar o país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanha a situação com cautela, como as demais chancelarias do mundo. Estados Unidos, Turquia, Israel, Rússia e Irã estão envolvidos diretamente na crise síria. A ditadura al-Assad foi implantada logo após a Guerra dos Seis Dias, com apoio da antiga União Soviética, quando a Síria, Egito e Jordânia, entre outros países árabes, foram derrotados por Israel. Durante a guerra civil do Líbano, chegaram a ocupar grande parte do país.

Decisão de Dino enfraquece o Congresso em negociação com governo - César Felício

Valor Econômico

Nos corredores da Câmara, comenta-se que movimento sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Legislativo

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de manter o cabresto sobre as emendas parlamentares, tomada nesta segunda-feira (9), não surgiu sozinha. Apareceu junto com o crescimento das especulações sobre a abertura de espaço na Esplanada dos Ministérios para acomodar interesses do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Este possível movimento em pinça sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Congresso, segundo se comenta nos corredores da Câmara. E essa é uma ofensiva que contou com o efeito surpresa.

Deputados e senadores esperavam um recuo de Dino, depois que o advogado-geral da União, Jorge Messias entrou na semana passada com um pedido de reconsideração de três pontos na deliberação do ministro de condicionar a liberação do pagamento das emendas a critérios de transparência e controle e limites para seu crescimento.

O Congresso entre o currículo e a ficha corrida - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Parlamentares esticam a corda com o Supremo ignorando o risco de um desfecho policial

Eram 16h desta segunda-feira quando o senador Marcos Rogério (PL-RO), vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça, abriu a sessão em que seria feita a leitura do relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) da regulamentação da reforma tributária. Fechou 10 minutos depois, quando o painel registrava presença de seis senadores, sendo dois governistas. Alegou que as deliberações precisam de 14 dos 27 senadores do colegiado, mas a leitura do relatório poderia ter sido feita enquanto o quórum se adensava, mas não havia lideranças governistas para o alerta. Quando o relator chegou, o plenário estava vazio.

Conselhos de um linguista ultraliberal - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Não há pilhas de projetos para obrigar o uso da linguagem neutra, mas há para a proibi-la, comenta Caetano Galindo

O professor Caetano W. Galindo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esteve em São Paulo no fim de outubro para uma conferência na Fapesp. Ao entrar no hotel onde ficou hospedado, pediu ao recepcionista um ferro para passar a camisa.

“Não temos o ferro no quarto, mas podemos emprestá-lo ao senhor”, disse o atendente, em linguagem protocolar e culta. Mas em seguida perguntou: “O senhor também precisa da ‘tauba’?” E logo corrigiu-se: “Desculpe, precisa da tábua?”.

Galindo, linguista ultraliberal e autor do livro “Latim em pó”, um sucesso de vendas lançado no ano passado, conta que teve vontade de pegar a mão do recepcionista e dizer:

“Não, meu amigo, ‘tauba’ é mais legal. É uma adequação fonética previsível aos padrões da estrutura da língua portuguesa. ‘Tauba’ é palavra nossa, legítima. Tábua é o que é a variedade escolar europeizada, imposta pelas elites brasileiras que se mantiveram em estreito contato com Portugal no século XIX. Elas a trouxeram para o Brasil, a impuseram e depois criaram um sistema de educação para dizer que você não sabe falar a sua própria língua”.

Passo histórico - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A comemoração do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) só durou uns poucos dias e a expectativa para que se torne realidade pode consumir muitos meses, ou anos, depois de um quarto de século de pressões, negociações, idas e vindas, muxoxos e caras feias. Na verdade, porém, esse acordo é importantíssimo para os dois blocos, particularmente para o Brasil, e não “apenas” pelo impacto nas importações e exportações em condições camaradas, mas muito além disso.

Mais do que um acordo comercial, trata-se de uma parceria estratégica entre os 27 países europeus e os quatro sulamericanos que envolve redução de tarifas de produtos de diferentes setores, num mercado que passa de 700 milhões de pessoas, mas também um diálogo político e a cooperação em várias áreas que podem impulsionar o crescimento econômico e a competitividade da indústria e da própria agricultura brasileiras.

A comunicação é o mordomo da política - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo Lula já identificou o problema. A culpa é da comunicação. Sempre é. Se a cousa não vai bem, ou não tão bem quanto forçaria a propaganda, a responsabilidade tomba sobre o mensageiro. Padrão. Será o máximo concedido à autocrítica. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar o que haveria para comunicar. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar se haveria tanta coisa (boa) assim para comunicar.

Não é a primeira vez que este governo atribui seus reveses – suas dificuldades – à comunicação. Terá talvez algo a ver com promessas-adiamentos de final de ano. Vai melhorar no que vem. Junto com a nova dieta. Junto com um pacote de corte de gastos que corte gastos. Junto com o BC socialmente sensível de Galípolo.

Mercosul revigorado - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o bloco sul-americano pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional

A reunião presidencial do Mercosul, em Montevidéu, na semana passada, foi uma das mais importantes desde sua criação em 1991, em função da decisão dos países do Mercosul e da União Europeia (UE) de dar por concluída definitivamente a negociação do acordo de parceria em discussão há 30 anos.

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o Mercosul sai do isolamento e pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional. Foi assinado acordo comercial com o Panamá e iniciadas conversações com os Emirados Árabes Unidos.

Ninguém desce do palanque - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

A discussão pública nunca para, e é preciso estar sempre contando sua narrativa

Uma das críticas mais inócuas de nossos tempos é dizer que um político "não desceu do palanque" depois que foi eleito. Ela é inócua porque, hoje, o tempo de campanha nunca termina mesmo. É preciso estar sempre contando sua narrativa para impedir que as narrativas dos adversários dominem a discussão pública, que nunca para. O único político que pode se dar ao luxo de descer do palanque é aquele que se aposentou.

Todos nós vivemos na mesma sociedade, mas cada um tem uma percepção parcial e limitada dela, sempre mediada por preferências e projeções. Sua vida hoje está melhor ou pior do que há cinco anos? É até difícil começar a medir uma coisa dessas. Expandir isso para o Brasil inteiro, então, é mais imaginação do que qualquer outra coisa. Dados nos ajudam a montar uma percepção um pouco mais calcada numa realidade objetiva, mas mesmo eles deixam muitas lacunas, podem retratar aspectos contraditórios dessa realidade e simplesmente não alcançam muitas das áreas mais importantes da vida.

Dino rejeita pedidos do governo e mantém regras para emendas parlamentares

Cézar Feitoza / Folha de S. Paulo

STF criou restrições para emendas, e Congresso ameaça retaliar governo em corte de gastos

O ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou nesta segunda-feira (9) um recurso da AGU (Advocacia-Geral da União) do governo do presidente Lula (PT) que pedia mudanças na decisão do tribunal sobre as emendas parlamentares.

Na decisão, Dino diz que "não há o que reconsiderar" da decisão do plenário do Supremo porque as novas regras estipuladas "derivam diretamente" da Constituição e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país.

Lula no país das maravilhas – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Comunicação só é eficaz quando o público reconhece a boa qualidade do produto

Desde que os índices de popularidade engataram uma linha descendente, o presidente Luiz Inácio da Silva vem insistindo na ideia de que o problema do governo é a comunicação ruim.

Na semana passada, indicou que o talento para "vender" suas realizações será um dos critérios, talvez o primordial, para a reforma ministerial prevista para 2025. Chegou a fazer mea-culpa e chamou a si a tarefa de dialogar mais e melhor com a população.

A esfinge argentina - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O capitão deveria ter arranjado uma irmã Igual à do presidente argentino

Você já reparou que agora Bolsonaro vive dando entrevistas? Ao contrário do tempo na Presidência, nenhuma pergunta fica sem resposta —mesmo que esta não faça sentido, seja uma deslavada mentira ou não corresponda ao que foi perguntado. O mais notável é o tratamento destinado aos jornalistas, quase civilizado. Não se pode dizer que o capitão virou uma flor de candura, mas as patadas ficaram no estábulo.

Em recente vídeo gravado para a reunião da internacional direitista em Buenos Aires, mais uma vez se revelou a sua metamorfose espiritual. Humilde, ele culpou a pandemia e a Guerra da Ucrânia (!) pelo fracasso de sua administração e elogiou Javier Milei, que hoje antagoniza com Lula.

Uma loa do Natal - Ricardo José de Azevedo Marinho*

Uma loa do Réveillon

Embora seu título tenha sido traduzido como Um Conto de Natal e não como uma canção ou vilancico natalino, o livro de Charles Dickens (1812-1870) foi escrito em menos de um mês originalmente para pagar dívidas, mas tornou-se um dos maiores clássicos natalinos e é uma obra curta, uma “nouvelle”, como diriam os franceses, que aborda temas universais em torno de histórias que acontecem no Natal. Publicado em 1843 na Inglaterra vitoriana e no preludio da segunda revolução industrial, tem todas as características dos escritos de Dickens, humanidade, dor, pobreza, injustiça e redenção. Embora possa parecer, não é uma ficção apenas para crianças e/ou adolescentes, mas para o público em geral. Li-o quando menino e causou-me uma grande impressão e tornou-me um leitor de Dickens para sempre. Agora que sou mais velho, não desprezo reler suas obras.

Poesia | Poesia | Graziela Melo – Pardos dias

Pardos dias
que se vão
ao longo
do meu viver

O entra
e sai
da agonia,

olhando
a casa
vazia

desde
a noite
ao sol nascer!

Os sons
longínquos
da alma,

exíguos
e já
rarefeitos,

se assemelham
aos tristes
sinos

que badalam
na solidão,

quando o sol
já vai fugindo,

e o céu
se avermelha
antes da
escuridão.

Música | Beth Carvalho - Vou festejar (com Bateria da Mangueira)

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incêndios florestais devem ser tratados como prioridade

O Globo

Neste ano, as chamas destruíram uma área da Amazônia mais de dez vezes maior que o desmatamento

As chamas têm sido mais devastadoras para a Amazônia que as motosserras. Dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, baseados em informações de satélites, revelam que, de janeiro a outubro, incêndios destruíram uma área da floresta mais de dez vezes superior ao desmatamento registrado entre agosto de 2023 e julho de 2024 — 6,7 milhões de hectares ante 650 mil hectares. Com uma agravante: o Brasil sabe como combater o desmatamento — e a redução recente na área desmatada na Amazônia e no Cerrado é prova disso —, mas tem se revelado incapaz de deter o fogo.

O que fizeram com as nossas cabeças – Fernando Gabeira

O Globo

Existe uma incapacidade de atenção prolongada. O estímulo é mudar constantemente no ritmo da ponta dos dedos

Brain rot foi escolhida a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Significa cérebro podre. O termo define a exaustão mental provocada por uma imersão nas telas, pulando de um para outro tema que não contém estímulo intelectual. Na verdade, o termo já foi usado pelo escritor Henry Thoreau ainda no século XIX, em 1854:

— Enquanto a Inglaterra se empenha em curar a podridão da batata, ninguém se empenhará em curar a podridão do cérebro, que predomina de maneira muito mais vasta e fatal?

Na verdade, o esforço de atenuar as imperfeições da mente humana, pelo menos a partir do Pós-Guerra, é bastante comovedor. Lembro-me da popularidade de Erich Fromm, que escreveu inúmeros livros, estimulando a liberdade individual, as possibilidades de uma existência amorosa. Como todo intelectual alemão que sobreviveu ao nazismo, Fromm enfatizava julgamentos independentes, mas já trazia também certa crítica ao capitalismo, refletindo constantemente sobre os verbos ter e ser.

Um estoico à beira do abismo – Demétrio Magnoli

O Globo

‘Mostre-me um que é doente, porém feliz; em perigo, porém feliz; morrendo, porém feliz; no exílio, feliz; em desgraça, feliz. Mostre-o a mim. Pelos deuses, eu desejaria ver um estoico. Não, você não pode mostrar-me um estoico completo; então mostre-me um em formação, um que colocou os pés no caminho.’ O Brasil pode mostrar ao filósofo grego Epiteto (c. 55-135 d.C) um estoico completo. É Haddad, Fernando, o ministro que não permite a Lula ser Dilma. Ou, ao menos, tenta.

“Gasto é vida” — Lula acredita na síntese da teoria econômica petista enunciada por Dilma. Mas, ao contrário da presidente desastrada que inventou, tempera suas crenças por um senso aguçado de prudência política. No segundo mandato, quando trocou Palocci por Guido Mantega, manteve o Banco Central (BC) sob Henrique Meirelles, evitando os delírios heterodoxos que, no mandato da sucessora, precipitaram a queda livre.

Outro lado da farda – Preto Zezé

O Globo

Essa guerra que te mandaram lutar não tem vencedores. Todos perdem. Enquanto as regras injustas ficam intactas, a propriedade está salva

Fala, soldado!

Tu, que foste programado para ser sentimento, sem dor, agora viraste mais um caso isolado, que se repete dia após dia em todos os lugares. E os superiores se limitam a dizer que a instituição não compactua e que você será afastado, e vida que segue.

Tu, que vives de executar ordem, que se formou num treinamento tipo fundamentalista, cheio de humilhações e exploração. E, ao mesmo tempo, jurou defender a sociedade com a própria vida, sabendo que, na selva, a ética é violentada pela sobrevivência. E ensinado somente a morder, esse cão de guarda não ia distribuir flores.

O telefone toca, milhões precisam de ti, um misto de desconfiança, necessidade e sossego. Tipo capitão do mato, caçador de preto, de pobre, palanque fértil no horário nobre pra política.

No teu time, muitos entraram por poder, por dinheiro, por privilégio, uns honestamente sonhando em proteger a sociedade. Uns em áreas ricas que protegem, dizem que “tu é machão na periferia; na área nobre, tu é nada!”. Mas, já que teu superior orientou que as abordagens eram diferentes dependendo do público e da área — pobre ou até nobre —, segue o baile!

Ministério pode mudar depois do carnaval - Andrea Jubé e Fabio Murakawa

Valor Econômico

Lula deve ouvir Lira e Pacheco; presidente do Senado é cotado para um cargo na Esplanada

Ao completar a marca dos dois anos de mandato, aumentou a pressão de aliados do Centrão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promova mudanças no primeiro escalão. O próprio Lula já reconheceu a interlocutores a necessidade de mexer no time, a fim de garantir a governabilidade na reta final do mandato e fidelizar aliados para a coalizão da campanha à reeleição em 2026. A reforma ministerial, todavia, deve ficar para depois do carnaval.

As discussões ainda não estão maduras, mas os atuais presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de saída dos cargos, serão ouvidos em todo o processo. O próprio Lula tem desejo de levar Pacheco para o primeiro escalão. Lira, por sua vez, já disse a interlocutores que não tem interesse em ser ministro. Mas ele deve indicar um aliado para alguma pasta na reforma em gestação.

Bancadas burlam decisão do STF sobre emendas - Raphael Di Cunto

Valor Econômico

Legislativo aprova ações genéricas para dividir verba que seria para obra estruturante

Ao mesmo tempo em que pressiona o Supremo Tribunal Federal (STF) a rever a decisão de obrigar a divulgação do nome dos padrinhos políticos das emendas de bancada estadual e de comissão ao Orçamento, com o argumento de que se tratam de recursos coletivos, o Congresso Nacional burlou a ordem da Corte e a lei aprovada há poucos dias pelos próprios congressistas para não individualizar as emendas de bancada, que somarão R$ 14 bilhões.

Os deputados e senadores de cada Estado se reuniram esta semana - alguns, em reuniões “secretas”, restritas aos próprios parlamentares - e aprovaram a alocação de dinheiro em rubricas genéricas nos governos estaduais ou ministérios, como “fomento ao setor agropecuário”, “promoção de turismo” e “apoio a projetos de desenvolvimento sustentável”.

Dólar a R$ 6 e o efeito sobre a inflação e o nível do juro - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Sem estratégia de contenção de gastos obrigatórios, câmbio vai continuar desvalorizado; culpar a Faria Lima não ajuda em nada

Um país que cresce há três anos na casa de 3%, com desemprego em queda e renda em alta, convive com um dólar na casa de R$ 6 e juros de longo prazo em níveis elevadíssimos, de 7% ao ano, descontada a inflação. As incertezas sobre as contas públicas levaram a esse salto da moeda e dos juros longos, contribuindo para a piora das expectativas de inflação, combinação que caminha para resultar numa forte alta da Selic.

Se isso ocorrer, o que poderia ser uma desaceleração moderada da atividade corre o risco de se tornar uma perda de fôlego mais expressiva, com interrupção da retomada do investimento, além de uma piora da situação fiscal, por encarecer o custo já pesado da dívida pública. Há projeções de que a Selic, hoje em 11,25% ao ano, poderá superar 14% no fim do ciclo de aumento da taxa. Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, a aposta dominante é em alta para 12%.

Uma crônica, as pautas e o Brasil que queremos - Bruno Carazza

Valor Econômico

Decisões políticas refletem as resistências a um país melhor

Poucos dominaram tão bem a arte de tocar o coração das pessoas com uma escrita leve, mas de significado profundo, quanto o capixaba Rubem Braga. Prova disso é que suas crônicas - gênero efêmero por natureza - reverberaram por gerações.

Das historinhas da coleção Para Gostar de Ler, onde muitos que têm mais ou menos a minha idade se iniciaram nos livros, até textos que há algum tempo faziam muito sucesso circulando em correntes de e-mail, suas colunas publicadas nos jornais e revistas de décadas atrás continuam emocionando e levando a reflexões - embora eu suspeite que, ainda que curtas e objetivas, suas crônicas não caibam mais nos poucos segundos dos TikToks e reels.

De árbitro a jogador - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Se querem uma Suprema Corte menos ativa, que se redefinam seus poderes

Desde os eventos antidemocráticos de 8 de Janeiro, muitos têm argumentado que o STF tem atuado de forma consistente com o Executivo, especialmente diante de um Legislativo não tão cooperativo com o presidente. Alguns, inclusive, especularam apressadamente que se tratava de um novo tipo de “coalizão” do governo Lula com o STF em busca de governabilidade.

Mas a decisão do ministro Flávio Dino de impor novas restrições para que a execução das várias modalidades de emendas dos parlamentares seja retomada, referendada por unanimidade pelos demais ministros do STF, parece ter jogado por terra essa suposta coalizão.

Tarifa Brics: o tiro que pode sair pela culatra - Robson Cardoch Valdez*

Correio Braziliense

O acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia parece ter se tornado uma aposta ainda mais relevante para os dois blocos diante da crescente fragmentação do comércio internacional

O aumento de 100% nas tarifas sobre produtos dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia), conforme ameaça feita pelo presidente eleito Donald Trump na rede social Truth Social, teria impactos significativamente indesejáveis na economia norte-americana, afetando consumidores e setores econômicos importantes dos Estados Unidos. Ainda que essa medida possa incentivar a produção doméstica e a redução do deficit comercial no curto prazo, no médio prazo, porém, poderíamos testemunhar aumento dos preços de itens essenciais, como eletrônicos, alimentos e energia, pressionando a inflação e o custo de vida, enquanto cadeias produtivas sofreriam com elevação dos custos de produção em setores-chave. Adicionalmente, esse "tarifaço" poderia enfraquecer a posição geopolítica e comercial dos EUA, criar tensões e até mesmo acelerar, em vez  de arrefecer, a cooperação entre os países do Brics .

Esperançar para superar os desafios presentes - Rozana Reigota Naves*

Correio Braziliense

Concebemos a universidade como o lugar privilegiado do debate e da crítica para a construção de sujeitos protagonistas da própria transformação

"Enquanto houver batalhas, haverá esperança", assim se pronunciou Dom Quixote, personagem de Miguel de Cervantes, cavaleiro errante que acreditava na luta pelo que considerava justo e nobre. Esperançar, assim tornada verbo, remete à pedagogia de Paulo Freire, o grande educador brasileiro para quem a esperança constitui necessidade ontológica, prática que fundamenta a luta histórica e contínua para melhorar o mundo.

Esse é o sentimento que toma conta de mim e da comunidade da Universidade de Brasília (UnB) desde o dia 21 de novembro último, quando ocorreu a cerimônia de transmissão do cargo de reitora, e, em particular, a partir da noite de 22 de novembro, com a nossa nomeação pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

A invenção do 'fato isolado recorrente' - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Isolados são os casos de punição de agentes de segurança que se excedem

Que brasileiro é criativo todo mundo sabe. Em geral, somos mestres em jogo de cintura. Afinal, para a maior parcela da população, sempre foi preciso "rebolar para sobreviver". Ainda assim, nenhuma pessoa de bom senso estava preparada para recepcionar, sem espanto, a invenção do "fato isolado recorrente".

A novidade, tão inusitada quanto fantasiosa, é fruto da criatividade de políticos e autoridades governamentais que têm coragem e cara de pau de dizer que os reiterados episódios de violência policial registrados no país constituem "fato isolado".

Predição é muito difícil - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Dante pôs no Oitavo Círculo do Inferno Adivinhos, Sedutores, Aduladores, Corruptos, Ladrões do sagrado, Maus conselheiros, Semeadores da discórdia

Dante, em "A Divina Comédia", colocou os adivinhadores no Oitavo Círculo do Inferno, com a cabeça torcida, voltada para as costas, com as lágrimas molhando as nádegas, de maneira que não conseguem olhar para a frente. Essa é a punição por alegarem saber o futuro que estaria ao alcance apenas de Deus.

"Predição é muito difícil. Especialmente se for sobre o futuro", a frase é de um dos criadores da física quântica, Niels Bohr. Estimar um modelo com base em um conjunto de dados/variáveis do passado é uma coisa. É como prever o presente. Mas prever resultados futuros ("out of sample") é muito mais complexo, exigindo supostos sobre o papel de fatores ainda desconhecidos. Muitas previsões são muito complexas; outras simplesmente impossíveis.

São Paulo não quer Guilherme Derrite - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Show de horror de violência policial tem nome e sobrenome

O show de horror de violência policial em São Paulo tem nome e sobrenome: Guilherme Derrite. Alvo de um pedido de impeachment na Alesp, com apenas 40 anos, o atual secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo tem um longo currículo funesto.

De acordo com reportagem publicada na revista Piauí, como membro do 14º Batalhão da Polícia Militar (PM) entre 2006 e 2009, Derrite teria participado de um grupo de extermínio em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo, chamado "Eu sou a morte".

Sim, ainda vou ao banco - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Entre outras coisas, a fim de tirar dinheiro para pagar a bic no camelô ou o mate na praia

Queixei-me outro dia ["Conheça a desextinção", 4/11] dos bancários que atendem com impaciência aos clientes, como se estes fossem obrigados a dominar o complexo de senhas, tokens e códigos hoje exigidos pelos bancos para as mais reles operações. Se a dificuldade do cliente referir-se à máquina que não reconhece o seu dedo —embora seja o mesmo dedo que você imprimiu ontem num apetrecho do próprio banco e na presença de um funcionário—, o diagnóstico na cara do bancário é o de que você já está extinto e não demorará a ser recolhido. Não ocorre a ele que é o próximo na linha de extinção e só terá emprego enquanto você existir.

Poesia | Conselho, de Fernando Pessoa

 

Música | Teresa Cristina - Filosofia (Noel Rosa)

 

domingo, 8 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Toffoli foi sensato em voto sobre Marco Civil

O Globo

Ministro criou regra razoável ao declarar inconstitucional o artigo 19 e impor dever de cuidado às plataformas digitais

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi certeiro na essência de seu voto sobre o Marco Civil da Internet. Declarou inconstitucional o artigo 19, que assegura às plataformas digitais imunidade por danos causados pelo conteúdo que veiculam até o momento em que a Justiça decida o contrário. Só que o Judiciário é lento demais. A maioria fica indefesa. Muitos não contam com recursos para contratar advogado. Mesmo os que têm condições dependem da Justiça morosa. Quando a decisão é tomada e enviada às plataformas, o dano se tornou irreversível. A postagem é retirada, mas o criminoso já atingiu seu objetivo.

O que é urgente na agenda do Brasil - Míriam Leitão

O Globo

O país não se prepara para o futuro ao deixar 10,3 milhões de jovens sem trabalho nem estudo. Destes, quase metade são mulheres negras

Com 10,3 milhões de jovens se faz um país. Um país do tamanho de Portugal. É isso que o Brasil tem de brasileiros entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham. Esse número era maior. Havia um Uruguai a mais de jovens nessa situação em 2020. Os indicadores sociais melhoraram em 2023, no primeiro ano do governo Lula. Ainda assim certos números são dolorosos. Com 10,3 milhões não se preparando para o futuro se perde um país. Essa é “a medida mais rigorosa de vulnerabilidade juvenil”, diz o IBGE. Em 2020, 13,8 milhões não estudavam nem trabalhavam. Temos melhorado, mas ainda falta muito a fazer.

Lá como cá - Merval Pereira

O Globo

Aqui no Brasil, temos tido diversos problemas em torno da ética entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e a questão central é a mesma: os componentes da mais alta Corte judiciária não admitem serem fiscalizados, e se unem corporativamente quando são criticados

Não é apenas no Brasil que a Corte Suprema de Justiça, aqui denominada Supremo Tribunal Federal (STF), está envolvida em disputas de poder e perde a credibilidade sempre que assume posições identificadas como políticas pela opinião pública. A Suprema Corte dos Estados Unidos, depois de diversos escândalos de ministros flagrados recebendo presentes ou remuneração indireta de milionários amigos, teve que divulgar um novo código de ética de condutas para seus “justices”, como são chamados os ministros.

Por trás do aparente consenso entre eles, há uma disputa acirrada entre os juízes liberais e a maioria conservadora, que acredita que as regras enfraquecem a Suprema Corte diante da opinião pública, e que a intenção dos que as defendem é meramente política, ainda mais agora que Donald Trump retorna ao poder com uma composição majoritariamente conservadora na Suprema Corte.

O 'mercado' falou e traiu-se - Elio Gaspari

O Globo

Pensamento reacionário sustenta que os avanços sociais prejudicam aqueles que pretendem beneficiar

Uma pesquisa da Genial/Quaest ouviu 102 operadores do mercado financeiro do Rio e de São Paulo para aferir o que eles pensam a respeito do governo. Resultou um prenúncio do fim do mundo: 98 acreditam que a economia vai piorar, 90 não confiam no governo e 85 acham que a isenção do imposto de renda para quem ganha até cinco salários mínimos é prejudicial.

Esse resultado tem cara e coroa. Num lado, mostra o que pensa o “mercado”, no outro, como pensa esse mesmo “mercado”. (Paul Volcker, o gigante que dirigiu o Banco Central americano, colocava a palavra entre aspas porque não sabia o que era esse ectoplasma.)

A divulgação dessa pesquisa coincidiu com novos dados sobre a situação de Pindorama. Com números de 2023, o IBGE informou que a pobreza extrema caiu de 31,6% para 27,4%. Em números absolutos os pobres eram 67,7 milhões e ficaram em 59 milhões.

O “mercado” acha que a isenção da cobrança de Imposto de Renda para o andar de baixo prejudica a economia. Ecoa um velho trabalho do professor Albert Hirschman (1915-2012) no qual ele mostrou como o pensamento reacionário sustenta que os avanços sociais prejudicam aqueles que pretendem beneficiar.