sexta-feira, 25 de julho de 2025

Opinião do dia – Karl Marx*

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar e nessa linguagem emprestada.”

*Karl Marx (1818-1883), O 18 Brumário de Luiz Bonaparte, p.7, v. ll Os Pensadores – Marx. Nova Cultura, 1988.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso acerta ao conter radicalismo de bolsonaristas

O Globo

Lideranças rechaçam tentativas de pautar pacote de medidas anti-STF e contrário ao interesse nacional

Até o momento, a cúpula do Congresso e líderes do Centrão têm agido com sensatez ao conter os arroubos radicais em resposta às restrições impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao ex-presidente Jair Bolsonaro. É essencial que mantenham tal posição. Políticos ligados ao ex-mandatário aproveitam o ambiente conturbado para tentar emplacar uma série de pautas descabidas.

Uma delas, que faz parte do chamado pacote anti-STF, é a que muda a Lei do Impeachment para ministros da Corte, ampliando as hipóteses de crime de responsabilidade. Outra impõe prazos e novos critérios para tramitação dos pedidos de afastamento, de modo a evitar que fiquem engavetados. A pauta, que sempre vem à tona em momentos de crise entre os Poderes, tem potencial para dinamitar as relações entre Legislativo e Judiciário. Outra proposta desconexa é a que prevê anistia aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro.

Os bajuladores que parasitam as altas estruturas do poder no Brasil - José de Souza Martins

Valor Econômico

‘Quem fica oito anos no Senado sem nunca ter posto a mão da maçaneta de uma porta para abri-la, nunca mais quer sair daqui’, dizia Mário Covas

Era de Mário Covas, que fora senador e foi governador de São Paulo, a frase: “Quem fica oito anos no Senado sem nunca ter posto a mão na maçaneta de uma porta para abri-la, nunca mais quer sair daqui”. Referia-se ele aos muitos bajuladores que parasitam as altas estruturas do poder no Brasil.

Covas era sintético e objetivo, conseguia expressar em poucas palavras, em frases simples e diretas, uma realidade política complexa, retrógrada e, de certo modo, antirrepublicana. Nelas conseguia dizer o que o Brasil era justamente por não conseguir ser o que deveria e poderia. Esse Brasil sempre no meio do caminho de uma estrada que nos desencaminhava apesar das valorosas caminhadas do povo brasileiro em direção ao destino de país do futuro, como o definiu Stefan Zweig.

A disputa política é nas redes e nas ruas - Andrea Jubé

Valor Econômico

Lula se desdobra para chegar mais competitivo até o fim do ano

Num momento em que a esquerda revelou uma, até então, inédita capacidade de reação nas redes, com os motes do tarifaço de Donald Trump e do “BBB” - mais impostos para “big techs”, bilionários e “bets” -, cresceu a pressão de aliados para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedique mais aos seus perfis digitais. Lula resiste, e mostrou ontem que não renuncia ao velho estilo de política de palanque, de microfone na mão e contato direto com o povo.

A coluna “Pergunte aos Dados”, deste Valor, trouxe na terça-feira uma amostra do bom desempenho da esquerda nas plataformas nos dez primeiros dias da crise provocada pela tarifa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros, ao argumento de que o ex-presidente Jair Bolsonaro seria alvo de uma “caça às bruxas”.

As pressões dos EUA por acesso preferencial a minerais brasileiros - Assis Moreira

Valor Econômico

Governo Trump tem mais margem de manobra agora, mas os europeus já garantiram acesso melhor

Os EUA nos últimos governos sempre tem tentado garantir o acesso sem restrições e de preferência somente para eles a minerais críticos brasileiros. São minerais essenciais para muitas tecnologias modernas e para a segurança nacional e econômica.

O apetite dos EUA por minerais estratégicos do Brasil já foi manifestado no primeiro mandato de Donald Trump (janeiro 2017-janeiro 2021), mas negociações não prosperaram. A demanda continuou no governo do democrata Joe Biden, sem resultado.

A ameaça de sanção agora por Trump envolvendo tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode acelerar negociação mais concreta nessa área sensível, a margem de manobra de Washington é bem maior, mas a exclusividade exigida pelos EUA parece não ter como ser obtida.

O homem é bom – José Sarney*

Correio Braziliense

O lado bom da humanidade está nos pequenos gestos, nos desinteressados afetos e carinhos puros dos namorados, dos casais e dos heróis que dão a vida pelos outros, nas missões de caridade espalhadas pelo mundo

Não é falta de assunto. O Brasil está vivendo uma tempestade de crises. E a humanidade está se agredindo com a demonstração de uma violência devastadora que nos fere a alma no testemunho do que acontece em Gaza, na Ucrânia, na Líbia e em outros conflitos menores, além do terrorismo desumano que espreita em qualquer lugar, fazendo vítimas no mundo inteiro.

Mas não é disso que vou tratar: é justamente do lado bom da humanidade, que está nos pequenos gestos, nos desinteressados afetos e carinhos puros dos namorados, dos casais e dos heróis que dão a vida pelos outros, nas missões de caridade espalhadas pelo mundo inteiro, salvando a vida de mães, pais, filhos e órfãos.

Moraes alivia pressão sobre Bolsonaro, mas a corda continua esticada – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

"Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma 'irregularidade isolada', advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata"

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu não converter em prisão preventiva as medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro. Apesar de reconhecer que houve descumprimento das restrições, o magistrado classificou o gesto e as declarações do ex-presidente uma "irregularidade isolada", advertindo, porém, que qualquer nova infração resultará em prisão imediata. A decisão alivia a tensão entre Bolsonaro e o Judiciário, mas o ambiente político permanece carregado, especialmente diante do impasse diplomático entre o Brasil e os Estados Unidos por causa do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, que está a sete dias de entrar em vigor.

Ao ter trechos de seu discurso na Câmara dos Deputados divulgados on-line, Bolsonaro burlou, ainda que indiretamente, a decisão de Moraes de proibir o uso das redes sociais. O ministro ressaltou que "a Justiça é cega, mas não é tola" e proibiu explicitamente o uso de entrevistas ou discursos como "material pré-fabricado" para postagens de aliados. Todas as cautelares estão mantidas: tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana, restrição de contato com outros investigados, proibição de se aproximar de embaixadas e de manter comunicação com diplomatas estrangeiros.

Irregularidade isolada - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump deu uma boia para Lula, Alexandre de Moraes deu para Jair Bolsonaro. E depois recuou

Alexandre de Moraes está sendo para Jair Bolsonaro o que Donald Trump foi para Lula, pelo menos no primeiro momento da guerra do tarifaço de 50%: uma boia de salvação, ou a chance de ouro para sair do fundo do poço, ganhar apoio, visibilidade, propaganda e o discurso da união.

Quanto mais o relator da trama do golpe endurece contra o réu, mais o réu se passa por vítima e até chora, de olho no Congresso e nas próximas pesquisas de opinião. Nas últimas, ele foi o que mais caiu, enquanto Lula foi o que mais ganhou pontos após as investidas de Trump e já até articula reação em todos os continentes – ainda mais com os EUA de olho grande nos minerais críticos do Brasil.

O tarifaço e o andar da economia - Celso Ming

O Estado de S. Paulo 

Como investimentos e acertos nos negócios têm de ser feitos a partir de certas apostas, a hora é de perguntar como fica a economia, levando-se em conta que as ameaças do tarifaço de 50% devem se cumprir.

A primeira consequência será o impacto sobre o crescimento econômico. Antes do anúncio do tarifaço, as projeções eram de um avanço do PIB do Brasil de 2,2%. As exportações para os Estados Unidos giram em torno dos 2% do PIB. Como começam apenas em agosto, as perdas para este ano não devem ser superiores a 0,5 ponto porcentual, já levando-se em conta que a maioria dos exportadores prejudicados terá diversificado seus fornecimentos para outros países ou para o mercado interno. O PIB mundial também pode ser beneficiado com o acerto comercial dos Estados Unidos com o Japão e, possivelmente, com a União Europeia. Ou seja, parte das enormes incertezas globais que pairam sobre a economia pode ser dissipada. Isso significa que será preciso revisar as projeções do PIB para alguma coisa abaixo dos 2% neste ano.

A Riviera de Netanyahu - Bernardo Mello Franco

O Globo

Enquanto palestinos passam fome, integrantes do governo de Israel fazem planos para anexar enclave, expulsar população local e faturar com turismo e consumo de luxo

Muhammad Zakariya Ayyoub al-Matouq tem um ano e meio e pesa apenas seis quilos. É uma das centenas de milhares de crianças que sofrem de desnutrição em Gaza. Em pele e osso, o menino foi fotografado no colo da mãe num campo de refugiados. O retrato correu o mundo como novo símbolo da fome no enclave controlado por Israel.

Na quarta-feira, 115 organizações de ajuda humanitária divulgaram um apelo por socorro. O texto descreve um cenário de “caos, fome e morte” e pede o fim dos bloqueios militares que restringem a entrada de águia, comida e medicamentos. “Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas de alimentos”, afirma.

Questionado sobre o documento, o gabinete de Benjamin Netanyahu voltou a se eximir de responsabilidade. “Hoje não existe fome causada por Israel em Gaza”, declarou o porta-voz David Mencer.

Janela de negociação – Flávia Oliveira

O Globo

No palanque, Lula rechaça cobiça: 'Este país é do povo brasileiro'

A uma semana do prazo de aplicação, por Donald Trump, de inéditas sanções comerciais ao Brasil, os Estados Unidos sinalizaram com uma hipótese de negociação. Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada em Brasília, representação sem titular desde o início de 2025, manifestou a representantes do setor privado o interesse do governo americano nos minerais críticos e estratégicos. O Brasil, junto com a China, tem as maiores reservas globais das chamadas terras-raras, insumos essenciais para tecnologia de ponta e transição energética. Muito dessa riqueza jaz em territórios indígenas.

O representante dos Estados Unidos deu o recado a Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa, hoje presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em reunião convocada pelo próprio Escobar. Foi a segunda referência ao tema com o mesmo interlocutor, num intervalo de três meses. Jungmann teria informado que propriedade e gestão dos recursos minerais no Brasil são atribuição da União, mas levou o pleito ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, encarregado das negociações com os Estados Unidos. De um palanque em Minas Gerais, o presidente Lula rechaçou a cobiça:

— Nós temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro.

Como é fácil desmontar um país - Ruth de Aquino

O Globo

É didático e assustador acompanhar a destruição dos valores democráticos nos EUA de Donald Trump

O tarifaço de Trump é apenas a ponta internacional do iceberg. As taxas são chantagens comerciais e políticas, ao Brasil e outros. Mas a tragédia, hoje, dentro dos EUA, é o fracasso da democracia americana, nas mãos de um tirano eleito legitimamente.

Muitos fatores levam alguém a escolher um presidente. Quem votou em Trump levou em conta que tipo de pessoa ele é? O que acontece ao longo de um mandato presidencial é, muitas vezes, imprevisível. Tem bastante a ver com a personalidade do político. Essa é a visão de um ex-juiz da Suprema Corte britânica, Jonathan Sumption.

“Mesmo que eu fosse americano e concordasse inteiramente com as políticas de Trump, não votaria nele. Porque é desonesto, narcisista, ignorante e inexperiente. Suas tendências autocráticas eram óbvias na campanha. Essa escolha dos eleitores pode levar ao fracasso da democracia americana”.

Centrão deixa PL isolado - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Veto ao uso da Câmara como palanque de ex-presidente é claro sinal de isolamento dos bolsonaristas

Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado deixaram os bolsonaristas falando sozinhos quando decidiram vetar o uso das dependências do Congresso como palanque de retaliação ao Supremo Tribunal Federal e defesa de Jair Bolsonaro.

A rigor, a alegação formal de que o recesso impediria o funcionamento da Casa é questionável. Oficialmente, o período de férias só começa depois da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, e isso não aconteceu.

Moraes não é tolo, evita embate e dá recado político - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Resposta do ministro à defesa do ex-presidente foi sobretudo política ao evitar esticar a corda e deixar entendido o que espera

Alexandre de Moraes tornou-se figura central na cena política brasileira –e tem incomodado poderosos dentro e fora do país. Sua tenacidade no combate ao golpismo e às ciladas da extrema direita para corroer o Estado de Direito, por meio de redes sociais e outros estratagemas, merecem o aplauso dos democratas que não vivem no mundo da lua.

São conhecidos os motivos que têm levado ao ativismo do Legislativo. Não se resumem a casos específicos como foi a flagrante omissão da PGR no governo Bolsonaro. Dizem respeito a uma nova configuração do mundo pós-moderno, na qual a revolução tecnológica, a crise das promessas liberais o desequilíbrio da economia de mercado convivem com a ascensão internacional de um tipo de ultradireita nacionalista e extremada que usa os espaços da democracia para miná-la.

Dignidade não se negocia - Roberto Amaral*

“Vamos recuperar nosso quintal.”
— Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA,
em discurso no US Army War College (23/04/2025)


A agressão dos EUA ao Brasil, interrompendo uma negociação que apenas se iniciava — por iniciativa nossa, aliás —, vem sendo recebida pelo que ela é: intempestiva e isenta de qualquer sorte de causalidade. Em síntese, essencialmente ilegítima, como toda intervenção estrangeira na ordem política de um país independente. Seu caráter é ostensivamente político (a aparência econômica do tarifaço é apenas um disfarce) e se apresenta como insólita punição a um país soberano.

O Brasil é acusado de, nos rigorosos termos de sua Constituição, estar, por intermédio do poder competente, julgando os crimes de uma quadrilha de delinquentes (civis e militares) que, valendo-se inclusive do aparelho público, intentou um golpe de Estado contra o sistema representativo. Vitorioso, o assalto da extrema-direita frustraria a manifestação eleitoral da soberania popular, feriria de morte a democracia há tanto custo humano posta de pé e embarcaria o país no desvão de uma ditadura neofascista. A partir daí... o inferno seria o limite.

Poesia | Laços - Marcelo Mário de Melo

Laço de pegar o boi

laço de vestido novo

laço de enfeitar cabelo

laço de enganar o povo.

 

Laço de amor nascendo

laço que mais nada inova

laço que se está testando

laço que passou na prova.

 

Laço de trilha comum

laço de festa e de dança

laço de fel e desdita

laço nó cego na trança.

Música | Maria Bethânia, Zeca Pagodinho - Sonho Meu

quinta-feira, 24 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Liberação de gasto expõe incúria fiscal do governo

O Globo

Decisão de descongelar R$ 20,7 bilhões ignora trajetória alarmante do endividamento público

A decisão do governo de liberar o gasto de R$ 20,7 bilhões que estavam congelados é uma chance perdida — mais uma — de buscar o equilíbrio das contas públicas. Com a medida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprova não dar a devida atenção à gravidade da situação fiscal.

De normal, o endividamento brasileiro nada tem. Mantido o rumo atual, a dívida bruta deverá crescer 10 pontos percentuais no atual mandato e chegar, pelos cálculos oficiais, a 82% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, bem acima da média dos países emergentes (65%). Preocupado em se reeleger, o presidente prioriza o curto prazo, com mais dinheiro sendo usado para manter a economia aquecida. Mas não é tão difícil entender por que tal situação é insustentável e desastrosa. Uma hora a conta do endividamento descontrolado chega, com investimentos inibidos e queda na criação de postos de trabalho de qualidade.

Receio militar - Merval Pereira

O Globo

A tecnologia americana é fundamental para o Brasil. Diversos sistemas estratégicos como radares, comunicação criptografada, aviões de caça, embarcações e até munições dependem do suporte técnico dos Estados Unidos.

A crise desencadeada pela batalha tarifária iniciada pelo presidente Donald Trump contra o mundo — atingindo o Brasil com intensidade política que até agora só teve igual com a ameaça à Rússia para terminar a guerra contra a Ucrânia — está reverberando no meio militar. Há o temor de que as sanções venham a atingir os projetos militares em andamento, que, em grande parte, são dependentes de tecnologia e equipamentos americanos.

Além disso, há quem veja as sanções pessoais aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como uma possibilidade de envolver os próprios ministros militares, e o ministro da Defesa, José Mucio, nomeados por Lula. Ao mesmo tempo, ainda há resquícios de bolsonarismo nas Forças Armadas, que atribuem à inclinação à esquerda da nossa política externa, especialmente à aproximação com a China, o gatilho para a dose política da atitude de Trump.

O Supremo e a armadilha de Trump - Malu Gaspar

O Globo

Quando Eduardo Bolsonaro (PL-SP) começou a bradar por sanções financeiras dos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes e os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), os ministros reagiram com ironia. “Qualquer coisa, é só ir para Nova York. Só que a do Maranhão”, disse Flávio Dino.

Naquele momento, as falas do filho Zero Três de Jair Bolsonaro pareciam bravatas megalômanas. Vieram o tarifaço de Donald Trump, a colocação da tornozeleira no ex-presidente e a revogação dos vistos de Moraes, de outros sete ministros do Supremo e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e a atitude dos magistrados continuou a mesma.

“Sempre teremos Paris”, disse um deles. “O Mickey precisará superar a minha ausência”, caçoou outro.

O tom de “não estou nem aí” só começou a mudar nos últimos dias, depois que Moraes proibiu Bolsonaro de dar entrevistas e esteve perto de mandar prender o ex-presidente por suas falas de protesto ao exibir a tornozeleira eletrônica no Congresso Nacional.

O veto total ou a bagunça ambiental - Míriam Leitão

O Globo

Quem entende do assunto recomenda o veto total do PL do licenciamento. O parcial levaria a uma legislação cheia de buracos e lacunas

No dia 8 de agosto termina o prazo para o presidente Lula decidir o que fazer com o PL que desmonta o licenciamento ambiental no país. Tasso Azevedo, fundador do Serviço Florestal Brasileiro e coordenador do MapBiomas, diz que não dá para vetar parcialmente, ele tem que ser integralmente vetado. “O veto parcial deixará buracos, lacunas”, diz. O veto total poderá ser derrubado pelo Congresso. Nesse caso, tudo terminaria na Justiça, porque o projeto é inconstitucional e conflita com decisões anteriores do Judiciário.

O PL do Licenciamento é mais conhecido como PL da Devastação. E é o nome próprio. Afinal, ele contém tantos absurdos que se entrar em vigor será o desmonte de toda a proteção ambiental que o Brasil construiu por décadas. Uma solução no meio do caminho, o veto parcial, levaria a mais confusão. Como o PL substitui legislação anterior, um veto em alguns pontos produziria uma colcha de retalhos, inconsistente e contraditória.

Brasil aposta no multilateralismo contra as “tarifas arbitrárias”de Trump - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Soberania não é moeda de troca. Proteger a democracia brasileira passa por desarmar, com diplomacia e articulação internacional, as bombas-relógio lançadas por Trump

Menos alegoria de mão e mais samba no pé. É isso que o Brasil precisa fazer para enfrentar a crise diplomática e comercial com os Estados Unidos. O Ministério das Relações Exteriores (MRE), sob o comando do chanceler Mauro Vieira, acerta ao apostar no multilateralismo como linha de resistência às tarifas arbitrárias impostas por Donald Trump. Não será suficiente para conter a pressão de Washington e proteger a soberania nacional, mas é importante externamente, porque mobiliza uma ampla coalizão de países prejudicados pelo tarifaço. E internamente, porque em torno de uma saída diplomática, em vez da escalada do confronto, há amplo consenso político nacional.

Às vésperas do embargo, Alckmin baixa o volume - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Vice-presidente dá entrada em vigor das tarifas como inevitável e vê concessões pontuais dos EUA num embate que ainda pode escalar

Dependendo do interlocutor, o vice-presidente não faz rodeios. É de embargo que se trata. É assim que Geraldo Alckmin se refere ao tarifaço. Contando apenas as audiências oficiais, foram 16 encontros com representantes de vários setores. Somados aos dos fins de semana, todos em Brasília, o número dobra. Ninguém sai de lá indiferente ao clima de constrita preocupação que prevalece naquele gabinete. Pudera. Cada um que lá entra apresenta uma fatura maior de demissões e prejuízos.

A uma semana do prazo estipulado, o principal negociador brasileiro trabalha com a perspectiva de que o tarifaço anunciado entrará em vigor. No limite, Donald Trump pode flexibilizar para um ou outro setor, que faça valer seu poder de barganha, mas a tarifa básica de 50% será, sim, aplicada.

Eu posso, eu prendo e arrebento - José Serra

O Estado de S. Paulo

O mundo mudou e Trump vai decretando um fim melancólico da posição americana como centro hegemônico da economia mundial

Temos de admitir que Donald Trump tem uma capacidade de mobilização sem par na história recente. Infelizmente, seus atos colocam em movimento uma dinâmica econômica e social perversa para o mundo, para o Brasil e para os Estados Unidos da América.

Os últimos dias, no entanto, mostraram que ele consegue sempre fazer mais. O tarifaço que está na boca do povo logrou o inimaginável: resgatou o governo Lula de suas piores avaliações, colocou o governador Tarcísio no fio da navalha e transformou o autoproclamado maior patriota em traidor da Pátria. Isso para não lembrar a opera buffa da tentativa de recuperar o passaporte para o ex-presidente ir falar com Trump.

Ignorando por um momento os episódios mais surrealistas, quero me concentrar na impressionante eficácia com que o governo Trump tem desmantelado pilares do mundo civilizado – um mundo que, até pouco tempo, eu considerava bem mais robusto do que agora aparenta ser. Ironias do sistema: ninguém esperava que o agente corrosivo do capitalismo emergisse justamente de suas entranhas. Três aspectos, em particular, simbolizam com clareza essa derrocada.

O ‘fascio’ do Tio Sam - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Não, isso não é democracia. Isso é convulsão institucional prestes a se assumir como ditadura escancarada

Agora, quem usa a palavra “fascismo” para se referir ao governo de Donald Trump é Robert B. Reich, um intelectual sem nenhum histórico de surtos esquerdistas. Longe disso, Reich tem uma trajetória de ponderada coerência. Advogado, foi secretário do Trabalho (cargo equivalente ao de ministro no Brasil) durante o governo de Bill Clinton, de 1993 a 1997. Era cordial e atencioso no trato com jornalistas – brasileiros, inclusive. Reich foi também professor de Políticas Públicas em Berkeley. Hoje, aposentado, segue em destaque como autor de livros, alguns deles best-sellers e como articulista frequente em jornais e revistas como The New York Times, The New Yorker, The Washington Post, The Wall Street Journal, e The Atlantic. Sua voz não costuma ceder a radicalismos e destemperos.

Escolha sendo feita - William Waack

O Estado de S. Paulo

Representantes de setores da economia que já tiveram conversas nos Estados Unidos em torno do tarifaço têm feito relatos coincidentes. Os americanos não conseguem dizer exatamente até onde querem chegar. E a China é a formidável sombra pairando sobre a crise.

Até onde já se chegou é um bom exemplo da falta de senso estratégico por parte de Donald Trump. Seu ataque a instituições brasileiras equivale a propor “regime change”. Trazendo até aqui benefícios políticos ao incumbente Lula, além de rachar e isolar setores da oposição ao governo brasileiro.

A espada de Trump sobre o Brasil - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O dia 1º de agosto (mês do desgosto) está logo aí e, até lá, não há muito o que fazer para enfrentar a barbaridade do tarifaço do presidente Donald Trump.

Não há abertura para negociação comercial, até porque a questão de fundo não é comercial, é política. Nem mesmo a primeira carta do presidente Lula, enviada por ocasião do anúncio do tarifaço anterior, de 10%, mereceu resposta. Quem recebeu uma carta especial de Trump, com apoio e tudo mais, foi o ex-presidente Bolsonaro. A revogação dos vistos dos ministros do STF é outra demonstração de que o Brasil está sendo castigado para livrar a cara de Bolsonaro. Há outras alegações para a pancada, todas políticas: de que o presidente Lula vem provocando o império com acenos ao inimigo Irã, ou que está empurrando os países membros do Brics a escantear o dólar como moeda para liquidação de contas entre eles.

Boicote quem lucra com genocídio em Gaza - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Prefeituras e governos estaduais no Brasil devem imediatamente suspender a compra de armamentos de Israel

O genocídio israelense em Gaza continua porque é lucrativo. A princípio, a afirmação pode soar contraintuitiva: como pode ser lucrativo explodir 120 civis atacando escolas usadas como abrigos, ou matar 93 palestinos em centros de ajuda humanitária, ou usar a fome como tática de guerra, como Israel fez na última segunda-feira (21) ao atacar armazéns da OMS (Organização Mundial da Saúde)? Genocídio palestino é lucrativo, porque a economia israelense —em particular os setores militar, tecnológico, financeiro e fundiário— está atrelada umbilicalmente à máquina de moer carne palestina.

Trump pode desafiar o 'TACO' com o Brasil - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Para rebater a piada de que 'sempre volta atrás', presidente pode usar o nosso país como exemplo

A ênfase dada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ao revelar que o governo já trabalha com um plano de contingência para socorrer empresas que venham a ter prejuízos com a confirmação da sobretaxa de 50% de Donald Trump é o sinal mais contundente de que Lula vê como baixíssima, para não dizer remota, a chance de negociação de um acordo até o dia 1º de agosto.

Uma tentativa de mostrar que medidas estão sendo preparadas na hora em que o pior cenário chegar, indicando à população que o governo não está de braços cruzados em contraponto ao desfecho previsível. Sem avanços nas conversas, faz uma sutil, mas importante, virada de discurso após a fase inicial da crise de reforçar o patrocínio da família Bolsonaro na ameaça de Trump.

Soberania para quê? Supremacia para quem? - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Não se superestime sua abrangência, nem se subestime sua importância

Veio a tornozeleira. A prisão preventiva ficou para depois, mas as práticas de coação e obstrução bolsonaristas continuam.

A semana que passou teve não só eventos de grande importância jurídica e política. Houve episódios de valor didático não ordinários. Daquelas semanas que contam para o resto de nossa vida democrática.

Alexandre de Moraes, em medida cautelar, detalhou a atuação da família Bolsonaro na barganha da anistia e ordenou adoção de tornozeleira e medidas restritivas sobre Jair. Deputados aliados o receberam no Congresso, ouviram lamentos, gritaram por anistia, pressionaram por interromper o recesso e encaminhar votação.

Eduardo Bolsonaro, cuja conspiração se financia por dinheiro da Câmara e do pai, tenta saídas para não perder o mandato, ou, na pior hipótese, não se tornar inelegível. Os mesmos deputados buscam mudar regimento para lhe permitir morar no exterior com salário. Até governadores de SP, SC e MG têm sido sondados para empregar Eduardo no governo estadual, como representante internacional.

Na democracia, 2 e 2 são 5 - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A maioria dos brasileiros pensa que governo e oposição deveriam se unir em torno da defesa do país

A se confirmar em 1º de agosto, o tarifaço contra as exportações brasileiras, imposto por Donald Trump, terá efeito negativo, imediato e inevitável na economia do país. Ainda assim, seu simples anúncio engendrou uma oportunidade política única para fortalecer o governo e o jogo democrático —e colocou na berlinda a direita bolsonarista, cúmplice assumida do desastre anunciado— como, merecidamente, será julgada.

Resultados da pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quinta-feira 17/07, ajudam a dar nitidez aos desafios tanto para o governo quanto ao bolsonarismo.

Gratidão à moda de Bolsonaro - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

São Paulo deu milhões de votos a Bolsonaro, Tarcísio e Eduardo. Agora, eles estão lhe dando o troco

No dia 7 de outubro de 2018, 1,8 milhão de paulistas saíram de casa para eleger Eduardo Bolsonaro para a Câmara dos Deputados. Foi a maior votação para deputado federal na história. Pelos quatro anos seguintes, sua atuação por São Paulo em Brasília não deve ter agradado muito —os Bolsonaros tendem a cuidar mais de si do que de seus eleitores—, porque, em 2022, ele foi reeleito, mas seus votantes caíram para (ainda invejáveis) 741 mil.

Poesia | Ausência, de Vinicius de Moraes - por Júlia Sonati

 

Música | Mônica Salmaso | Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque)

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Proibir entrevista é indevido e inoportuno

O Globo

Para se defender de imensa pressão, Supremo não pode atropelar direitos fundamentais

Réu por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro é julgado em meio à indevida pressão de Donald Trump sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de tarifas sobre as exportações brasileiras e ameaças aos ministros da Corte. Desde o início das investigações, são notórias as tentativas de obstrução de Justiça perpetradas pelo ex-presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro nas plataformas digitais. Dado o histórico de desprezo pelas instituições democráticas, é alto o risco de fuga ou pedido de asilo. Ciente disso, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou na semana passada o uso de tornozeleira eletrônica e proibiu a aproximação do ex-presidente a postos diplomáticos. Também o impediu de usar redes sociais, “diretamente ou por intermédio de terceiros”.

As prévias dos Bolsonaros - Thiago Prado*

O Globo

Ex-presidente ainda custa a aceitar o governador Tarcísio de Freitas como o melhor candidato para enfrentar Lula

Na viagem que o pastor Silas Malafaia fez para Angra dos Reis com Jair Bolsonaro em março, quando posaram para fotos andando de lancha, o líder evangélico que o ex-presidente tanto escuta deixou o seguinte recado numa conversa privada: não achava seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, a melhor escolha para disputar o Planalto em 2026. Naquele mês, o parlamentar deixara o Brasil rumo aos Estados Unidos, e tirar sarro da viagem dele era o esporte preferido das rodas de conversa da direita à esquerda.

— Quem é Eduardo Bolsonaro para fazer o governo americano tomar decisões? — questionou o próprio Malafaia, em maio, quando começaram a crescer as especulações sobre uma possível sanção do governo americano a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na sexta-feira, depois do anúncio feito pelos Estados Unidos de que os vistos do ministro Alexandre de Moraes, “seus aliados e familiares imediatos” estavam sendo suspensos, Eduardo Bolsonaro lembrou, nas redes, as ocasiões em que sua capacidade de articulação no exterior foi ironizada. Postou as reportagens “Eduardo Bolsonaro vira chacota em jantar na casa de Moraes”, de Igor Gadelha, do Metrópoles; e “Ministros do STF fazem piada sobre quem terá visto para os EUA cancelado por Donald Trump”, de Mônica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo.

O espetáculo da tornozeleira - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ex-presidente exibiu aparelho para inflamar seguidores contra o Supremo

Na sexta-feira, Jair Bolsonaro acordou com a Polícia Federal na porta de casa. Ainda não era a hora da tranca. Os agentes tinham ordens para fazer buscas e liberá-lo após a instalação de uma tornozeleira eletrônica.

Cumprido o mandado judicial, o capitão passou a conceder uma série de entrevistas. Em todas elas, recusou pedidos para mostrar o aparelho recém-acoplado. “É humilhante, degradante. Eu tenho vergonha de falar que estou com uma tornozeleira”, justificou. 

O mistério do dólar de 9 de julho – Elio Gaspari

O Globo

O ministro Alexandre de Moraes atendeu ao pedido da Advocacia-Geral da União para que se investigue o que aconteceu com o dólar no dia 9 de julho passado. O caso tramitará sob segredo de Justiça.

Parte do que aconteceu, todo mundo sabe: o presidente Donald Trump anunciou, às 16h17, uma sobretaxa de 50% para as exportações brasileiras.

O que nem todo mundo sabia, e o Jornal Nacional mostrou, era que, às 13h30, alguém comprou entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões cotados a R$ 5,46. Poucos minutos depois do anúncio das sanções, esse alguém (ou alguéns) vendeu o ervanário comprado três horas antes, com dólar cotado a R$ 5,60. A 14 centavos para cada dólar comprado e vendido (diferença entre as duas cotações), alguém ganhou R$ 140 milhões para cada bilhão operado às 13h30m. Grande tacada, das maiores já vistas. Em tese, quem a armou poderia não ter desembolsado um só real. Pelos mecanismos existentes, um operador pode comprar dólares num dia para pagar só no dia seguinte.

‘Pela primeira vez conseguimos dialogar com parte do eleitor de Bolsonaro’, diz novo presidente do PT

Por Renata Agostini e Sérgio Roxo / O Globo

Edinho Silva afirma que que todas as lideranças da sigla terão de 'cumprir missões' nas eleições do ano que vem, o que inclui Haddad, que tem dito não querer se candidatar

Novo presidente do PT, Edinho Silva diz que o tarifaço anunciado por Donald Trump e a discussão sobre justiça tributária, colocada na rua após o Congresso derrubar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), fizeram com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguisse, pela primeira vez desde sua posse, conversar com parte do eleitor de Jair Bolsonaro. Em entrevista ao GLOBO, ele vê essa aproximação com o que chama de eleitor "conjuntural" do ex-presidente. "Não é o eleitor ideológico, convicto", avalia. Edinho, que tomará posse em agosto e dirigirá a legenda até 2029, afirma que todas as lideranças do PT terão de “cumprir missões” nas eleições do ano que vem, e isso inclui o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem dito não querer se candidatar. O novo presidente do PT ainda defende uma reforma política com a adoção do voto em lista para a Câmara, com os indicados escolhidos pelos partidos.