O esforço da equipe do presidente Jair Bolsonaro para mostrar a dirigentes de corporações internacionais reunidos no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que o governo está preparando o País para oferecer condições ainda melhores para o ingresso de investimentos estrangeiros pode contribuir para o Brasil recuperar posições no ranking dos grandes receptores de capital externo. No ano passado, o fluxo de investimentos diretos estrangeiros para o Brasil caiu 12% em relação a 2017, razão pela qual o País perdeu duas posições (caiu do 7.º para o 9.º lugar) na classificação dos principais destinos desses investimentos. O motivo apontado para a queda é o quadro político e econômico do País que prevaleceu no ano passado, marcado pelas incertezas geradas pelo processo eleitoral. Agora, o governo precisa, de fato, mostrar que tudo isso foi superado e que conseguirá fazer as reformas indispensáveis para assegurar o equilíbrio financeiro do setor público e a retomada do crescimento econômico.
A perda de posições pelo Brasil poderia ter sido mais acentuada se outros países também não tivessem registrado queda expressiva no fluxo de investimentos estrangeiros. O Monitor das Tendências Globais de Investimentos divulgado em Davos pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), na véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, mostrou que, no ano passado, os investimentos globais encolheram 19%, caindo para o total de US$ 1,18 trilhão. Esse nível é o mais baixo desde a eclosão da crise financeira mundial em 2008.
É notável a queda dos investimentos nos países ricos. No ano passado, esses investimentos foram 40% menores do que os de 2017 e seu volume foi o menor desde 2004. Os recursos destinados à Europa registraram queda sem precedentes de 73% de um ano para outro, do que resultou na entrada líquida de apenas US$ 100 bilhões, o menor volume desde os anos 1990. Mesmo mantendo a posição de principal receptor mundial de investimentos diretos estrangeiros, os Estados Unidos receberam no ano passado 18% menos desses recursos do que haviam recebido em 2017. Países como Suíça e Irlanda tiveram saída líquida de novos investimentos.
São vários os fatores que os responsáveis pelo estudo da Unctad apontam para queda tão expressiva no fluxo de investimentos estrangeiros para os países desenvolvidos. Um deles é a política antiglobalizante do governo do presidente americano, Donald Trump, que, por meio de incentivos fiscais, provocou o repatriamento de bilhões de dólares. Estima-se que essa política tenha estimulado o retorno de US$ 367 bilhões para os EUA.
Esse fato é descrito de maneira discreta no relatório da Unctad, que cita, entre os fatores políticos que afetaram o fluxo de investimentos estrangeiros no ano passado, o retorno de tendências protecionistas ao cenário internacional, bem como as incertezas que passaram a cobrir o futuro dos sistemas internacionais de comércio e de investimentos.
Fatores de natureza estritamente econômica também foram apontados pela Unctad, como o desempenho da economia global e a redução das taxas médias de retorno dos investimentos estrangeiros diretos, de 8,1% em 2012 para 6,7% em 2017. As quedas foram mais acentuadas nas aplicações feitas nos países industrializados, daí, provavelmente, a redução mais acentuada do fluxo para esses países. Também as mudanças nos modelos de negócios, cada vez mais dependentes do uso de tecnologias digitais, podem ter afetado esse fluxo.
No caso brasileiro, “a situação econômica desafiadora e as incertezas antes da eleição podem ter freado os investidores estrangeiros”, observou o comunicado da Unctad. Mas o cenário pode ser diferente em 2019. O fluxo para o País continua elevado, mas o potencial brasileiro para receber investimentos é “enorme”, diz o diretor da divisão de investimentos da Unctad, James Zhan, e, segundo ele, o governo está determinado a atrair investidores. É preciso que essa determinação seja confirmada por iniciativas consistentes.
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