Folha de S. Paulo
Governo reorganiza a 'base' sob o pantanoso
pilar da troca de cargos por apoio à reeleição de Lula
Critério do escambo não autoriza o presidente
a desqualificar o Congresso ou a olhar o centrão de cima
O governo começou a demitir bagrinhos para
estimular os tubarões a levarem seus cardumes à rede do Palácio do
Planalto.
É um jeito de falar sobre o expurgo nos
partidos infiéis sem chamar a coisa pelo nome. Não que o princípio esteja
errado: quem participa do bônus precisa arcar com o ônus.
O critério do fisiologismo sem filtro, porém, não credencia o presidente Lula (PT) a falar sobre o "baixo nível" do Congresso nem autoriza o partido dele a olhar de cima os adesistas do centrão.
Ao segundo ano e dez meses de vigência da
regra do toma lá, o governo decidiu cobrar a fatura do dá cá. Não por falta de
percepção de que antes não havia correspondência entre as vantagens recebidas
na forma de cargos na administração federal país afora e as entregas de votos
no Congresso.
A decisão de demitir os indicados pelos 251
deputados que votaram contra a medida provisória alternativa ao IOF parece
ter sido pautada muito mais pela conveniência da proximidade das eleições.
Tudo bem pesado e medido: chefões, como Davi
Alcolumbre (União-AP), Hugo Motta (Republicanos-PB)
e Arthur Lira (PP-AL) tiveram seus
melhores postos preservados, a despeito de seus partidos terem dado,
respectivamente, 46, 29 e 40 votos pela retirada de pauta da MP.
Os lotes de menor valor em ministérios,
estatais e órgão federais entraram na conta da "reorganização da
base", na expressão da ministra de Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann; os de maior, ficaram com quem tem poder para negociar
alianças regionais eleitoralmente proveitosas.
A ministra, em entrevista ao jornal O Globo,
usou um termo que remete a criminosos para justificar as demissões.
"Reincidência", disse referindo-se à anterior derrubada do decreto do
IOF.
Até então o governo não sabia da existência
de oposicionistas na "base"? Sempre soube, assim formatou seu suporte
parlamentar e o manteve, pela mesma lógica da conveniência que agora inaugura a
nova fase do é dando que talvez se possa receber.
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