domingo, 24 de agosto de 2025

Os dilemas de Tarcísio, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O governador precisa decidir se a hora do Planalto é agora ou se é melhor deixar a onda Lula/Bolsonaro passar

Se tem uma coisa que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em tese não precisaria ter é pressa.

Acabou de completar 50 anos de idade, chegará em 2030 com 55, a tempo de disputar a Presidência da República relativamente jovem se comparado aos 85 e 75 que terão, respectivamente, Luiz Inácio da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

O mais provável é que daqui a cinco anos Lula esteja a caminho da aposentadoria, senão política, ao menos eleitoral. Bolsonaro, se não estiver preso e ainda que livre dos enroscos judiciais, talvez se veja às voltas com os prejuízos causados pelos filhos, ora empenhados em dizimar a herança política do pai com batalhas perdidas tão inúteis quanto desmoralizantes.

Alinham-se a uma potência estrangeira contra o país que lhes deu guarida política, atuam em desfavor daqueles que os elegeram, hostilizam governadores de seu campo ideológico, exigem fidelidade absoluta de aliados e criam obstáculos à organização da direita para enfrentar a próxima eleição. Desidratam, assim, o próprio capital.

Tarcísio pode esperar que esteja feito o serviço completo. Isso na teoria, porque há sempre aquela avaliação baseada no lema de que o cavalo encilhado talvez não passe outra vez. É um dilema.

Governador do estado mais poderoso do país, até agora bem avaliado pela população, com a reeleição encaminhada e praticamente assegurada a preço de hoje, Tarcísio de Freitas não tem uma decisão fácil a ser tomada.

E se a chance for agora e tudo mudar adiante? E, se não for, se Lula repetir o feito pós-mensalão, recuperar-se e ganhar a eleição?

Mas, ainda que dê certo o plano presidencial, talvez não valha a pena ter a família Bolsonaro nos calcanhares a exigir empenho em prol da anistia ou da assinatura de um indulto caso o ex-presidente seja condenado e depois se veja livre para tumultuar o ambiente e tentar tutelar o presidente.

Isso sem falar na oposição comandada por um Lula ativo e mordido pela derrota, num Brasil ainda radicalmente dividido.

 

Nenhum comentário: