domingo, 24 de agosto de 2025

Trump e Bolsonaro, até quando? Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem será o próximo a trocar o barco de Bolsonaro pelo de Tarcísio? Pelas apostas, Trump

De festa em festa, de discurso em discurso, de mais e mais partidos simpáticos, o governador Tarcísio Gomes de Freitas vai se afirmando como candidato da direita em 2026 e abre uma dúvida curiosa: até quando Jair Bolsonaro, inelegível, em prisão domiciliar, prestes a ser condenado pelo STF e isolando-se politicamente, vai ter apoio de Donald Trump?

Com visão imperialista e personalidade autocentrada, Trump ataca o governo Lula, o Supremo, as empresas e os empregos brasileiros em nome de Bolsonaro e do impraticável e fora de propósito fim do processo contra Bolsonaro. Mas é isso mesmo que está por trás de tanto ódio e ataque ao Brasil? Será que Trump está tão preocupado com um ex-presidente que foi péssimo militar, político inexpressivo, derrotado em 2022 e está diante das grades?

A resposta tende a ser não. Bolsonaro é só um pretexto. Os movimentos de Trump na América Latina, a começar da nomeação do cidadão de origem cubana Marco Rubio para o poderoso Departamento de Estado, o “Itamaraty dos EUA”, mostram que, se o Cone Sul estava fora do radar de Washington havia décadas, não está mais. E, quando se fala em Cone Sul, fala-se obrigatoriamente de Brasil, a potência regional, principal economia, maior território, maior população.

Trump não desloca navios de guerra para a Venezuela por dar bola para Maduro. Não se aproxima da Argentina porque acha Javier Milei um gênio. Não abre os cofres para o Paraguai pela simpatia de Santiago Peña.

Não se aproxima de El Salvador, Equador, Guiana e Peru e não comemora a derrota dos socialistas na Bolívia à toa. Assim como... não avança sobre o Brasil por Bolsonaro. O foco é dominar o “quintal dos EUA”.

Rei morto, rei posto. Assim que Bolsonaro for efetivamente preso, caso condenado pelo Supremo, perderá importância para Trump e o novo rei em ascensão na direita brasileira é Tarcísio, que tem o governo paulista, o mundo financeiro, empresarial e do agronegócio, avança sobre evangélicos e cantores populares e reforça uma aliança com os demais governadores de direita. O que importa não é Bolsonaro, é o eleitorado bolsonarista.

Quanto mais Bolsonaro míngua e se isola, mais Tarcísio cresce e aparece. E é xingado por Silas Malafaia e atrai a ira do clã Bolsonaro e sorrisos do Centrão em jantares, inclusive, com os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do PL, Valdemar Costa Neto, e sem ninguém com sobrenome Bolsonaro. O grande adversário de Lula e da esquerda não é Jair, Eduardo, Flávio ou Michelle, é Tarcísio. E o próximo a trocar o barco de Bolsonaro pelo de Tarcísio será Donald Trump.

 

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