domingo, 24 de agosto de 2025

As fraudes nos débitos em conta, por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Nos últimos dias, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) encaminhou ofício ao Banco Central do Brasil em que solicita alterações nas normas que regulam o débito automático em conta. A providência ficou necessária após a disparada das queixas de clientes sobre débitos indevidos em suas contas.

Outra vez, os principais alvos dessas irregularidades são os pensionistas e aposentados do INSS. Em 2021, o Banco Central passou a permitir que cobranças automáticas de um cliente em um banco pudessem ser processadas por outra instituição financeira, desde que previamente autorizada. No entanto, a brecha deu margem a que milhares de beneficiários ficassem expostos a débitos automáticos injustificados, incluindo de empresas não reguladas pelo Banco Central, como clubes de benefícios e seguradoras.

Essas cobranças são outro caso que se soma aos descontos indevidos realizados diretamente pelo INSS, ainda sob investigação e alvo de CPI recente, e aos milhões de tentativas de fraudes por telefone, redes sociais e outros meios eletrônicos, que tiram a paz e os recursos dos mais vulneráveis, sem que ninguém seja responsabilizado pelos danos causados.

No caso dos débitos indevidos, que chegou a 110 mil reclamações no último ano, conforme dados do ProConsumidor, os bancos se omitem sob a alegação de que estão impossibilitados de confirmar a autorização dada pelo cliente para a empresa que solicitou o débito. Mas por que permitiram a inclusão de débito automático de empresas que nem são instituições financeiras? O Banco Central, que deveria monitorar e punir essas e outras irregularidades, também não avança providências. Como as autoridades não tomam a iniciativa de fechar as brechas, a cobrança por essas fraudes acaba por desabar sobre a Justiça, que se vê entulhada por milhares de processos que podem levar anos para uma sentença.

O Pix, hoje acusado de competição desleal, por empresas americanas e pelo governo Trump, foi alvo de ataque hacker que desviou cerca de R$ 800 milhões em julho. Esse episódio expôs a falta de corpo técnico e de recursos que o Banco Central enfrenta para supervisionar o sistema. E a isso podem-se acrescentar os sucessivos vazamentos de dados relacionados a chaves, CPFs e números de contas, como ocorreu em julho no Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário, o que expôs 11 milhões de pessoas.

Enfim, estamos diante de um sistema financeiro que se crê avançado, mas continua cheio de brechas que alimentam fraudes e abusos, cuja conta é paga sempre pelo consumidor. Mais cedo ou mais tarde, essa insegurança acabará cobrando seu preço político.

 

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