quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Há medo de virada feia no mercado mundial com IA, ouro e bitcoin nas alturas. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Diretora do FMI e BC inglês temem baixa súbita das ações, o que afetaria também o Brasil

Economia de Trump e altas dívidas de países ricos incentivam busca de ativos alternativos

"A história nos diz que o sentimento pode virar de modo abrupto", disse Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional, nesta quarta. Sim, falava de bolha sem ousar dizer o nome, assim como o fez o Banco da Inglaterra (o BC deles) em relatório publicado também nesta quarta.

Isto é: tratam de superinvestimento em inteligência artificial e correlatos; de preço exagerado de ações de grandes empresas. Georgieva disse que o otimismo com a IA "incendiou" os mercados e ajuda a sustentar o crescimento da economia dos EUA e do mundo.

No caso de reviravolta "abrupta", o caldo engrossaria por aqui também: "...condições financeiras mais restritivas poderiam reduzir o crescimento mundial, expor vulnerabilidades e tornar a vida especialmente difícil para os países em desenvolvimento", disse Georgieva. Na semana que vem, tem reunião do FMI.

Há mais riscos: a perda de confiança no dólar e nos títulos públicos americanos por causa da dívida crescente e descontrolada dos EUA e da ameaça trumpista de tomar o Fed, o BC americano. "Há sinais preocupantes de que o teste pode chegar", disse Georgina.

O Comitê de Política Financeira do BoE escreveu em relatório: "Riscos relacionados a tensões geopolíticas, fragmentação global de comércio e mercados financeiros e pressões nos mercados de dívida de governos permanecem elevados. O risco de uma correção abrupta no mercado aumentou". O S&P 500 subiu 15% neste ano.

Há mais altas de interesse. O preço do ouro aumentou 54% no ano. O metal passou o euro em volume de reservas dos bancos centrais. Desde as sanções (confiscos) contra a Rússia, por cautela recorre-se a um pouco mais de ouro no lugar de títulos de dívida do governo dos EUA, por exemplo.

Desconfiança da política econômica de Trump e o nível alto e ora insolúvel de dívida de governos de países ricos incentivam a fuga para outros ativos: ouro, criptoativos. O preço do bitcoin subiu 32% no ano. É medo. Um pingo desse dinheiro que migra dos EUA até caiu aqui no Brasil e em emergentes.

O comitê do BoE nota o recorde das Bolsas e o peso das cinco maiores empresas no índice de ações S&P 500, que é de 30%, o maior em meio século. O preço das ações em relação a retornos esperados das empresas está no maior nível em quase 25 anos (perde para o do período da bolha "ponto com").

Uma queda dos preços das ações de empresas grandes de tecnologia teria, pois, efeito em quem investe no índice (na variação média).

A bolha "ponto com" inflou de 1995 a 2000. Estourou também com a contribuição de alta de juros do Fed; levou a Nasdaq ao colapso e contribuiu para a breve recessão de 2001 nos EUA.

Entre os riscos de baixa, o BoE cita: capacidade ou adoção "desapontadora" de IA; competição mais acirrada; escassez de oferta de energia, dados e outros insumos para a IA; mudanças conceituais que exijam infraestrutura diferente de uso e desenvolvimento de IA

Jensen Huang, da Nvidia, e Jeff Bezos, da Amazon, têm dito que "esta bolha é diferente". No caso das líderes de IA, se trata de empresas imensas, não bagrinhos da era "ponto com", bem capitalizadas, que usam caixa para investir (menos dívida) que na pior das hipóteses, de "ajuste", deixarão avanços tecnológicos e infraestruturas com impacto real, imediato e duradouro na economia.

Prever bolha é quase coisa de vidente. Mas o Brasil deveria colocar as barbas de molho. O ambiente está tenso, no mundo e na politicazinha doméstica.

 

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