segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Lula e o passe livre. Por Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Presidente já ganha ao lançar discussão, enquanto a oposição corre atrás da própria cauda

Em junho de 2013, o aumento das tarifas do transporte público na cidade de São Paulo, então governada por Fernando Haddad, motivou protestos convocados por um movimento por passe livre que logo catalisaram uma vasta gama de insatisfações populares. As manifestações inauguraram um ciclo de contestação política que, três anos depois, contribuiu para o impeachment de Dilma Rousseff.

Por óbvio, ela não perdeu a presidência por causa do custo das passagens de ônibus e metrô, mas essa foi a fagulha que incendiou as ruas ao longo do seu governo.

Doze anos depois, Lula quer incluir a tarifa zero universal no transporte público em seu pacote de bondades.

A um ano das eleições, o petista aproveita a perda de rumo da oposição, empacada na agenda da anistia ou da redução de penas para golpistas, e investe em projetos com apelo popular.

Após a Câmara dos Deputados aprovar a ampliação da isenção de Imposto de Renda, o governo agora quer avançar com a proposta de reduzir a jornada semanal de trabalho e estuda implantar transporte público gratuito em todo o País.

Segundo artigo publicado por Marcelo Miterhof, economista do BNDES, 127 cidades brasileiras já oferecem gratuidade total em ônibus (os dados são de maio). O número sobe para 138 quando se incluem outros modelos de passe livre (Teresina, no Piauí, por exemplo, tem apenas metrô de graça). São Paulo não entra na lista pois tem ônibus gratuito só aos domingos. Juiz de Fora (MG) discute um projeto que pode torná-la a terceira cidade mais populosa do mundo com tarifa zero universal nos transportes.

Há dois caminhos para um programa nacional de tarifa zero. No primeiro, o benefício seria integralmente financiado pelo governo federal, tirando os recursos de uma tributação sobre combustíveis. No segundo, haveria uma parceria com estados e municípios.

De um jeito ou de outro, o desafio é bancar o subsídio integral sem arrebentar ainda mais as contas públicas. Alguns defensores da medida dizem que ela custaria R$ 100 bilhões por ano.

Mas o número está subestimado, pois vem de um estudo de 2023 com dados de 2020, e prevê um aumento modesto no número de viagens. Experiências recentes mostram que a gratuidade pode até triplicar o uso dos ônibus urbanos.

Viabilizar essa ideia é o de menos agora. Lula já ganha só de iniciar a discussão. Basta incluir a promessa em sua campanha de reeleição. Enquanto isso, a oposição corre atrás da própria cauda. •

 

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