segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Financiamento das campanhas eleitorais exige mais debate. Por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Métodos mais democráticos de alocação dos recursos diminuiriam insatisfação da sociedade com as instituições políticas

Estamos a um ano das eleições de 2026. Ainda há muita incerteza sobre os competidores: não há definição quanto ao candidato da direita que enfrentará o presidente Lula, e, no estado de São Paulo, não se sabe quem serão os candidatos ao governo estadual nem às duas vagas ao Senado.

As regras que nortearão a disputa e os recursos para campanhas, no entanto, já são conhecidas.

O princípio da anterioridade eleitoral estabelece que qualquer alteração nas regras do jogo deve ser aprovada e sancionada até um ano antes do pleito.

Assim, já sabemos que a Câmara dos Deputados manterá as 513 cadeiras atuais, que a cada 3 candidatos apresentados por cada partido na disputa para a Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas ao menos 1 deve ser mulher e que permanecem inalteradas as regras para campanha, arrecadação e prestações de contas.

Tais regras poderiam ter sido alteradas se leis discutidas ao longo deste ano tivessem sido aprovadas e sancionadas a tempo.

Na última semana, em reunião da Comissão Mista de Orçamento, foi definido o valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha: R$ 4,9 bilhões. Desse total, R$ 3,9 bilhões são recursos originalmente destinados a emendas de bancadas de execução obrigatória e R$ 1 bilhão será remanejado de outras despesas discricionárias previstas no orçamento da União.

Além disso, os partidos terão à sua disposição R$ 1,4 bilhão do Fundo Partidário, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2026. A soma dos dois fundos se aproxima do valor arrecadado de empresas na eleição de 2014, o último com doações de pessoas jurídicas, corrigido pelo IGP-M: R$ 6,5 bilhões.

Os R$ 6,3 bilhões destinados aos partidos e candidatos são muito ou são pouco?

O valor equivale a cerca de R$ 40 por eleitor apto a votar. Considerando os 6 cargos em disputa, são R$ 6,66 por eleitor/cargo. Como parâmetro de comparação, em 2025 os ministérios do Meio Ambiente e da Cultura tiveram orçamento de R$ 4,2 bilhões cada.

O debate sobre financiamento político e eleitoral no país, no entanto, deveria mudar de foco. Falta discutir a forma da distribuição dos recursos. Hoje são as direções partidárias que decidem a alocação da totalidade dos recursos, sujeitas a poucas restrições, como a de destinar o mínimo de 30% para candidatas mulheres e 30% para candidatos pretos e pardos.

Outros países adotam modelos mais criativos. Alguns condicionam os repasses ao comparecimento efetivo dos eleitores, outros preveem regras de distribuição entre entes federativos e há aqueles que utilizam mecanismos de matching funds, em que o fundo público complementa cada doação individual em proporção pré-definida.

Explorar modelos que deem mais voz aos cidadãos pode aumentar a legitimidade do fundo público e dos partidos, além de reduzir a insatisfação crescente da sociedade com a política.

A restrição das fontes de financiamento aumentou a pressão por recursos públicos.

O problema é que o crescimento dessa fonte de financiamento não veio acompanhado de maior transparência no funcionamento dos partidos nem de métodos mais democráticos de alocação dos recursos, o que aumentaria o protagonismo dos cidadãos e poderia contribuir para diminuir a insatisfação da sociedade com as instituições políticas.

 

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