sábado, 11 de outubro de 2025

MP escala guerra entre bancões e fintechs. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Frebaban sobe o tom e ataca empresas digitais, que falam em tributação mais alta

O que se espera é que a população de baixa renda não seja a grande prejudicada pela disputa aberta

A guerra nos bastidores entre os bancos e as fintechs ficou escancarada com o enterro pela Câmara da polêmica MP do aumento de impostos. Desde o ano passado, o clima já vinha tenso em meio às discussões com o Banco Central sobre a reformulação do FGC, o fundo formado com recursos aportados pelas instituições financeiras que dá garantias aos aplicadores em caso de quebra e liquidação dos bancos.

A situação piorou com a operação Carbono Oculto, que revelou a ligação de fintechs ao crime organizado. A ação policial colocou holofotes para as fragilidades na regulamentação do BC no setor. A crise deu munição para os grandes bancos explorarem o problema numa ofensiva contra a atuação das empresas de tecnologia.

Nas negociações da MP, o leite entornou e a disputa escalou. A proposta do Executivo previa o aumento da tributação das fintechs, num movimento coordenado pelos bancos na avaliação das companhias digitais. Após a medida ser rejeitada, a poderosa Febraban, que representa os bancos, subiu o tom em duas notas públicas, acusando as fintechs de terem trabalhado contra a MP e de utilizarem estratégias de planejamento tributário para reduzir o pagamento de impostos no Brasil.

As fintechs se defenderam com números para mostrar que a tributação efetiva das maiores empresas do setor já é mais alta do que a dos grandes bancos: 29,7% versus 12,2% em 2024.

O grupo de empresas de tecnologia também apontou o dedo para outro problema: a forte concentração do crédito em poucos bancos —70% do crédito pessoa física e 64% dos depósitos estão com os cinco maiores do país, contra 6% nas maiores fintechs.

Lula ficou do lado dos bancos ao falar que vai insistir no aumento dos tributos das fintechs por avaliar que Roberto Campos Neto, ex-presidente do BC e hoje no Nubank, atuou ao lado do governador Tarcísio de Freitas (SP) para derrubar a MP. A disputa escalou porque a competição tem aumentando.

As fintechs foram um grande motor da inclusão financeira da população de baixa renda. Que os clientes não sejam prejudicados pela guerra aberta.

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