sábado, 19 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

STF segue a lei ao adotar medidas contra Bolsonaro

O Globo

Ex-presidente já deu inúmeras provas de que seu maior objetivo é salvar a própria pele

Está dentro do regramento legal brasileiro a Justiça tomar medidas preventivas contra Jair Bolsonaro. Em sua petição, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou “novas medidas cautelares que possam assegurar a aplicação da lei penal e evitar a fuga do réu”. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou que Bolsonaro terá de usar tornozeleira eletrônica, não poderá falar com diplomatas nem com seu filho Eduardo Bolsonaro, não poderá usar redes sociais e será obrigado a ficar em casa à noite e aos fins de semana.

A decisão de Moraes está baseada no que ele considera “claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões da prática de atos criminosos” com o objetivo de obstruir as investigações e atentar contra a soberania nacional. Está implícita, porém, a tentativa de evitar que ele busque asilo político numa embaixada ou saia do país ilegalmente antes do fim do julgamento em que é acusado de tentar dar um golpe de Estado. Seria uma desmoralização para o Judiciário e um mau exemplo para o futuro se ele conseguisse driblar decisão de tamanha relevância para a democracia brasileira.

A difícil resposta brasileira – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Que fazer com os produtos que não poderão ser destinados aos Estados Unidos? Depende do setor, mas todos perderão

Só existe uma possibilidade de Brasil e Estados Unidos estabelecerem uma negociação técnica em torno das tarifas: a reviravolta completa na posição do presidente Donald Trump. Ele precisaria abandonar o tipo de chantagem que impôs — trocar o tarifaço pela anistia a Bolsonaro. Qual a chance de acontecer? Perto de zero.

O leitor certamente estranhará esse “perto” de zero. Mas estamos falando de Trump, um político que não tem nenhum problema em mudar de lado. E sabemos que, nos meios empresariais americanos, muita gente tem dito, nos bastidores, que seria mau negócio também para os Estados Unidos derrubar o comércio com o Brasil. Mas abandonar a chantagem seria abandonar Bolsonaro. Improvável, se não impossível. Além disso, Trump não está nem um pouco preocupado com questões técnicas.

O STF político por inteiro – Pablo Ortellado

O Globo

Há alguns anos, o Supremo, diante do descaminho autoritário do bolsonarismo, adotou a teoria da democracia militante. A teoria foi elaborada nos anos 1930 pelo jurista alemão Karl Loewenstein para proteger a democracia liberal das ameaças de grupos fascistas.

Segundo Loewenstein, os fascistas se valiam das liberdades asseguradas pela Constituição para se organizar com o objetivo de derrubar o próprio regime democrático. Por isso, a democracia deveria desenvolver mecanismos de autodefesa, como a proibição de que grupos políticos usem uniformes ou portem armas, a imposição de punições severas para atos de subversão da ordem democrática e, em última instância, o banimento de organizações cuja ideologia e visão de mundo sejam incompatíveis com os princípios democráticos.

Exercícios de futurologia - Eduardo Affonso

O Globo

Salvo pela cavalaria americana (e sua taxação de 50%), Lula é reeleito em 2026. Por mínima margem de votos, conquista o quarto mandado, quebrando o próprio recorde de presidente mais idoso (80 anos, com energia de 70 e tesão de 68). O centro democrático (esquerda ponderada, liberais e direita racional) não tinha mesmo como votar no candidato da oposição, Eduardo Bolsonaro. Lula regula as redes, aumenta a contribuição sindical, impõe sigilo de 200 anos aos gastos do governo, investe no slogan “Milionários contra paupérrimos” e consegue no STF reeleições infinitas. Apoia a China na retomada de Taiwan e condena Israel pela guerra ao narcotráfico.

A relação Brasil e Estados Unidos - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Embora as relações entre os dois países tenham sido pacíficas por 201 anos, um fio de tensão permeia o seu tecido agora

Brasil e Estados Unidos são dois países gigantes do Hemisfério Ocidental em território, população, recursos naturais e parque industrial. Jamais guerrearam entre si, seus governos têm relativamente poucas disputas e, muitas vezes, ajustaram suas relações desde que José Silvestre Rebello apresentou suas credenciais ao presidente James Monroe, em maio de 1824, como primeiro representante do Império independente. Embora as relações entre os dois países tenham sido pacíficas por 201 anos, um fio de tensão permeia agora o seu tecido. As tarifas impostas por Donald Trump tumultuam uma relação que, em outros tempos, chegou a ser pacífica e profícua.

A previsibilidade dos imprevisíveis - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O ritmo se acelerou. Havia um calendário – digamos assim – para a condenação de Jair Bolsonaro. Até certa previsibilidade. Calendário informal público; que estava plantado na imprensa e pacificado no debate, assentado também nos cálculos para projeção eleitoral: o expresidente seria julgado entre setembro e outubro de 2025. E de repente essa aceleração, materializada nas medidas cautelares determinadas contra ele.

Impossível não considerar – como elemento deflagrador das restrições – o que terá havido de novidade desde a semana passada: a crescente carga de Trump, instrumentalizando o poder comercial dos EUA, afinal contra a economia do Brasil; o que Lula chamou de “chantagem inaceitável em forma de ameaça às instituições brasileiras”. Crescente carga de Trump – incentivada pelos Bolsonaro, em prol de Bolsonaro.

Economia ‘teflon’- Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

Testar a nossa resiliência num cenário com Trump é como mexer ovos em frigideira riscada

A mídia internacional e vários órgãos de análise descrevem o atual momento da economia mundial como uma economia “teflon”. Esse termo é usado para apresentar economias que parecem resistir a choques – como crises políticas, crises externos ou turbulências financeiras – sem grandes efeitos negativos sobre o crescimento.

A despeito da inflação persistente, tensões comerciais e a retração do crescimento, a economia global tem se mostrado surpreendentemente resiliente diante de múltiplos choques. Mas, o “teflon” está se desgastando paulatinamente.

Bolsonaro sente o gostinho da cadeia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Trapalhadas do clã favorecem governo, que precisa ser cuidadoso para não cair na armadilha da soberba

As medidas cautelares que o STF impôs a Jair Bolsonaro se desenham como uma prévia, um "amuse bouche", da pena de prisão a que ele quase certamente será condenado. É bom que o capitão reformado vá experimentando aos poucos as restrições de liberdade a que será submetido. Imagino que o gradualismo diminua o risco de depressão carcerária. Saúde em primeiro lugar.

Se as informações de que o ex-mandatário preparava uma fuga são confiáveis, as medidas adotadas estão plenamente justificadas. Seria muito ruim para a Justiça se Bolsonaro conseguisse furtar-se a sanções penais por crimes graves que tenha cometido e pelos quais tenha sido julgado numa corte que tem falhas, mas que fica ainda muito aquém de configurar-se como tribunal de exceção.

Tornozeleira sobe efervescência do tarifaço - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Componente político do ataque comercial dificulta o trabalho de Alckmin em buscar um acordo

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de determinar o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro adicionou água quente na efervescência política que o tarifaço de 50% do presidente Donald Trump provocou no Brasil.

No caso brasileiro, o componente político do ataque comercial dificulta o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin de buscar um acordo com os americanos para evitar a sobretaxa no próximo dia 1º de agosto.

O Pix da discordia - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Jogando quase parado, Lula lucra com incompetência e desvario da extrema direita

A mudança no Marco Civil da Internet, estabelecendo que as redes sociais daqui para frente terão a obrigação de remover conteúdos ilegais, implica em perder dinheiro. O prejuízo na conta dos plutocratas da tecnologia é a principal razão para o ardil de Trump, que busca atingir o STF com chantagens e retaliações ao país. De lambuja, age para salvar Bolsonaro, um colega golpista.

Garoto-propaganda do "America First", Eduardo Bolsonaro tem duas missões: trabalhar pela sua candidatura à Presidência e culpar Alexandre de Moraes pelo tarifaço. Mais até do que a Lula, que tem sido poupado das pancadas.

Inimigo do povo? - Renê Trentin

CartaCapital

Denunciar quem vota contra os trabalhadores não basta, é preciso educar para a escolha consciente dos nossos representantes no parlamento

O fenômeno dos vídeos que viralizaram nas redes sociais, produzidos por setores progressistas com o emprego de Inteligência Artificial, em resposta às últimas medidas escandalosamente antipopulares do Congresso Nacional, mostrou, de modo inequívoco, que as mídias digitais são um campo de batalha política e ideológica, um poderoso instrumento de conquista de mentes e corações para um determinado projeto político. A campanha focou, sobretudo, em questões como a recusa de tributar os ricos na batalha do IOF e o aumento do número de deputados federais.

A direita e a extrema-direita há muito perceberam o potencial dessas mídias e as elegeram como seu principal ambiente e instrumento de militância ideológica. Os métodos por elas empregados não costumam, porém, primar pela ética e pelo compromisso com a verdade: difundem-se notícias falsas, mentiras, desinformação, preconceitos de todo tipo, ataques pessoais, discursos de ódio. Tudo em nome da manutenção dos mandatos dos representantes desses setores, à custa da ignorância e da vulnerabilidade intelectual em que buscam manter a população.

Apocalipse no STF - André Barrocal

CartaCapital

Flávio Dino encara a missão de restabelecer o equilíbrio político no Brasil. Terá o apoio da corte?

Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, é um cristão devoto. Outro dia abriu uma divergência na Corte e votou contra o relatório de um colega, Kassio Nunes Marques, que propõe derrubar uma lei potiguar que obriga bibliotecas públicas a manterem Bíblias, um processo inconcluso. Em 3 de julho, estava em Lisboa, em um convescote anual organizado por outro juiz do STF, Gilmar Mendes, e disse que, por ser religioso, acredita no “apocalipse”. Era um comentário metafórico para definir o possível desfecho de um caso explosivo em suas mãos. Três ações levadas ao Tribunal em 2024 defendem a inconstitucionalidade das emendas parlamentares impositivas e o formato “Pix”, um modo de liberação a jato dessas verbas orçamentárias. “Do ponto de vista institucional”, afirmou Dino, a anulação dessas emendas “seria uma coisa meio apocalíptica”. Uma refundação do sistema político, algo que o togado parece disposto a levar adiante.

Peripécias do liberal-fascismo - Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

“Se você não é igual a mim, não tem direito a existir”, vocifera o igualitarismo de manada

As trumpadas de Donald Trump expõem, “a céu aberto”, as pérfidas soluções engendradas pelo liberal-fascismo. Essa visão do mundo, aparentemente contraditória, infesta o pensamento (sic) das camadas enriquecidas – e também das empobrecidas e ressentidas – que se esbatem na sociedade americana.

O economista Thomas Ferguson bateu pesado: “Os eleitores percebem a farsa. Perderam a confiança no sistema e se cansaram de ambos os partidos, alimentados pelo dinheiro. Ao final da Presidência de Obama, a participação eleitoral havia caído para o nível mais baixo em décadas”.

Em nuestra América, o ultraliberal-fascismo viceja nas mãos do presidente argentino, Javier Milei. Recentemente, Milei vergastou o Estado: “O Estado é a representação do Maligno na Terra. Cada vez que o Estado avança há mais pobreza, mais calamidades, miséria”.

Trump e o fim da globalização - Marcus Pestana

O nível de integração da economia global variou, ao longo da história, em função do estágio de desenvolvimento das comunicações e dos transportes.  Sistemas de navegação, navios, cartografia, radares, GPS, telégrafo, rádio, telefonia, internet, ferrovias, automóveis, rodovias, pontes, viadutos, túneis, aviões foram inovações essenciais, cada qual à sua época, para a avanço de uma ampla rede de comércio internacional e integração produtiva.

Já na Antiguidade, vastos impérios foram formados a partir de Roma, Pérsia, Egito, China e Macedônia. Mesmo durante a Idade Média, tida como uma era de retrocessos, assistiu-se uma intensa expansão de rotas comerciais.

Grande impulso houve no período mercantilista, com países como Inglaterra, Holanda, França, Espanha e Portugal lançando-se aos oceanos, em busca de matérias primas, metais preciosos e zonas de influência, incorporando ao mapa as Américas e a Oceania.  

Falta um projeto - Ivan Alves Filho*

Eu acredito que todo democrata radical, isto é, aquele que alcança a raiz do problema e percebe que a política se infiltra em todos os domínios da vida, deve estar refletindo sobre o que se passa com o Brasil há algumas décadas. A saber:

* Temos uma das piores distribuições de renda de todo o mundo;

* Somos um dos países mais violentos do mundo, com a terceira ou quarta população carcerária do planeta;

* Nossas carências em matéria de infraestrutura urbana (transporte, saneamento básico, favelas se multiplicando) são estarrecedoras;

* Contabilizamos, oficialmente, cerca de cinco milhões de brasileiros residindo fora do país;

Poesia | Capiba - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Chico Buarque - Estação Derradeira/Minha Embaixada Chegou

 

sexta-feira, 18 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula precisa vetar trechos do PL do Licenciamento

O Globo

Projeto aprovado na Câmara agrava devastação ambiental. O possível agora é tentar conter os danos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa vetar os artigos mais descabidos do Projeto de Lei (PL) que estabelece novas regras para o licenciamento ambiental, aprovado pela Câmara de afogadilho na madrugada desta quinta-feira. Apelidado “PL da Devastação” pelos ambientalistas, o texto aprovado contribui para ampliar a degradação ambiental no Brasil. Criticado por representantes do setor produtivo, da comunidade científica e de entidades ligadas à conservação, foi votado de forma açodada por pressão da bancada ruralista.

É verdade que a legislação precisava ser atualizada. Mas, da maneira como ficou, o texto representa um retrocesso. Seus defensores argumentam que, sem flexibilizar as exigências, não haverá desenvolvimento. Não é verdade. Com regras apropriadas, o país tem plena condição de zelar pelos recursos naturais e, ao mesmo tempo, incentivar produção e obras de infraestrutura. Entre idas e vindas no Parlamento, a pressão dos ruralistas tornou inócuos os termos razoáveis da proposta inicial. O estrago está feito. A alternativa possível é a redução de danos.

Descobriram quem são os Bolsonaros? - Fernando Luiz Abrucio

Valor Econômico

Saber quem são, de verdade, os governadores que bajulam o ex-presidente e se vendem como moderados é central para o futuro do país. Afinal, é preciso saber com quem se contará na próxima pancada de Trump

O presidente Trump causou duas hecatombes no Brasil em uma só tacada. A primeira com o aumento escandaloso de 50% das tarifas, algo mais próximo de uma sanção contra uma nação inimiga. A segunda foi a forma que propôs para rever a decisão: bastava que as instituições brasileiras salvassem a família Bolsonaro - o pai Jair e o filho Eduardo -, que tudo seria esquecido. Essa vendeta trumpista, típica de mafioso, foi apoiada pelos governadores Zema, Tarcísio, Ratinho Jr. e Caiado, que depois se arrependeram, mas sem romper com o “mito”. Após esse escorregão, fica a pergunta: esse grupo da direita brasileira é incapaz de entender o perverso significado do bolsonarismo?

Quem se surpreendeu com esse casamento entre Trump e os Bolsonaros, e o tipo de decisão que produziram, ficou os últimos anos fora do planeta Terra - ou então concorda com a forma extremista que pensam. Em relação ao presidente americano, a intempestividade e a chantagem são marcas de seus governos, tendo crescido ainda mais agora por ter ampliado o seu poder. O Brasil não é o primeiro a sofrer com isso. O trumpismo, como toda a extrema direita que se alimenta das ideias totalitárias de Carl Schmitt, segue a lógica do amigo versus o inimigo, tanto no plano interno como no externo. E o presidente Lula é certamente um alvo preferencial de Trump.

Enfim, a perplexidade - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Num país que bate continência para qualquer fardado, Bolsonaro ainda flutua na ilusão da geopolítica da Guerra Fria, da sujeição do Brasil aos interesses americanos contra a União Soviética

Posto de joelhos por um dos filhos de Bolsonaro, vassalo de Trump, o Brasil começa a surpreender-se com a humilhação de ser minimizado diante de um país de que não somos colônia. Somos ingênuos, mas não tanto. Mesmo as pessoas mais manipuláveis têm a dignidade do limite para o tratamento que as degrada e humilha.

Apesar do modo como Bolsonaro, seus parentes, cúmplices e seguidores nos tratam, o país vem manifestando crescente impaciência com seu empenho de nos impor a todos o tratamento próprio da cultura da senzala.

Se as manifestações bolsonaristas na avenida Paulista, em São Paulo, nos últimos tempos, forem tomadas como medidor de legitimidade, o declínio de comparecimentos indica o cansaço popular com a manipulação e os abusos e as ilegalidades da política disfarçada em suposta religião, marca do bolsonarismo.

Lula cresce com inimigo na mira e vendendo sonhos - Andrea Jubé

Valor Econômico

Governo volta a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente

Num momento em que o governo voltou a respirar sem o auxílio de aparelhos, na esteira da recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os esforços no Palácio do Planalto convergem para que esse crescimento se mostre sustentável, e para evitar novas crises e erros rumo a 2026.

Um diagnóstico que já havia se formado, antes de o presidente Donald Trump impor a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, era de que Lula tinha de aparecer mais e falar mais aos brasileiros. Embora não se questione o papel de Lula como maior comunicador do governo, a percepção de auxiliares é de que, no terceiro mandato, ele ainda não conseguiu demonstrar o mesmo talento que o ex-presidente Jair Bolsonaro para dominar a pauta nacional.

Trump inaugura a era do neoimperialismo digital - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O xis da questão são as big techs: controlam fluxos de informação e expropriam capital social, transformam redes de confiança e reputação em lucro, sem pagar impostos

Eric Hobsbawm (1917-2012), em sua célebre quadrilogia — A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios e A Era dos Extremos — descreveu o capitalismo de sua gênese industrial ao colapso das ordens liberais e socialistas do século XX. Se o historiador britânico estivesse vivo, acrescentaria um quinto volume: “A Era Digital do Imperialismo”. Nela, as antigas disputas por colônias e matérias-primas seriam substituídas pela luta por dados, algoritmos e infraestrutura tecnológica, e os monopólios industriais dariam lugar às big techs.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (“O mundo sou eu”, parafraseando Luís XIV da França), de forma personalista e agressiva, encarna uma espécie de recidiva do imperialismo no novo contexto digital: um nacionalismo protecionista que confronta aliados e rivais, do Canadá à Rússia, e busca subjugar os países emergentes. Neste cenário, a União Europeia tenta manter sua relevância com medidas regulatórias, enquanto a China, ao transitar para a economia do conhecimento, ameaça verdadeiramente a hegemonia norte-americana no comércio global. Com um lugar cativo nas cadeias globais de valor como produtor de commodities de alimentos e minérios, o Brasil tenta se equilibrar no tabuleiro, para não perder a condição de economia industrial, da qual o principal mercado são os Estados Unidos.

Câmara passou trator sobre legislação ambiental - Bernardo Mello Franco

O Globo

A Câmara passou o trator sobre a legislação ambiental. Os deputados aprovaram o chamado PL da Devastação, que desmonta o sistema de licenciamento. A votação avançou pela madrugada de 17 de julho, Dia de Proteção às Florestas.

O tratoraço foi comandado por Hugo Motta. No início da tarde, o presidente da Câmara recebeu telefonema de Marina Silva, que pedia o adiamento da votação para depois do recesso. Além de ignorar o apelo da ministra, ele se empenhou para derrotar o governo. Ficou no plenário até o fim da sessão, às 3h42 da manhã.

O Observatório do Clima classificou a aprovação do projeto como um “crime histórico” e uma “vergonha para o Brasil”. Em novembro, o país sediará a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Será difícil explicar aos visitantes o que o Parlamento acaba de fazer.

Parlamento está desconectado da agenda atual mais urgente – Flávia Oliveira

O Globo

Está em cartaz no Masp, em São Paulo, até fins de agosto, a exposição “A ecologia de Monet”. Hoje, o Museu do Amanhã, no Rio, inaugura a mostra “Claudia Andujar e seu universo — Sustentabilidade, ciência e espiritualidade”, com curadoria de Paulo Herkenhoff. São duas coletâneas que, cada uma a seu jeito, trazem a preservação da natureza para o mundo das artes, no ano em que o Brasil receberá a COP30, conferência do clima da ONU. Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que o pai foi capturado e morto por nazistas num campo de concentração, exilou-se com a mãe em Nova York. Em 1955, mudou-se para o Brasil; fotógrafa, por sugestão de Darcy Ribeiro, passou a documentar sociedades indígenas. Dedicou quase toda a carreira aos ianomâmis, etnia que habita o norte da Amazônia; há uma década empresta o nome a uma galeria com 400 fotos no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), do crime da Vale.

O impressionista Claude Monet (1840-1926) é reconhecido pelas pinturas de paisagens. As 32 obras expostas em São Paulo — curadoria de Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Isabela Ferreira Loures — passeiam pela relação do francês com o meio ambiente em 50 anos de carreira. Chama a atenção a travessia entre as paisagens bucólicas de fins do século XIX e os cenários cortados pela fumaça dos trens e das chaminés das fábricas, em decorrência da industrialização. A série de quadros é documento histórico da transição para o mundo moderno e evidência de que o artista não a ignorou. O trabalho de Claudia Andujar, igualmente, registra a existência de um povo que, há um par de anos, enfrentava nova ameaça de extermínio no próprio território pela presença do garimpo, durante o governo Bolsonaro.

Uma semana para a história - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

O primarismo político de supor que a truculência externa pode resolver questões no interior da democracia brasileira é algo suicida

Desde a semana passada, o Brasil vive uma singularidade planetária. Neste ano, o déficit comercial com os Estados Unidos alcançou US$ 1,7 bilhão e fomos punidos com uma tarifa de 50%, a maior do mundo.

Superado o impacto inicial, é possível fazer algumas projeções, baseadas na experiência. Na maioria dos casos em que países são punidos com sanções, o objetivo é atingir o governo. Mas como as sanções atingem todos, a tendência é fortalecer as autoridades que querem punir e contribuir com o empobrecimento do país. O resultado é este: o governo se eterniza junto com a pobreza.

Virou guerra de presidentes – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Lula parte para a briga, Trump vai da chantagem a um inadmissível ultimato

Se até o ex-vice presidente Hamilton Mourão entrou na contramão dos Bolsonaros e disse para Donald Trump “não meter o bedelho” no Brasil, é a vez de os brasileiros gritarem que “o Pix é nosso” e os paulistanos, que “a 25 de Março é nossa!” Bom para Lula? Sim, mas ele está usando politicamente a onda de união nacional.

Lula está entre recuperar energia para 2026 ou apoio do Congresso e arriscando seus ganhos ao confrontar Trump, que passou da chantagem ao ultimato, em carta a Jair Bolsonaro. Suspender o julgamento de Bolsonaro imediatamente?

Durou pouco também a trégua que o Congresso – ou melhor, o Centrão – selou com Lula depois dos bombardeios dos EUA ao Supremo, aos produtos, às empresas e à soberania nacional. No mesmo dia em que Hugo Motta e Davi Alcolumbre se reuniram com Geraldo Alckmin para demonstrar apoio à resistência a Trump, a trégua desabou sob o peso de três projetos.

O Brasil, sem poder de barganha – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Aos poucos, a indignação infantil e inconsequente vai sendo substituída por uma visão mais realista das nossas precariedades.

A primeira reação do presidente Lula ao anúncio do presidente Trump sobre o tarifaço de 50%, a vigorar a partir de 1º de agosto, foi apelar para a soberania nacional e para revides em nome do princípio da reciprocidade. Lula chegou a avisar que recorreria à Organização Mundial do Comércio, providência que teria a mesma força de um pedido de apoio ao arcebispo de Nova York. Nesta quinta-feira, declarou que “gringo não vai dar ordens” e, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, disse que “No Brasil, ninguém está acima da lei”.

Mas, na avaliação de parte dos empresários brasileiros, cutucar a onça com vara curta poderia levar ao pior. O País está na defensiva, tentando se apegar a alguma ajuda dos empresários norte-americanos prejudicados com a alta dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Nem a primeira carta enviada a Donald Trump, logo após o anúncio do tarifaço geral em abril, conseguiu resposta.

O presidente Trump parece ter eliminado a principal justificativa apresentada em sua carta do dia 11, quando alegou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo vítima de uma caça às bruxas. “Bolsonaro nem chega a ser amigo”, disse Trump. “É apenas conhecido.”

Trump é a maior ameaça ao dólar, não o Brics - Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Além de gerar inflação, tarifaço deverá reduzir potencial de crescimento dos EUA

dólar norte-americano registrou, ao longo do primeiro semestre deste ano, uma desvalorização de 10% diante de uma cesta de outras moedas fortes, como euro e iene. Foi a maior perda de valor já registrada na primeira metade de um ano desde 1973.

O principal fator responsável por isso é a política econômica que vem sendo adotada pelo governo Donald Trump. O tarifaço contra praticamente todos os países do mundo, inclusive aliados de longa data, irá não apenas gerar mais inflação e menos crescimento a curto prazo mas também poderá reduzir o potencial de crescimento a médio e longo prazo —tornando os EUA menos atrativos para os capitais internacionais.

Alckmin e a ponte para o centro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O vice pode ser um ativo de Lula para promover a reaproximação com o centro e o setor produtivo

Os últimos acontecimentos confirmam que Luiz Inácio da Silva (PT) é um homem de sorte, mas indicam que Geraldo Alckmin (PSB) é também bafejado pelos mesmos ventos.

Escapou de participar das exéquias do PSDB e, numa manobra que pareceu arriscada quando mudou de partido e de lado ao aceitar compor a chapa com o petista em 2022, tomou uma decisão que lhe garantiu lugar ao sol na política e agora o coloca na boca de um novo gol.

Se Lula não subir nas tamancas do ego e estragar o trabalho de Alckmin na condição de porta-voz da condução das tratativas em torno da crise provocada pelo tarifaço de Donald Trump, o vice hoje tem garantido um papel de destaque em 2026. Seja na corrida presidencial —quem sabe não como reserva— ou solução competitiva ao Palácio dos Bandeirantes.

Bolsonarismo em curto-circuito - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Lobby de Eduardo Bolsonaro contra instituições brasileiras nos EUA saiu de controle e acabou virando ônus para o próprio clã

Estou entre os que acreditam que não existem limites biológicos para a burrice. A família Bolsonaro não é conhecida por produzir candidatos ao prêmio Nobel ou à medalha Fields, mas acho que nem o mais estulto membro do clã teria tido a ideia de pedir a Donald Trump que ameaçasse o Brasil com tarifas de 50% a menos que o processo contra Jair Bolsonaro no STF fosse extinto.

Fazê-lo seria criar um caso de dano autoinfligido para constar em todos os compêndios de erros políticos catastróficos. Ainda assim, foi exatamente o que ocorreu. Como explicar?

Um soldado e um cabo - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro queria fechar o STF. Este agora pode mandar o soldado e o cabo para fechá-lo

Um dia, um fanfarrão disse para uma plateia de estudantes em Brasília: "Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não quero desmerecer o soldado e o cabo. O que é o STF? Tira a caneta de um ministro do STF, e você acha que vai ter manifestação popular a favor dele? Milhões na rua?".

Pode-se imaginar a cena. Depois de cruzar assobiando a praça dos Três Poderes, o soldado e o cabo chegam ao Supremo Tribunal Federal. Metem-lhe o pé na porta, adentram o plenário em sessão e, com uma simples ordem de "Passa fora!", enxotam os ministros do recinto. De toga, tíbios, derrotados, eles saem um a um. O cabo bate a porta ao sair, passa-lhe um ferrolho e vai à Câmara entregar a chave a quem lhe dera a ordem: o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Poesia | Antônio Maria - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Minha Missão - Clara Nunes

 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump abriu brecha para Lula reverter declínio de popularidade

O Globo

Pesquisa revela que reprovação caiu depois do tarifaço, mas estratégia ‘ricos contra pobres’ tem limites

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou na chantagem feita ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma brecha para reverter sua acentuada queda de popularidade, como mostra pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira. Depois do anúncio do tarifaço de 50% para as exportações do Brasil, a desaprovação ao governo Lula recuou de 57% (resultado obtido em maio) para 53% . A aprovação subiu de 40% para 43%. Embora as variações estejam dentro da margem de erro, a distância entre reprovação e aprovação caiu de 17 para 10 pontos percentuais. É a primeira recuperação desde julho de 2024, quando a popularidade de Lula começou a esfarelar em meio à sucessão de crises.

Linha tênue - Merval Pereira

O Globo

Não houve histrionismo, não abusaram do patriotismo como bandeira de campanha política, não ameaçaram romper relações

O dado mais interessante da nova pesquisa Quaest/Genial divulgada ontem é a confirmação de que a recuperação de parte da popularidade do presidente Lula se deve à adesão de um número expressivo de eleitores de centro-direita à maneira como o governo reagiu às sanções impostas pelo governo de Donald Trump a nosso comércio internacional. Não houve histrionismo, não abusaram do patriotismo como bandeira de campanha política, não ameaçaram romper relações. Uma reação dura, mas necessária, que teve boa receptividade da maioria da população. É uma linha tênue que o governo deve respeitar, sob o risco de reverter o apoio.

Strike provocado por tarifaço de Trump começou pela direita bolsonarista -Malu Gaspar

O Globo

Ainda não dá para cravar se Donald Trump imporá mesmo aos produtos brasileiros uma tarifa de importação de 50%, de 20% ou nenhuma, mas não há dúvida sobre o tamanho do estrago do tarifaço na direita nacional. Os primeiros prejudicados foram os Bolsonaros — Jair, cujo processo no Supremo Tribunal Federal (STF) foi usado como pretexto, e It, que pedia sanções contra Alexandre de Moraes e acabou levando à retaliação contra o país inteiro.

Depois do anúncio, ficou sepultada qualquer esperança do ex-presidente de um alívio no processo sobre a trama golpista no Supremo ou da aprovação no Congresso de anistia aos presos do 8 de Janeiro. Eduardo, ao buscar se cacifar como articulador da medida, deu ao STF motivos para processá-lo por obstrução de Justiça — além de demonstrar que seu patriotismo acaba quando começam os interesses da família Bolsonaro. Se voltar ao Brasil, poderá ser preso ou se tornar inelegível.

O governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), que ensaiou apoiar Trump contra Lula — e ainda foi ao Supremo propor a devolução do passaporte a Bolsonaro para ir aos Estados Unidos negociar —, perdeu em um dia todo o trabalho com que tentava convencer a elite empresarial de que, caso venha a ser candidato a presidente em 2026, não será para agir como capacho do ex-chefe.

Rendição ou negociação - Míriam Leitão

O Globo

Carta enviada pelo governo brasileiro lembra que sempre houve disposição de negociar e propostas. Mas o que Trump quer é a rendição

O Brasil teve onze conversas — quatro ministeriais, e sete de nível técnico — com a área de comércio dos Estados Unidos, desde março. O governo tenta conversar a sério. Mas o que o presidente Donald Trump quer é a rendição institucional do país. A estratégia é isolar a parte “ultrajante” e criar musculatura para negociar comércio, ouvindo empresários, e buscando aliados na economia americana. Nas reuniões com os empresários há segmentos que mostram situação dramática. Trinta por cento de toda produção de laranja vão para os Estados Unidos. No caso da Embraer é um enorme tiro no pé: perto de metade de cada avião da empresa é de peças e componentes americanos.

A carta que foi enviada ontem ao governo americano lembrou que desde o início o Brasil mostrou disposição negociadora, apresentou propostas de áreas específicas e pôs temas na mesa. Como acelerar emissão de patentes, combater a pirataria. Aliás, o próprio USTR, na avaliação que divulgou em maio, de acompanhamento que faz do Brasil, pela Seção 301, reconheceu que o Brasil tem tido avanços nessas duas áreas.

Trump deu a Lula uma bandeira nacional: “O Pix é nosso!” - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Qual a verdadeira razão de Trump mandar investigar o Pix? Por trás da sua decisão, estão interesses da Meta e das bandeiras de cartão de crédito Mastercard e Visa

Depois do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras, o presidente Donald Trump resolveu abrir investigações sobre supostas violações das relações comerciais entre os dois países, cujos alvos vão do comércio da Rua 25 de Março, em São Paulo, o maior mercado fornecedor de pequenos empreendedores do país, à utilização do Pix como meio de pagamento. Isso deu de bandeja para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma bandeira popular até então improvável: “O Pix é do Brasil e dos brasileiros”.

Em janeiro passado, a fake news de que as operações com o Pix seriam taxadas pelo governo federal foi o principal gatilho para a queda abrupta de popularidade de Lula, num momento em que a economia registrava crescimento, pleno emprego e elevação da renda média. Agora, o que foi uma de suas maiores dores de cabeça, o Pix virou bálsamo para o governo, em meio à maior crise diplomática e comercial com os Estados Unidos.

Quem pariu o apoio de Trump deixa para Lula embalá-lo -Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Lula colhe vitórias no Congresso, no STF e arregimenta o empresariado e a finança

O bolsonarismo deu sinais visíveis de arrependimento em relação ao pedido de ajuda a Donald Trump. Tarcísio Freitas começou a falar em colaborar com o Itamaraty, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou ter feito as pazes com o governador de São Paulo, a quem chamara de “subserviente servil às elites” e até seu pai passou a dizer que é o governo Lula que deve negociar com o governo americano e não ele.

Tudo em vão. Trump está sem freio e quem pariu seu apoio agora se mostra incapaz de embalá-lo. A investigação aberta pelo escritório de representação comercial dos EUA mostrou que a defesa de Jair Bolsonaro foi apenas pretexto para destampar um pote até aqui de mágoas contra o Brasil. O escopo da investigação, do etanol ao desmatamento, passando pela pirataria, legislação anticorrupção e meios de pagamento, é a soma de embates ancestrais que tem, no arsenal de porretes de Trump, sua janela de oportunidades.

A hora dos predadores - Assis Moreira

Valor Econômico

As novas elites tecnológicas não têm nada em comum com os tecnocratas de Davos; seu modo de vida não se baseia no gerenciamento competente do que existe, mas sim no desejo de fazer bagunça

Em livrarias em Paris, neste verão, logo na entrada aparece em destaque um pequeno livro que tem a ambição de ajudar a compreender o caos no qual nos encontramos hoje. De autoria do conselheiro político ítalo-suíço Giuliano da Empoli, “A Hora dos Predadores” examina contornos de uma nova ordem mundial, uma realidade que o autor considera “fruto apodrecido” de aliança de gigantes da tecnologia e dirigentes populistas, onde o uso da força bruta se torna o modo de funcionamento.

Antigo assessor do ex-primeiro-ministro italiano Matteo Renzi (centro-esquerda) e acompanhante frequente do presidente francês Emmanuel Macron em viagens ao exterior, esse professor da Science Po, famosa universidade parisiense, faz curtos e inquietantes perfis de membros da chamada “internacional reacionária”, indo de Donald Trump a Nayib Bukele, presidente de El Salvador, e o príncipe saudita Mohammed bin Salman, além de patrões de grandes companhias tecnológicas como Elon Musk e Sam Altman (da OpenAI).

A constatação é de que o mundo muda velozmente marcado por avanços da inteligência artificial, ataques reiterados contra a democracia, multiplicação de conflitos militares. Como ele nota em diferentes entrevistas, há momentos em que a realidade tem mais imaginação que a ficção.