Folha de S. Paulo
Número de restaurantes que foram abertos na
Vila Madalena impressiona
De volta às corridas pela Vila
Madalena depois de um ano e meio em que passei a maior parte do tempo
no sítio, impressionou-me o número de restaurantes
que fecharam as portas na pandemia.
Impressionou-me, também, o número de restaurantes que
foram abertos. Na área relativamente restrita por que circulo, contei um
indonésio, um vietnamita, uma moquecaria (capixaba), um indiano, uma
charcutaria “autoral” alemã e uma queijo-quentaria, para ficar só nos mais
exóticos.
Imagino que o saldo líquido seja negativo. Estamos, afinal, numa situação de fortes restrições para o setor, não numa de exuberância de mercado. Pelo que li na imprensa, o índice de mortalidade de bares e restaurantes em São Paulo na pandemia deve ficar entre os 20% e os 30%. Não tenho dados sobre a taxa de reposição, mas ela não é desprezível, ou eu não teria notado tantas novidades.
Fiquei tentando lembrar onde eu lera algo sobre essa “dialética” dos restaurantes e, puxando pela memória, me veio o polêmico Nassim Taleb. Em “Antifrágil”, ele explica por que restaurantes são frágeis. Eles competem uns com os outros, trabalham com margens apertadas e estão muitas vezes à beira da falência —se aparece uma pandemia de vírus respiratório então... E é justamente o fato de cada negócio individual ser frágil que faz com que o coletivo dos restaurantes seja robusto.
Mesmo que um asteroide culinário caísse sobre a Vila Madalena, destruindo todos os restaurantes, em breve eles ressurgiriam, porque existe a demanda e porque alguns empreendedores, desafiando todos os cálculos racionais, isto é, superestimando suas próprias habilidades e menosprezando os riscos, se jogam na aventura.
É o que Keynes chamou de “animal spirits”, o triunfo do otimismo espontâneo sobre as expectativas matemáticas. Não deixa de ser irônico que o sucesso da economia de mercado dependa de uma espécie de delírio de grandeza dos agentes.
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