O Estado de S. Paulo
Comparadas ao 12 de setembro, as
“rachaduras” do antibolsonarismo foram, desta vez, menos evidentes. Adversários
subiram no mesmo palanque; a organização reuniu diferentes e divergentes
partidos, além dos movimentos sociais. Não deixa de ser um ensaio de frente
ampla. Não eleitoral, claro – nesse aspecto, não há e nem haverá acordo –, mas
contra Jair Bolsonaro, que vive seu pior momento na Presidência do País.
Outro aspecto é que a tensão que houve no
início de setembro diminuiu. O recuo do presidente retirou da atmosfera
política a maior dramaticidade sentida há um mês. A questão da democracia
esteve presente e, naturalmente, ainda preocupa, mas perdeu espaço em relação à
inflação e ao custo de vida. Expressos no termo “Bolsocaro”.
Água fria para os mais afoitos, a magnitude das manifestações, no entanto, não surpreendeu. Com o processo de imunização avançando, a pandemia assusta menos, e mais pessoas vão às ruas. Aos poucos. Não foi “gigante”, mas tampouco desprezível: assemelha-se à mobilização bolsonarista de 7 de setembro. Se, então, demonstrou apoio; agora, expressou a evidente rejeição.
Num primeiro balanço, as manifestações de ontem foram insuficientes para assustar e acionar o senso de sobrevivência de deputados do Centrão, que hoje blindam Jair Bolsonaro. Nesse aspecto, a vida continuará a mesma. Por ora, o impeachment segue apenas uma hipótese. Também, a possibilidade de o presidente não chegar à eleição. Continuam as “narrativas” e os ataques nas redes sociais.
*Cientista político. Professor do Insper
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