Folha de S. Paulo
43% dos eleitores citam desemprego,
inflação, fome e outros itens como principais problema do país
O governo tem uma maneira peculiar de
encarar questões urgentes como fome, desemprego e inflação. Enquanto adia a
construção de soluções para esses problemas, Jair Bolsonaro diz que o Brasil é
um dos países que estão se saindo melhor na economia, e Paulo Guedes jura que
as coisas estão "bombando" mais uma vez. Falta combinar com o povo.
A preocupação com temas econômicos chegou ao nível mais alto em 15 anos. Segundo o Datafolha, 43% dos eleitores citam o desemprego, a inflação, a fome, a desigualdade, os salários ou a economia em geral como o principal problema do país atualmente. Os índices são mais altos na população de baixa renda, que é a mais afetada pela crise.
Números como esses não são vistos desde o
fim de 2006, quando saúde, educação, violência e corrupção passaram a dominar a
lista de temas que perturbam os brasileiros. Itens ligados à economia eram
citados por 17% dos eleitores em 2010 e por 12% em 2014. Os índices foram
a 28% no governo Michel Temer e a 26% no fim do primeiro ano de
Bolsonaro.
A dupla Bolsonaro-Guedes comemora os
resultados da economia, mas a população sente o impacto da crise. O desemprego
atinge 14 milhões de brasileiros, a inflação está em 10%, a fome alcançou 19
milhões de pessoas em 2020, e gente que não tem o que comer disputa
restos de carne e ossos nas ruas.
O cenário se tornou um problema político
para o governo. O Datafolha mostrou que 41% dos eleitores veem "muita
responsabilidade" da gestão Bolsonaro na alta de preços, e outros 34%
enxergam "um pouco de responsabilidade". O presidente tenta
escapulir: em palanques pelo país, ele alega que a situação só azedou por culpa
da pandemia, dos governadores, da seca e da geada.
A economia foi um tema secundário da
eleição de 2018. Bolsonaro aproveitou o calor do debate sobre a corrupção e
explorou o medo da violência, mas não apresentou nenhum plano que fosse além de
repetir o nome de Guedes. As coisas devem ser diferentes no ano que vem.
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