quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Nobel 2025: é preciso política inteligente para crescer, por Roberto Luis Troster

O Estado de S. Paulo

Inovações tecnológicas são uma commodity. A questão é como se apropriar delas para nosso progresso

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, por suas contribuições seminais para a compreensão do crescimento econômico impulsionado por inovações técnicas e institucionais.

De acordo com Mokyr, o crescimento sustentado é a combinação de conhecimento com uma sociedade aberta a mudanças. Já a contribuição de Aghion e de Howitt para receberem o prêmio foi pela teoria do crescimento baseada nos pilares de “destruição criativa” e “criação destrutiva”.

O primeiro termo, “destruição criativa”, foi popularizado por Joseph Schumpeter na primeira metade do século passado, apontando como as inovações são propulsoras do progresso. Inovações técnicas e institucionais dando mais eficiência à economia, com ganhos que superam as perdas.

Já a “criação destrutiva” acontece quando a inovação desestabiliza, aumenta a concentração e diminui a capacidade produtiva da economia sem ganhos que compensem. Por exemplo, inovações financeiras que aumentem a especulação, em vez de aumentar o investimento em ativos reais.

Em algumas economias a destruição criativa foi importante com os incentivos adequados; em outras, a falta deles atrasou o desenvolvimento. No Brasil temos as duas situações. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é um exemplo de como novos métodos de produzir no agro substituem outros. O Uber substituindo táxis e a Netflix desafiando as locadoras e a TV tradicional são outros exemplos.

Já no setor financeiro, apesar das inovações, do PIX, das fintechs e outras, o número de negativados pela Serasa aumenta a cada mês. São 8 milhões de empresas e 78 milhões de cidadãos com o “nome sujo”. Isso indica que a inovação não se traduziu ainda em prosperidade para todos.

Os três laureados apontam como a destruição criativa tem de ser administrada de forma construtiva. A mensagem é clara: o crescimento econômico não é espontâneo, é resultado de boa política econômica. O crescimento é mais do que a acumulação de capital, é como ganhar competitividade e produzir.

As inovações tecnológicas são uma commodity atualmente. A questão é como se apropriar delas para nosso progresso. Em tempos de transformações geopolíticas e tecnológicas aceleradas, de ascensão dos Brics, inteligência artificial, transição energética e digitalização, urgem políticas para usar essas transformações em inovações e as inovações no desenvolvimento do Brasil – leia-se investir em educação e pesquisa, desburocratizar e reformar. Crescer mais não é sorte, é uma opção. O Brasil pode mais. •

 

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