quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Não existe outra solução, por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O plano anunciado por Donald Trump, com direito a ofensiva midiática, não trará qualquer perspectiva de paz verdadeira se não abraçar a causa palestina

A criação de um Estado da Palestina independente, soberano e próspero é a única saída para pôr fim ao conflito no Oriente Médio. Qualquer outra medida parece temporária e paliativa, sem atacar o cerne de uma onda de violência, dor e ódio que se arrasta desde 1948. Naquele ano, Israel foi oficialmente criado, com a ajuda do brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960), então presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foge — como o diabo da cruz — de qualquer debate sobre o reconhecimento da Palestina. Talvez pelo fato de saber que a principal justificativa para Israel manter a postura bélica na região passa pela existência do movimento islâmico palestino Hamas, o qual se intitula a "resistênca palestina", e de outras facções, como a Jihad Islâmica. A mescla de fundamentalismo religioso e político se escora na luta pelo Estado Palestino e pelo fim da ocupação.

Se Israel aceitasse acenar com ambas concessões — a coexistência com a Palestina e a retirada completa e definitiva do território palestino, boa parte das causas do conflito deixaria de existir. Faltaria colocar sobre a mesa a questão do retorno dos refugiados e do status quo de Jerusalém. Tanto judeus quanto palestinos não abrem mão de ter a cidade santa como sua capital. Essa inflexibilidade se explica pelo caráter religioso: Jerusalém abriga o Muro das Lamentações, o último vestígio do templo construído pelo Rei Salomão, e o Domo da Rocha, onde o Profeta Maomé teria subido ao céu durante uma única noite, no ano 620. Símbolos sagrados para judaísmo e islamismo.

A questão do retorno dos refugiados também é um entrave importante para a paz no Oriente Médio. Em 1948, depois da criação do Estado de Israel, a primeira guerra-árabe israelense contou com as participações de Iraque, Egito, Síria, Líbano e Jordânia e forçou a expulsão de 700 mil a 800 mil palestinos, além da destruição de 500 vilas. Conhecido pelo palestinos como "Nakba" ("Catástrofe"), o evento espalhou refugiados para os países árabes vizinhos, especialmente Jordânia, Líbano e Síria. Israel argumenta que o regresso dessa população seria inviável e ameaçaria sua própria existência.

O plano anunciado por Donald Trump, com direito a ofensiva midiática, não trará qualquer perspectiva de paz verdadeira se não abraçar a causa palestina. Os Estados Unidos têm uma escolha de Sofia: ou se indispõem com Israel, aliado histórico, e avançam na criação de um Estado palestino, ou enterram essa possibilidade, entram em choque com os aliados árabes e sujam as mãos de sangue, ao avalizarem uma nova onda de violência entre os dois povos. Não existe outra solução para o Oriente Médio que não seja o reconhecimento da Palestina como nação. Chega de um ciclo de ódio interminável! Basta de luto, dor, destruição e opressão! Passou da hora de os palestinos terem sua soberania e sua terra, sem serem ameaçados por uma máquina de guerra.

 

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