segunda-feira, 21 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Saneamento está melhor, mas quadro ainda é vergonhoso

O Globo

Apenas investimentos privados poderão oferecer condições sanitárias dignas, revela novo estudo

Houve, nos últimos anos, avanços no saneamento básico brasileiro, mas a situação continua precária, revelam os dados mais recentes do ranking elaborado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados. Para acabar com os indicadores vergonhosos, é preciso acelerar os investimentos. O Brasil perdeu muito tempo deixando o setor à mercê das empresas estatais de água e esgoto, sem capacidade de investir e dominadas por interesses políticos. Apenas com o Novo Marco Legal do Saneamento, em 2020, a situação passou a melhorar. Infelizmente, em ritmo aquém do necessário para oferecer condições sanitárias dignas à população.

Agora, a questão a resolver é como acelerar os investimentos para atingir a meta de, até 2033, levar água tratada a quase toda a população e o esgoto a 90%. Pelos últimos dados, falta água potável a 16,9% dos brasileiros, e 44,8% não têm coleta de esgoto. Para universalizar os serviços, estima o documento, seria preciso dobrar o volume atual de investimentos — de R$ 22,5 bilhões verificados em 2022 para R$ 46,3 bilhões anuais até 2033.

Hora de ser brasileiro – Fernando Gabeira

O Globo

Desejar uma unidade nacional que transcenda nossas divergências políticas não significa que elas desapareceram

Isso de ser brasileiro é estranho porque, às vezes, passa um tempo esquecido; às vezes, uma certa decepção com as elites políticas aborrece. Mas, ao contrário do verso de Drummond, há um momento em que todos os bares se abrem, e todas as virtudes se afirmam. A carta de Trump fixando uma tarifa absurda sobre os produtos brasileiros é um desses momentos. Como assim, logo o Brasil, que tem déficit comercial com os Estados Unidos?

Felizmente, sou carta fora do baralho em Brasília. Mas isso não me exime de pensar e fazer algo. É uma oportunidade para que todos façam, pois é um tipo de luta aberta a todos, por menor que seja a contribuição de cada um. Pelo menos é assim na visão estratégica que me parece adequada.

As aves que aqui gorjeiam- Demétrio Magnoli

O Globo

Como cantar as glórias do presidente dos EUA quando é o Brasil inteiro que está na mira?

O poeta nostálgico errou. As aves daqui gorjeiam igualzinho às de lá. Transliteram, imitam, transcrevem, copiam, macaqueiam. O boné vermelho de Tarcísio de Freitas, a bandeira das 50 estrelas na mão dos militantes “patriotas”, a pátria é outro país, uma nostalgia invertida, o permanente exílio ideológico. Não podia dar certo, como provou Trump no dia da sanção política que, graças à tentação do autoengano, ainda nomeamos “tarifa”.

Fogo no aviário. Naquele dia, as aves já não sabiam o que gorjear. Tarcísio, Zema, Caiado responsabilizaram Lula, que nem sequer foi mencionado na carta do herói deles. Os filhotes Bolsonaros, fiéis ao texto sagrado e a seus interesses profanos, culparam o STF — ou seja, Alexandre de Moraes. Todos, porém, na primeira hora, cederam ao impulso neural do alinhamento à pátria estrangeira: Trump tem razão.

A favela paga. O Estado não retorna - Preto Zezé

O Globo

É preciso parar de tratar o consumo das periferias como fonte de receita e enxergar esses territórios como prioridade

No Brasil, é sempre a mesma história: quando o governo precisa arrecadar mais, olha para baixo. O recente tarifaço sobre o IOF é mais uma prova disso. O imposto, cobrado sobre operações financeiras como crédito, seguros e câmbio, poderia ser um mecanismo para tributar fortunas e grandes transações financeiras. Mas, na prática, quem sente o peso são os pequenos empreendedores, os trabalhadores endividados e as famílias das favelas.

Ação antecipa efeitos eleitorais que viriam em eventual prisão - César Felício

Valor Econômico

Oposição ao presidente Lula tende a se fragmentar em mais de uma candidatura no campo conservador

A colocação da tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro, na sexta-feira (19), antecipa politicamente os efeitos no cenário eleitoral que eram projetados para o momento de sua prisão, evento aguardado para setembro ou outubro. A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a se fragmentar em mais de uma candidatura no campo conservador. Uma delas tende a ser da família Bolsonaro, com respaldo do presidente americano Donald Trump para contestar desde o início a legitimidade do pleito. Dividirá o espaço com um ou mais dos governadores de siglas do Centrão que se movimentam desde o ano passado para se viabilizarem.

Todos querem sua fatia do orçamento público - Bruno Carazza

Valor Econômico

Corporações do serviço público buscam ficar a salvo do ajuste fiscal e ter liberdade para autoconceder benefícios

Enquanto a sociedade se distrai com os tarifaços de Trump ou as reviravoltas do processo contra Bolsonaro, a deterioração fiscal e a apropriação de recursos públicos por grupos privados correm soltas.

Na semana passada, usei este espaço para denunciar os pagamentos de honorários para advogados públicos, que estavam sendo realizados em valores superiores a centenas de milhares de reais sem a divulgação no portal de transparência do governo federal desde novembro do ano passado.

Num caso raro de resposta rápida a uma cobrança pública, que foi amplificada por reportagens em diversos veículos de imprensa, o governo disponibilizou as informações sobre os valores na quinta-feira. No dia seguinte, uma procuradora da Fazenda Nacional que recebeu R$ 193.226,92 em honorários apenas no mês de janeiro deste ano me procurou numa rede social para me acusar de estar agindo em nome dos grandes escritórios de advocacia da Faria Lima para “sucatear os serviços públicos”.

Cenário complicado com sanção de Trump e mais vendas chinesas - Assis Moreira

Valor Econômico

Produtor nacional terá mais dificuldade para exportar para os EUA e mais pressão interna de produtos chineses

O governo brasileiro começou o ano projetando uma ligeira queda de 5% no saldo da balança comercial neste ano, ficando em torno de US$ 70 bilhões. Recentemente, na segunda previsão, em meio a persistentes turbulências na cena global, Brasília previu -32% no saldo comercial, encolhendo para US$ 50 bilhões, ou US$ 24 bilhões a menos do que em 2024.

Agora, a ameaça de sanção contra o Brasil anunciada por Donald Trump torna a situação ainda mais delicada, ao coincidir com um momento de retração do superavit brasileiro com a China, seu principal parceiro comercial.

Lula define estratégias para enfrentar pressão Trump - Renata Giraldi

Correio Braziliense

A tática reúne duas frentes: uma política, comandada pelo próprio presidente, que busca apoio global em defesa da democracia e da soberania nacional, enquanto Alckmin intensifica as articulações com os empresários em busca de acordos

A menos de duas semanas para o prazo final do tarifaço de 50% sobre os produtos nacionais, estabelecido pelo governo Donald Trump, dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Santiago, no Chile, para intensificar a articulação global em torno da defesa da democracia e da preservação da soberania, enquanto o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reforça as conversas com os empresários.

O governo definiu uma estratégia bem clara para reagir à pressão de Trump. Na corrida contra o relógio, Lula e Alckmin vão evitar falar no ex-presidente Jair Bolsonaro e na família dele. A resposta padrão será que se trata de um assunto do Judiciário, mais precisamente do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim há um evidente esforço de afastar a trama política da diplomática, econômica e comercial. Tanto o presidente da República quanto o vice-presidente vão focar nas negociações e nos eventuais avanços que poderão vir.

Presidentes punidos, democracias fortalecidas - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

No Brasil e na Coreia do Sul, instituições sólidas e competição política freiam desvios e autoritarismos

Esses dez dias na Coreia do Sul me fizeram refletir sobre as semelhanças políticas e institucionais com o Brasil. Ambos os países se tornaram democracias praticamente ao mesmo tempo – o Brasil em 1985, a Coreia do Sul em 1987. São sistemas presidencialistas, multipartidários, em que o presidente concentra amplos poderes constitucionais, mas o Judiciário atua com independência notável.

As coincidências não param nas instituições. Tanto no Brasil quanto na Coreia, a única mulher a ocupar a presidência foi afastada do cargo por impeachment. Park Geun-hye foi condenada a 32 anos de prisão por corrupção, mas cumpriu apenas cinco, após receber perdão do então presidente Moon Jae-in. No Brasil, Dilma Rousseff também teve seu mandato interrompido, embora por crimes fiscais e orçamentários. Já Lula foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção, mas teve a pena anulada pelo STF após 580 dias de cárcere.

Eduardo Bolsonaro sepulta sua carreira - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Deputado precisaria voltar ao país para reassumir o mandato, mas demonstra estar despreocupado com isso

O prazo da licença de Eduardo Bolsonaro na Câmara dos Deputados se encerrou em 20 de julho. Após 120 dias afastado do cargo, o parlamentar precisaria voltar ao Brasil para reassumir o mandato.

No entanto, Eduardo não poderia estar mais despreocupado com o cargo. Inclusive, já afirmou que se voltar ao Brasil agora corre risco de ser preso. Por esse motivo, sua opção provavelmente será: "deixar o tempo correr e perder o mandato por falta".

O motivo de tamanha despreocupação é seu deslumbramento com uma possível candidatura presidencial em 2026. Em uma entrevista recente, comemorou: "Meu nome já figurou em algumas pesquisas, né? Fiquei feliz."

O deputado reconhece que a escolha definitiva pelo representante do bolsonarismo em 2026 depende da decisão do pai. Porém, deixou clara sua intenção caso tenha sinal verde: "Obviamente, se for uma missão dada pelo meu pai, vou cumprir."

Efeitos eleitorais da justiça tributária - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Entre os candidatos, o distributivismo oportunista gera uma espécie de corrida armamentista para ver quem dá mais

Será que a contraofensiva midiática do governo, centrada na questão da justiça tributária, teve impacto na reversão da queda de popularidade do presidente? A questão é muito complexa porque coincidiu, em larga medida, com um choque externo no sistema: o tarifaço de Trump. Mas os dados de pesquisa da Quaest nos ajudam a analisar a questão.

Democracia sempre

A história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho para garantir a paz, a coesão social e as oportunidades para todos

Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta um momento de grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado.

Diante desse cenário, não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança. Em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições. Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas. É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima. Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre.

Golpismo bolsonarista inova com populismo globalizado nas redes

Fabio Victor e Renata Galf / Folha de S. Paulo

Trama golpista e 8/1 guardam semelhanças a aventuras autoritárias do passado, mas com características próprias

Entre tantos golpes e tentativas de golpe ocorridos no período republicano, o golpismo bolsonarista guarda traços semelhantes aos de muitas aventuras autoritárias do passado, mas ao mesmo tempo possui características próprias, que a tornam única nesse imenso painel nacional da infâmia.

Segundo estudiosos do tema, o perfil mais corporativo (para preservar benefícios e manter cargos) por parte de militares, junto a uma mobilização marcada pelo intenso uso de redes digitais numa conjuntura de um populismo de extrema direita globalizado, além de instituições mais robustas, são alguns dos distintivos da trama golpista que levou Jair Bolsonaro (PL) e vários de seus asseclas ao banco dos réus, sob acusação de tramarem impedir a posse de Lula (PT) após a eleição presidencial de 2022.

Poesia | Manuel Bandeira - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Mariana Aydar e Jazz Sinfônica - Espumas ao Vento

 

domingo, 20 de julho de 2025

Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)

"Será necessária a ação política (em sentido estrito) para que se possa falar de "partido político"? Pode-se observar que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais, por necessidade de luta ou por alguma outra razão, dividiram-se em frações, cada uma das quais assume o nome de partido e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma dessas frações, mas opera como se fosse uma força dirigente em si mesma, superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que de um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também "partidos", "frações de partido" ou "funções de determinados partidos",

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Câmara deve dar prioridade à PEC da Segurança

O Globo

Mesmo com alterações, proposta da CCJ preserva o essencial: integração no combate ao crime organizado

É bom augúrio que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara tenha aprovado, por 43 votos a 23, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública. Embora o relator, deputado Mendonça Filho (União-PE), tenha feito alterações no texto original, em linhas gerais ele preserva a essência do projeto. Elaborada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, a PEC amplia a participação federal no combate às organizações criminosas, tarefa de que o Planalto sempre tentou se esquivar temendo desgaste político.

Moraes x Trump: terceirização de um duelo ou inversão de papéis? - Paulo Fábio Dantas Neto*

Riscos de otimismo desejoso são habituais a uma coluna que pretende comentar política, colada na conjuntura. Corri esse risco na semana passada, ao desenvolver e colocar no título do artigo, sem ressalvas suficientes, a interpretação do tarifaço ameaçado pelo presidente norte-americano contra a economia brasileira como uma segunda chance para o governo Lula acertar seu passo. Seguiu-se, entretanto, uma escalada de confrontos verbais e de mútuas medidas práticas de acirramento político. Aglutinação política de forças nacionais heterogêneas e negociação comercial no âmbito da diplomacia são as condições necessárias, vê-se que ainda ausentes, para que o título da coluna expresse realismo.

Freud rides again - Merval Pereira

O Globo

Acredito que Moraes poderia ter esperado um pouco, mas ele também não mede as reações. Tomar esta decisão em cima da carta de Trump para Bolsonaro deixa muito evidente que ele está participando desta disputa com o presidente americano. E se sentindo perseguido, dobra a aposta

Nós aqui quebrando a cabeça, tentando entender o que provocou a ira trumpista contra o Brasil, buscando um pouco de bom-senso nas decisões estapafúrdias tomadas, e tudo pode se resumir a uma questão pessoal.

O BRICS certamente irrita Trump, volta e meia ele bate nessa tecla, especialmente na questão da moeda que substituiria o dólar no comércio internacional. Mas Trump sabe também que o BRICS não é uma ameaça iminente, se é que será ameaça algum dia. Há as big techs, que não querem se responsabilizar pelo que transmitem. Essas são influentes no círculo trumpista e têm poder de fogo. Se equivocam, porém, se consideram que o Brasil não tem força política para regulamenta-las.

Ascensor para o cadafalso- Bernardo Mello Franco

O Globo

Ex-presidente criou novos problemas ao repassar R$ 2 milhões a filho investigado nos EUA

Pouco depois de calçar a tornozeleira eletrônica, Jair Bolsonaro disse estar certo de que será preso. “Estou no cadafalso. Na hora que o soberano Alexandre de Moraes achar que tem que chutar o banquinho, ele chuta”, afirmou.

O capitão sabe que está prestes a ser condenado. Como não consegue rebater as acusações, tenta se vitimizar. Apela ao discurso da perseguição política e se refere ao ministro do Supremo como seu algoz.

Bolsonaro já estava encrencado desde fevereiro, quando a Procuradoria-Geral da República o denunciou por tentativa de golpe de Estado. Depois disso, criou novos problemas ao despachar o filho Eduardo para os Estados Unidos.

O Zero Três articulou o ataque de Donald Trump ao Brasil para chantagear o país e tentar livrar o pai da cadeia. Jair pôs as digitais na operação ao admitir que repassou R$ 2 milhões para bancar o herdeiro no exterior.

E a bandeira mudou de mãos - Míriam Leitão

O Globo

Semana em que o Brasil esteve sob ataque dos Estados Unidos teve um ineditismo: essa é pior crise da relação em 200 anos

A semana já estava lotada de eventos no Brasil, quando um carro da Polícia Federal parou na porta da casa de Jair Bolsonaro, em Brasília, pouco depois das 7h, prenunciando uma sexta-feira daquelas. No Brasil os acontecimentos transbordam os dias. O tempo não cabe nas horas do relógio. Na quarta, fomos dormir num Brasil com normas e leis ambientais ainda insuficientes, mas que haviam melhorado com os anos. Na quinta, acordamos diante dos destroços do licenciamento ambiental, demolição executada no Congresso à 1h52m da madrugada. Do primeiro ao último dia, ficamos sob cerrado bombardeio de Washington, que provocou temores na economia e reviravolta na política. Semana que merecia ser mês.

Os empresários erraram o alvo - Elio Gaspari

O Globo

Ao condenar as retaliações, tiram argumentos de negociadores brasileiros

Na terça-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu-se com um pedaço da elite do empresariado nacional em Brasília. Saindo da reunião, dois empresários condenaram as retaliações. Dias depois, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, foi claro:

“Pessoalmente, sou contra. Acho que tem que esgotar primeiro a parte negocial, e é exatamente isso que nosso governo está fazendo. Estou otimista que chegue a uma conclusão, então a gente não precisaria passar para essa outra etapa que, imagino, vai elevar ainda mais o nível de tensão e estresse na relação. A Embraer será uma das empresas afetadas pelas sanções, e o governo vem brandindo a ameaça de retaliações.”

Declarações como essas sinalizam que o empresariado brasileiro não quer que o Brasil vá à mesa de negociação com a arma das retaliações no coldre. Pena, porque se essa percepção se consolidar, daqui até o início de agosto, ou enquanto durarem as conversas, os negociadores brasileiros entrarão desarmados nas reuniões.

Tempo de Trump vai custar a passar – Dorrit Harazim

O Globo

Americanos começam a sentir o peso destrutivo do Estado policial que elegeram e prefeririam não ver

‘O tempo envelhece depressa’, ensinou o escritor italiano Antonio Tabucchi em belíssimo livro de contos publicado há anos. Quase já não conseguimos mais habitá-lo (o tempo), tamanho é nosso desassossego contemporâneo. Estamos cada vez mais aprisionados ao turbilhão do momento, à sensação de aceleração e fragilidade do mundo. Esquecemos quanto a História é apenas um rosário de momentos que o futuro se encarrega de trançar. A política, de modo geral, e os políticos medíocres, em particular, gostam pouco de elucubrações sobre o tempo — e ainda menos de ensinamentos da História. Vão atropelando para não ser atropelados por suas próprias fraquezas. Tome-se como exemplo o 45º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Sanções de Trump ao Brasil miram a presença chinesa no continente – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Os Estados Unidos não têm condições de competir com a China em termos comerciais e de investimento, mas detêm o domínio do continente por meios financeiros, tecnológicos e militares

Há mais coisas entre o céu e a terra do que os aviões da Embraer e o Pix, diria Aparício Torelli, o Barão de Itararé, sobre a crise comercial e diplomática do Brasil com os Estados Unidos, que pode se tornar uma das maiores de nossa história. Teve como gatilho o julgamento do Jair Bolsonaro, mas é multifacetada e, por isso mesmo, pode escalar ainda mais, em razão das medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes ao ex-presidente e referendadas pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Em resposta, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, revogou os vistos americanos de Alexandre de Moraes, "seus aliados e familiares imediatos".

Ortega – circunstância e perspectiva - Celso Lafer

O Estado de S. Paulo

Para Ortega, pensar não é apenas ver e analisar as circunstâncias e as perspectivas. É ação intelectual que se abre para o conviver

Ortega y Gasset (1883-1955) foi um pensador vigoroso e intrépido, com notável percepção do mundo em que estamos inseridos.

Recolocou com o poder irradiador da sua palavra o universo ibérico no campo do conhecimento filosófico.

É sua a conhecida formulação inaugural que enunciou em Meditações sobre o Quixote (1914): “Eu sou eu e as minhas circunstâncias, agregando que, se não as salvo, não me salvo”.

Terras raras são trunfo contra tarifaço - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Uma das frentes em meio à guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump para tornar a América grande novamente tem sido mirar em países com potencial de fornecimento de terras raras para diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação à matéria-prima chinesa.

Esses elementos estão no centro das negociações geopolíticas e representam uma das principais armas da China nas tratativas comerciais que se seguiram ao tarifaço. São minerais essenciais para a indústria tecnológica, bélica e para o novo setor da economia verde. Estão presentes em turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, aparelhos médicos, painéis solares, sistemas de mísseis e radares.

Você decide - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

‘Make America great again’ ou ‘salve o Brasil de Trump e Bolsonaro’

A guerra pessoal e alucinada de Donald Trump contra o Brasil está indo longe demais e o lobista do caos, Eduardo Bolsonaro, avisa que vem mais por aí. O último drone foi a suspensão dos vistos do PGR Paulo Gonet, oito dos 11 ministros do STF e suas famílias, sob ameaça de fechamento do espaço aéreo americano para aeronaves brasileiras. Tudo isso porque um ex-presidente da República está sendo julgado e tende a ser preso por tentativa de golpe de Estado, num processo rigorosamente legal?

Tratado por Trump como uma ameaça maior do que seu amigão Netanyahu e seu vai e vem Putin, que desafiam o mundo e destroem Gaza e Ucrânia, Alexandre de Moraes dá de ombros. Entre seus colegas togados, avisa que não tem conta nos EUA, não tem negócios nos EUA e não tem planos de visitar o Mickey na Disney. Mas... cutucar loucos violentos é brincar com fogo.

Samuel Pessôa: EUA estão com reputação abalada e já são tratados como economia emergente

Luiz Guilherme Gerbelli / O Estado de S. Paulo

Na avaliação de do pesquisador do FGV/Ibre, o governo brasileiro dá sinais de que não deve retaliar os Estados Unidos

Pesquisador associado do Ibre/FGV, Samuel Pessôa avalia que as decisões econômicas adotadas pelo presidente norte-americano Donald Trump, com a escalada da guerra comercial, estão levando os Estados Unidos a serem tratados “como uma economia emergente”.

“Os Estados Unidos estão com a sua reputação muito abalada. Nesse choque, o dólar se desvalorizou e os juros de longo prazo da economia americana aumentaram”, afirma.

Na avaliação de Pessôa, o governo brasileiro dá sinais de que não deve retaliar os Estados Unidos. Se o País responder, avalia, pode haver uma piora da inflação brasileira.

“Na análise econômica, fica claro que o interesse do Brasil é não retaliar. E eu acho que também é do interesse do próprio presidente Lula, porque tem uma eleição à frente, e a inflação é um tema delicado.”

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Trump, tarifas e oportunidade política – Juliana Diniz*

O Povo (CE)

Ao impor tarifas sancionatórias ao Brasil sob o pretexto de salvar Bolsonaro, Trump expôs didaticamente à nação uma constatação: Bolsonaro e filhos são uma ameaça à saúde política e econômica do País

O voluntarismo da política americana, personificado na figura de um presidente irracional e volúvel, tem sido tema desta coluna há algumas semanas. Nosso objetivo foi propor uma reflexão sobre a incompatibilidade entre Estado de Direito e incerteza quanto ao futuro: a democracia exige previsibilidade legal. Precisamos reconhecer, contudo, que esse voluntarismo, em geral maléfico para qualquer gestão, acabou por oferecer uma chance única de recuperação ao presidente Lula e ao seu governo.

Trump contra o Pix - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Quando Bolsonaro chamou uma superpotência para intervir no Brasil, topou esses riscos todos

A família Bolsonaro sempre teve uma relação complicada com o Pix. No dia em que o Pix foi lançado pelo Banco Central, a imprensa perguntou o que o então presidente Jair Bolsonaro achava da iniciativa. Sem ter a menor ideia do que se tratava, Jair perguntou se era um negócio de aviação civil. Na campanha de 2022, mentiu que tinha criado o Pix.

Mas os Bolsonaros parecem não ter aprendido a usar a nova tecnologia. Pelo que vimos na última busca e apreensão, agora estocam dólares. Também costumam comprar seus imóveis com dinheiro vivo.

Donald Trump comunicou ao Brasil que quer acabar com o Pix. Enquanto tenta livrar da cadeia o pior criminoso de nossa história republicana, o companheiro de farra do pedófilo Jeffrey Epstein resolveu roubar nosso dinheiro.

Bolsonaro e o fim da empatia - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Rolou um déjà-vu desgraçado de quando a gente acordava pensando em qual seria o pesadelo do dia

Era para ser uma crônica sobre como homens e mulheres ainda consideram amizade entre gênero ficção cientifica, afinal, macho que é macho não consegue controlar o bilau dentro das calças. Mas o Brasil acordou com a Polícia Federal na porta de Jair Bolsonaro na sexta-feira (18). Toc toc toc. Como ignorar as notícias e, principalmente, os memes? Pensei, que a justiça seja feita –e fui tocar a vida.

Em frente à minha casa tem uma estação de bicicletas. Todos os dias, renovo minha fé em não ter mais carro e ainda contar com uma opção ecologicamente correta, saudável e charmosa. Acho sexy adultos que circulam de bike e não de SUVs. Obrigada, Itaú, pela graça alcançada. Mas quando eu pegava a magrela, a TV do bar mostrava, de novo, aquela cara sebosa falando que nunca viu um pendrive. Meti um Oasis no fone de ouvidos para lembrar como a década de 1990 foi boa e a gente sabia.

Truculência debilita direita – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Com Bolsonaro ligado a uma tornozeleira, o centrão terá de rever seus planos eleitorais para 2026

A truculência custou a reeleição a Jair Bolsonaro (PL) e agora o leva ao caminho do infortúnio pessoal e da inevitável perda de relevância no cenário nacional.

A trilha foi aberta pelo filho Eduardo (PL) no afã de posar como fonte de inspiração de Donald Trump na ofensiva por imposição de prejuízos ao Brasil.

Começou exigindo anistia ao pai e acabou colocando nele uma tornozeleira de vigilância cautelar, a fim de que não repita a façanha de Carla Zambelli (PL) que fugiu do país nas barbas da justiça. É o mesmo 03 da bazófia sobre fechar o Supremo Tribunal Federal com "um cabo e um soldado".

Geopolítica da loucura encenada - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Produto das telas e redes, portanto, de um novo tipo de estupidez, Trump busca nobreza eleitoral na insanidade

O imperador Calígula dizia ser um deus e conversar com a lua. Sanguinário, devasso, aperfeiçoava métodos de tortura, exilava cidadãos. Encabeça a lista dos governantes absolutistas mais loucos do mundo, próximos às ideias monarquistas de Curtis Yarvin, pensador da extrema direita, consultor de Elon Musk para um terceiro partido. Seria apressado associá-los a Trump, embora a crueldade do régulo americano tenha afinidade com o rol histórico dos desatinados. Eleito, ele veste carapuça imaginária de imperador, com fúria caligulesca de deportações e sombrios rumores sexuais. Mas de olho além da Lua, em Marte.

Supremacia cristã - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra origens religiosas do antissemitismo e do racismo contra negros

"Christian Supremacy", de Magda Teter, é uma obra de fôlego que mostra as origens comuns do antissemitismo e do racismo contra negros. O pecado original é a religião.

Os primeiros cristãos queriam ao mesmo tempo uma religião que fosse nova, podendo expandir-se sem embaraços, e que gozasse da respeitabilidade de uma tradição mais longa. A solução foi inscrever o cristianismo no judaísmo. O novo credo já estaria previsto nas profecias de uma fé bem mais antiga e teria vindo para substituir a antiga aliança por uma nova (supersessionismo).

Mickey sem Disney - Pablo Spinelli*

Planeta Terra, 2054. Mickey Barnes e seu amigo Timo estão falidos após um fracasso nos negócios e fugindo de um agiota. Sem alternativas, eles se alistam como tripulantes de uma nave que deixa a Terra para colonizar o planeta Nilfheim, projeto do ambicioso casal Kenneth Marshall e sua esposa, Gwendolyn. Enquanto Timo vira parte da equipe de pilotos da nave, Mickey, de forma involuntária e impensada torna-se um “descartável”, um ser humano que terá sua memória condensada e seu corpo será morto com direito a reimpressões que trazem o mesmo corpo de volta, mas com personalidades diferentes. Eis que chega na versão de número 17, que começa por conta de acasos a não encontrar a morte que é dada como certa pela nave, com a versão 18 acabando por ser reimpressa, dilemas para versão 17 começam a surgir, sendo o principal a certeza do fim do seu eterno retorno.

Poesia | Adriana Calcanhotto - O elefante, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Teresa Cristina - Feitio de Oração (Noel Rosa)

 

sábado, 19 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

STF segue a lei ao adotar medidas contra Bolsonaro

O Globo

Ex-presidente já deu inúmeras provas de que seu maior objetivo é salvar a própria pele

Está dentro do regramento legal brasileiro a Justiça tomar medidas preventivas contra Jair Bolsonaro. Em sua petição, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou “novas medidas cautelares que possam assegurar a aplicação da lei penal e evitar a fuga do réu”. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou que Bolsonaro terá de usar tornozeleira eletrônica, não poderá falar com diplomatas nem com seu filho Eduardo Bolsonaro, não poderá usar redes sociais e será obrigado a ficar em casa à noite e aos fins de semana.

A decisão de Moraes está baseada no que ele considera “claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões da prática de atos criminosos” com o objetivo de obstruir as investigações e atentar contra a soberania nacional. Está implícita, porém, a tentativa de evitar que ele busque asilo político numa embaixada ou saia do país ilegalmente antes do fim do julgamento em que é acusado de tentar dar um golpe de Estado. Seria uma desmoralização para o Judiciário e um mau exemplo para o futuro se ele conseguisse driblar decisão de tamanha relevância para a democracia brasileira.

A difícil resposta brasileira – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Que fazer com os produtos que não poderão ser destinados aos Estados Unidos? Depende do setor, mas todos perderão

Só existe uma possibilidade de Brasil e Estados Unidos estabelecerem uma negociação técnica em torno das tarifas: a reviravolta completa na posição do presidente Donald Trump. Ele precisaria abandonar o tipo de chantagem que impôs — trocar o tarifaço pela anistia a Bolsonaro. Qual a chance de acontecer? Perto de zero.

O leitor certamente estranhará esse “perto” de zero. Mas estamos falando de Trump, um político que não tem nenhum problema em mudar de lado. E sabemos que, nos meios empresariais americanos, muita gente tem dito, nos bastidores, que seria mau negócio também para os Estados Unidos derrubar o comércio com o Brasil. Mas abandonar a chantagem seria abandonar Bolsonaro. Improvável, se não impossível. Além disso, Trump não está nem um pouco preocupado com questões técnicas.

O STF político por inteiro – Pablo Ortellado

O Globo

Há alguns anos, o Supremo, diante do descaminho autoritário do bolsonarismo, adotou a teoria da democracia militante. A teoria foi elaborada nos anos 1930 pelo jurista alemão Karl Loewenstein para proteger a democracia liberal das ameaças de grupos fascistas.

Segundo Loewenstein, os fascistas se valiam das liberdades asseguradas pela Constituição para se organizar com o objetivo de derrubar o próprio regime democrático. Por isso, a democracia deveria desenvolver mecanismos de autodefesa, como a proibição de que grupos políticos usem uniformes ou portem armas, a imposição de punições severas para atos de subversão da ordem democrática e, em última instância, o banimento de organizações cuja ideologia e visão de mundo sejam incompatíveis com os princípios democráticos.