domingo, 20 de julho de 2025

Terras raras são trunfo contra tarifaço - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Uma das frentes em meio à guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump para tornar a América grande novamente tem sido mirar em países com potencial de fornecimento de terras raras para diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação à matéria-prima chinesa.

Esses elementos estão no centro das negociações geopolíticas e representam uma das principais armas da China nas tratativas comerciais que se seguiram ao tarifaço. São minerais essenciais para a indústria tecnológica, bélica e para o novo setor da economia verde. Estão presentes em turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, aparelhos médicos, painéis solares, sistemas de mísseis e radares.

O Brasil detém a segunda maior reserva mundial, atrás apenas da China. Essa condição pode ser usada como trunfo nas negociações para revogar ou ao menos aliviar as tarifas de 50% que o presidente Trump ameaça impor ao País.

Em maio, Trump forçou a Ucrânia a assinar um acordo para a exploração de jazidas no país, em troca da ajuda bilionária concedida no seu conflito com a Rússia. Mais recentemente, o governo dos Estados Unidos tornou-se acionista de uma mineradora privada, com o objetivo de turbinar a produção e o fornecimento de ímãs de terras raras nos Estados Unidos.

São movimentos que evidenciam que o Brasil precisa se posicionar estrategicamente no fornecimento global desses materiais. A criação de uma cadeia produtiva para mineração, beneficiamento e refino desses minerais no Brasil tem potencial para acrescentar até R$ 243 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) nas próximas duas décadas.

Em estudo recente assinado pela economista Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, a falta de um marco regulatório para a exploração – condição necessária para viabilizar investimentos – é apontada como entrave grave. Falta também melhorar o mapeamento do potencial de reservas.

Se Trump se utiliza do gigantismo secular do seu país para impor tarifas com o objetivo de destravar concessões ou parcerias, o Brasil pode abandonar a postura reativa e usar uma de suas mais valiosas cartas: adotar uma estratégia de barganha com base no seu potencial mineral.

Também está sobre a mesa a proposta de desenvolver a cadeia produtiva do produto final a partir desses materiais. Essa seria uma forma de romper com a sina de apenas exportar minério bruto para depois importar produtos com valor agregado. E ainda abriria espaço para negociar transferência de tecnologia, parcerias para industrialização local e investimento em infraestrutura de processamento em território nacional.

 

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