domingo, 20 de julho de 2025

Trump contra o Pix - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Quando Bolsonaro chamou uma superpotência para intervir no Brasil, topou esses riscos todos

A família Bolsonaro sempre teve uma relação complicada com o Pix. No dia em que o Pix foi lançado pelo Banco Central, a imprensa perguntou o que o então presidente Jair Bolsonaro achava da iniciativa. Sem ter a menor ideia do que se tratava, Jair perguntou se era um negócio de aviação civil. Na campanha de 2022, mentiu que tinha criado o Pix.

Mas os Bolsonaros parecem não ter aprendido a usar a nova tecnologia. Pelo que vimos na última busca e apreensão, agora estocam dólares. Também costumam comprar seus imóveis com dinheiro vivo.

Donald Trump comunicou ao Brasil que quer acabar com o Pix. Enquanto tenta livrar da cadeia o pior criminoso de nossa história republicana, o companheiro de farra do pedófilo Jeffrey Epstein resolveu roubar nosso dinheiro.

O Pix concorre diretamente com empresas americanas poderosas: as grandes bandeiras de cartão de crédito, serviços de pagamentos como o PayPal, empresas de remessa de dinheiro que temem uma eventual integração global de sistemas similares ao Pix brasileiro (algo muito mais viável do que a "moeda do Brics").

O Pix faz tudo que essas empresas fazem, menos uma coisa: cobrar do usuário.

E é isso que o governo americano quer fazer: substituir o Pix gratuito por empresas americanas que vão ficar com parte do dinheiro dos brasileiros através de taxas e anuidades.

Como disse o ministro Fernando Haddad, Trump vai realizar o sonho de Nikolas Ferreira: taxar o Pix.

Nessa hora vai me aparecer bolsonarista dizendo, "peraí, eu não queria acabar com o Pix! Não queria ferrar o agronegócio nem a Embraer! Eu só queria que o Trump desse um susto no Xandão para ver se ele soltava o Jair".

Meu amigo, você convidou uma superpotência estrangeira para interferir no seu país. Você ofereceu a ela o discurso para justificar a agressão contra o Brasil, pôs à disposição dos estrangeiros sua bancada parlamentar, suas redes de desinformação, mentiu para eles que a população brasileira os apoiaria.

Daí em diante, você achou que aconteceria o quê? Achou que controlaria a superpotência? Que ela agrediria o Brasil sob seu comando? Que você decidiria quais sanções seriam aplicadas, na dosagem e contra os alvos que você achasse apropriados?

Você achou que eles viriam brigar por você de graça? Depois que você lhes abriu a fronteira, por que eles não aproveitariam a oportunidade para roubar os brasileiros? Quem vai impedi-los? Você?

Quando Bolsonaro chamou uma superpotência para intervir no Brasil, topou esses riscos todos. Topou o risco de Trump aproveitar a oportunidade para quebrar justamente os setores mais competitivos de nossa economia, os que conseguem competir no mercado americano.

Jair, que mandava as pessoas arriscarem a vida em trens lotados durante a pandemia, topa quebrar a economia para não ser preso. Afinal, para quem não se comoveu com 700 mil mortos por Covid-19, o que são 100 ou 200 mil brasileiros perdendo o emprego?

Se essa tornozeleira tivesse sido colocada no começo de 2020, haveria centenas de milhares de brasileiros a mais. E Trump não teria tido a chance de colocar o Brasil em lockdown, não para preservar nossa saúde, mas para impedir que nos curemos da doença Jair Bolsonaro.

 

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