Folha de S. Paulo
Quando Bolsonaro chamou uma superpotência
para intervir no Brasil, topou esses riscos todos
A família Bolsonaro sempre teve uma relação
complicada com o Pix.
No dia em que o Pix foi lançado pelo Banco Central,
a imprensa perguntou o que o então presidente Jair
Bolsonaro achava da iniciativa. Sem ter a menor ideia do que se
tratava, Jair perguntou se era um negócio de aviação civil. Na campanha de
2022, mentiu que tinha criado o Pix.
Mas os Bolsonaros parecem não ter aprendido a
usar a nova tecnologia. Pelo que vimos na última busca e apreensão, agora estocam
dólares. Também costumam comprar seus imóveis com dinheiro vivo.
Donald Trump comunicou ao Brasil que quer acabar com o Pix. Enquanto tenta livrar da cadeia o pior criminoso de nossa história republicana, o companheiro de farra do pedófilo Jeffrey Epstein resolveu roubar nosso dinheiro.
O Pix concorre diretamente com empresas
americanas poderosas: as grandes bandeiras de cartão de crédito, serviços de
pagamentos como o PayPal, empresas de remessa de dinheiro que temem uma
eventual integração global de sistemas similares ao Pix brasileiro (algo muito
mais viável do que a "moeda do Brics").
O Pix faz tudo que essas empresas fazem,
menos uma coisa: cobrar do usuário.
E é isso que o governo americano quer fazer:
substituir o Pix gratuito por empresas americanas que vão ficar com parte do
dinheiro dos brasileiros através de taxas e anuidades.
Como disse o ministro Fernando
Haddad, Trump vai realizar o sonho de Nikolas
Ferreira: taxar o Pix.
Nessa hora vai me aparecer bolsonarista
dizendo, "peraí, eu não queria acabar com o Pix! Não queria ferrar o
agronegócio nem a Embraer! Eu só queria que o Trump desse um susto no Xandão
para ver se ele soltava o Jair".
Meu amigo, você convidou uma superpotência
estrangeira para interferir no seu país. Você ofereceu a ela o discurso para
justificar a agressão contra o Brasil, pôs à disposição dos estrangeiros sua
bancada parlamentar, suas redes de desinformação, mentiu para eles que a
população brasileira os apoiaria.
Daí em diante, você achou que aconteceria o
quê? Achou que controlaria a superpotência? Que ela agrediria o Brasil sob seu
comando? Que você decidiria quais sanções seriam aplicadas, na dosagem e contra
os alvos que você achasse apropriados?
Você achou que eles viriam brigar por você de
graça? Depois que você lhes abriu a fronteira, por que eles não aproveitariam a
oportunidade para roubar os brasileiros? Quem vai impedi-los? Você?
Quando Bolsonaro chamou uma superpotência
para intervir no Brasil, topou esses riscos todos. Topou o risco de Trump
aproveitar a oportunidade para quebrar justamente os setores mais competitivos
de nossa economia, os que conseguem competir no mercado americano.
Jair, que mandava as pessoas arriscarem a
vida em trens lotados durante a pandemia, topa quebrar a economia para não ser
preso. Afinal, para quem não se comoveu com 700 mil mortos por Covid-19, o que
são 100 ou 200 mil brasileiros perdendo o emprego?
Se essa tornozeleira tivesse sido colocada no
começo de 2020, haveria centenas de milhares de brasileiros a mais. E Trump não
teria tido a chance de colocar o Brasil em lockdown, não para preservar nossa
saúde, mas para impedir que nos curemos da doença Jair Bolsonaro.
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