O Estado de S. Paulo
O cronista não sabe quem Lula indicará a ministro do Supremo. Talvez já o tenha feito, no intervalo entre a entrega e a publicação deste texto. Sabe, porém, qual perfil o presidente projetou para o ocupante da cadeira a ser deixada por Barroso, a poucos dias de descansar a defesa da democracia num retiro esotérico indiano. Uma evolução, se considerarmos que aquele que nos protegeu de nós mesmos – e que quer aparecer até o final, ainda que à custa de incitar tema divisivo –, acreditara em João de Deus.
O cronista digressiona... O perfil? É o de
Flávio Dino, explicitamente o de Dino, senador togado, tesoureiro de emendas
parlamentares, que veio para compor e desenvolver a bancada governista na Corte
constitucional, não à toa compreendida, donde explorada, como terceira casa
legislativa, tribunal revisor do Congresso, ou “poder moderador” da República,
segundo o maledicente.
Se Lula vai mesmo acelerar o discurso
eleitoreiro em que os interesses de seu governo sejam os da população, o
Parlamento como “inimigo do povo”, precisará ainda mais de tributaristas como
Alexandre de Moraes para lhe garantir os IOFs necessários a financiar o
programa de reeleição.
O perfil de Dino, essa referência, é também o
de Jorge Messias, advogado-geral da União e braço de confiança para toda obra.
Militante à esquerda, proativo, vocacionado a se mover de ofício e ascendente
articulador-comentador da cena política que se desdobra nos convescotes de
Brasília. O próprio Messias, havia tempo pretendente ao cargo, sacou
rapidamente o espaço que deveria ocupar e, digamos, as qualidades que
precisaria aprimorar e exibir. Seu comportamento em rede social – a forma como
se comunica – ilustra a execução de um projeto e a adequação ao physique du
rôle.
Messias encarna o perfil – perseguiu o perfil
– e pôs três ou quatro corpos de frente. É verdade que Davi Alcolumbre,
imperador do Congresso, trabalha muito pelo jurista Rodrigo Pacheco, decerto
mais jurista que Dias Toffoli e candidato declarado – normalizado o vício – de
alguns dos ministros mais influentes do STF, que “é jogo para adultos”.
Verdadeiro também sendo que Alcolumbre, um grande partido, não raro
instrumentaliza seus pachecos para subir o preço das negociações com o Planalto
e aumentar a superfície de suas propriedades na máquina federal. Não se oporia
muito mais a Messias, todo mundo sabedor de que o Senado afinal aprovará
qualquer que seja o indicado.
Bessias não é criança. Pensase em matéria
jurídica – em quaisquer assuntos relativos ao Direito – neste governo e logo se
impõe a figura do AGU. Não a de Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça.
Messias tomou o pedaço outrora preenchido por Dino e se espalhou. Não é amigo
de Lula, que não quer um amigo no STF. É o advogado-geral da União no governo
de um presidente que já indicara o advogado pessoal para o Supremo. Melhor um
advogado – leal – que um amigo no tribunal. •
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