Mudam divisórias, PT e PSB ganham mais espaço, PMDB e PSDB perdem salas, mas
as estruturas do edifício do poder continuam inalteradas no Brasil. Os petistas
ocupam a cobertura há 10 anos, mas o restante do prédio é dividido entre 30
condôminos. O PT elege o síndico, mas não administra o condomínio sem ceder
poder a outros. Ninguém tem hegemonia. E é bom que seja assim.
O PT sai maior das urnas, mas com direito a ocupar apenas 11% das
prefeituras e a governar 20% do eleitorado local. Tudo bem que isso inclui o
canto mais populoso do edifício, a sala São Paulo, mas está longe de configurar
um domínio da política brasileira. O partido de Lula cresce, mas não é o único.
O PSB vem na cola e tem seus próprios planos.
O partido do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, elegeu 131 prefeitos
a mais do que em 2008 e entrou para o seleto clube dos 10%: os prefeitos do PSB
passarão a governar uma fatia que corresponde a 11% do eleitorado local a
partir de janeiro. A sigla dobrou o que conseguira quatro anos atrás: governará
15 milhões de eleitores. Só outros três partidos estão nesse clube.
A base municipal obtida pelo PSB é necessária para o partido barganhar
melhores condições numa coligação presidencial, mas, sem articulações com
outras siglas, é insuficiente para lançar o governador pernambucano à sucessão
de Dilma Rousseff (PT) na disputa de 2014. Por isso, devem crescer as conversas
de Campos com os tucanos, por exemplo.
O PSDB viu sua participação no bolo do eleitorado municipal cair de 14% para
13% nesses quatro anos. A maior queda foi a do PMDB: de 22% para 17% do
eleitorado municipal. A fatia do PT cresceu de 16% para 20%.
Todas essas participações são maiores do que o pedaço do bolo que está no
prato de Eduardo Campos, por enquanto. Mas o tamanho e a distribuição das
fatias devem continuar mudando mesmo depois de terminada a apuração.
Há, por exemplo, as conversas de fusão entre o PP de Paulo Maluf com o PSD
de Gilberto Kassab. O primeiro encolheu, e o segundo roubou prefeitos e
prefeituras de todos os partidos médios e virou uma sigla com boa penetração
nos rincões do Brasil profundo. O PSD é uma contradição em termos: cresceu, mas
encolheu. Os seus 497 novos prefeitos governarão, juntos, um eleitorado
equivalente ao que Kassab deixará de governar.
Mesmo assim, se PSD e PP virarem PSDP ou PPSD comandarão 966 prefeituras e
governarão 16 milhões de eleitores. Ficariam em segundo lugar no ranking de
prefeitos e em quarto no de eleitorado a governar. Como serão, na imensa
maioria, cidades pequenas, não devem movimentar muito dinheiro, mas, a depender
a distribuição geográfica, têm potencial para eleger a terceira ou quarta maior
bancada de deputados federais em 2014.
Falsa hegemonia. Colocados em perspectiva, os avanços do PT mostram que o
partido de Dilma e Lula está longe de ter se tornado hegemônico: 89% das
prefeituras e 80% do eleitorado municipal estarão nas mãos de outras legendas
partidárias. Não dá para fazer o que bem entender na assembleia do condomínio
sem colher uma reação negativa dos outros condôminos. O poder petista é
consorciado. Para ser exercido continuará dependente de alianças.
O resultado do 2.º turno em si mostra que quando o PT enfrenta um duelo dois
a dois e seu desempenho piora bastante. Dos 22 segundos turnos que disputaram,
os petistas ganharam só em oito municípios. A taxa de sucesso foi de apenas
36%, praticamente duas derrotas para cada vitória.
Essa é uma característica do PT. Para continuar crescendo, o partido de Lula
precisará fazer um esforço cada vez maior. Como elege proporcionalmente menos
candidatos do que o PMDB e o PSDB, por exemplo, precisará lançar um número
ainda maior de postulantes a prefeito em 2016 para aumentar sua fatia de poder
municipal. Até agora tem conseguido, mas a um custo relativamente mais alto do
que o de seus aliados e rivais.
O PT chegou ao posto de maior partido brasileiro graças a uma organização
nacional, a um projeto de poder e a lideranças carismáticas. Seu principal
concorrente, o PSDB, tem uma lição de casa mais trabalhosa. Precisa renovar
suas lideranças, ajustar seu discurso eleitoral e corrigir deficiências
regionais.
Das sete centenas de prefeitos tucanos, 45% estão concentrados em São Paulo
(176) e em Minas Gerais (142). Isso pode ser um problema para o PSDB eleger
deputados federais em 2014, principalmente no Ceará, na Bahia e no Rio Grande
do Norte.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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