segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Signo da renovação - Tereza Cruvinel


A conquista da prefeitura de São Paulo fez do PT o partido vitorioso na eleição municipal, por tudo que o cargo representa e por tudo que uma derrota ali representaria: outras vitórias seriam minimizadas e trunfos importantes, como a colheita do maior número de votos no país, seriam menosprezados. O PSDB sofreu uma derrota de grandes proporções em São Paulo, mas, com vitórias em outras paragens, embora de menor relevância, como em Belém e Manaus, o partido conserva o posto de maior legenda de oposição e formula o discurso de que, no conjunto do país, melhorou seu posicionamento anterior. Aliás, como no primeiro turno, o resultado propicia discursos otimistas a todos os partidos. Perdas e ganhos à parte, as duas siglas polares da política nacional saem da eleição com um desafio comum: renovar seus quadros, produzir uma nova elite dirigente e lançar novos atores políticos para substituir a geração ainda vinculada ao período da resistência ao regime militar.

A eleição do petista Fernando Haddad confirma essa necessidade, reconhecida ontem, em relação ao PSDB, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em São Paulo, da parte do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva identificou essa demanda do eleitorado e tratou de responder com ousadia, lançando um candidato "sangue novo", desconhecido do eleitorado e sem experiência eleitoral. Mas o PT não fez o mesmo em todo o país. Onde atendeu ao anseio por renovação, com candidato próprio ou de partidos aliados, foi bem-sucedido. Outros partidos que atenderam à demanda por renovação foram exitosos. Velhas raposas, com João Castelo, em São Luís, foram derrotadas por emergentes na política, como Edivaldo Holanda, da coligação PTC-PCdoB. A eleição de prefeitos e vereadores é o momento natural de renovação das fileiras partidárias. Depois, uma espécie de darwinismo político selecionará aqueles que galgarão outras posições e disputarão outros pleitos.

Para os tucanos, a necessidade de renovação deriva do envelhecimento ou da fadiga eleitoral de seus nomes mais notáveis, como o próprio José Serra. Candidatos alternativos havia, bem como já era sabido, quando o partido optou por Serra, que o PT faria um lance ousado com Haddad. Um dos postulantes no PSDB era o secretário estadual de Energia, José Aníbal, que, embora não sendo exatamente novo na política (já foi deputado e mais de uma vez secretário de estado), para o eleitorado seria uma novidade. Mas, como outros postulantes, foi atropelado pela engrenagem serrista. Arthur Virgílio, eleito em Manaus, é da primeira geração tucana, mas os demais prefeitos eleitos pelo PSDB, nos dois turnos, como Zenaldo Coutinho (Belém) e Rui Palmeira (Maceió), entraram na vida política depois da restauração democrática (1985).

Para disputar a presidência, o PSDB agora só tem Aécio Neves, que, embora seja da primeira geração tucana, é jovem o suficiente para ser considerado como novidade no plano nacional. Mas a carência de quadros novos é tão grande, inclusive em Minas, que ele lançou um técnico sem experiência política, Antonio Anastasia, para sucedê-lo, numa ousadia parecida com a de Lula com Haddad. Teve êxito. No primeiro turno, ganhou a disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, mas apoiando um nome do PSB, Marcio Lacerda, depois de atuar para afastá-lo do PT. Atento à demanda pela renovação política, o PSDB planeja valorizar nomes que emergiram agora, ainda que não tenha sido vitoriosos, como o jovem Daniel Coelho, terceiro mais votado no Recife, no primeiro turno.

Para o PT, o imperativo da renovação é agravado pelo julgamento do mensalão. Dois fundadores da maior importância, José Dirceu e José Genoino, foram aniquilados pelo julgamento, e outro, Antonio Palloci, foi triturado por escândalos que o tiraram dos governos de Lula e de Dilma. Ao longo dos 10 anos em que o PT governa o Brasil, alguns deixaram o partido, outros ficaram pelo caminho. Lula, com sua fina intuição, prepara o prefeito reeleito de São Bernardo, Luiz Marinho, para concorrer ao governo de São Paulo. Mas o dilema do PT é a renovação nacional e, especialmente, a criação de uma elite dirigente.

Fora isso, a eleição só lhe trouxe bons resultados e augúrios. Apesar dos prognósticos de que sofreria uma devastação eleitoral por conta do julgamento do mensalão, o PT foi o partido mais votado e será majoritário entre os municípios mais populosos e ricos. O maior número de prefeituras continuará com seu parceiro, o PMDB. A aliança PT-PMDB, por sinal, sai fortalecida e consolidada, apontando para a reedição da chapa Dilma-Temer em 2012. O resto, a vista não alcança. Depende da economia, das políticas públicas e da boa gestão do patrimônio político que o eleitorado lhe entregou.

O futuro do PSB. O PSB sai da eleição municipal com um crescimento superior a 40% em número de prefeituras, o governo de cinco capitais e de cidades importantes, como Campinas, Duque de Caxias e Petrópolis. Foi uma ascensão, mas, apesar dela, trata-se ainda do quinto maior partido no plano municipal. Houve, sim, um importante deslocamento para outras regiões, fora do Nordeste.

Muita especulação será feita agora sobre o destino de Eduardo Campos e de seu partido. Como aliado histórico, o PT deve estar ressentido com as derrotas que lhe foram impostas pelo parceiro, tal como em Fortaleza e Campinas, no segundo turno, afora Belo Horizonte e Recife no primeiro.

Mesmo assim, se o PT não tratar agora de uma reconciliação efetiva, pode ver o PSB deslocar-se para o outro campo, e não necessariamente lançando a candidatura de Campos a presidente em 2014. Sozinho, o PSB pode não ter bala na agulha para tanto. Mas está no ar (e nas urnas) o flerte com o PSDB, que precisa cada vez mais de uma nova coalizão. O DEM, mesmo ganhando em Salvador, é a sombra do que foi o velho PFL. Ontem mesmo, quando votava, o ex-presidente Fernando Henrique saudou a possibilidade desta aliança, completando: "Agora, se vão nos apoiar ou esperam ter o nosso apoio, é cedo para saber". É certo, porém, que os protagonistas dos dois partidos, com vistas a 2014, Eduardo Campos e Aécio Neves, juntos atendem ao anseio pela renovação.


Fonte: Correio Braziliense

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