Para ex-presidente, partido está distante de aspirações de eleitor
Gilberto Scofield Jr.
Novos tempos. Ao analisar o resultado das eleições, FH diz que é preciso
"abrir espaço para o mais jovem", referindo-se ao futuro do seu
partido
SÃO PAULO - Evitando falar em erros na campanha de José Serra, candidato
tucano à prefeitura de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
defendeu ontem a renovação do PSDB e mais humildade ao partido. No entanto, negou
que a sigla tenha saído das urnas mais fraca do que entrou após o segundo turno
das eleições.
Segundo o ex-presidente, que votou de manhã no Colégio Sion, em Higienópolis
(Zona Oeste de São Paulo), o PSDB conseguiu fazer o segundo maior número de
vereadores do país, atrás apenas do PMDB:
- O PSDB precisa voltar a ter uma atitude muito mais próxima ao que o povo
está sentindo hoje no Brasil. Nós temos que acompanhar essa mudança e, se
possível, avançar mais. Pelo que eu vi, o PSDB, no conjunto do Brasil, vai se
sair melhor do que estava antes. Mas isso não quer dizer nada. É bom mas não é
suficiente. Tem que estar alinhado com o futuro - afirmou.
Fernando Henrique disse que ainda é cedo para falar de estratégia para o
partido, mas defendeu novas lideranças políticas e mais proximidade com o que
deseja a população, num país onde a emergência da classe C vem estabelecendo
desde novos padrões de consumo a novos comportamentos eleitorais. E admitiu ver
com bons olhos a aproximação entre o senador Aécio Neves, ex-governador tucano
de Minas Gerais, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente
nacional do PSB:
- A articulação com Eduardo Campos eu acho boa. É preciso ampliar os apoios,
e acho normal que os políticos conversem. Estamos acostumados com a situação
anterior, da ditadura, com oposição muito rígida, não é normal numa democracia,
onde os principais lideres devem se entender - disse: - Nos países
democráticos, tem que ter oposição. Agora, se ele (Campos) vai buscar nos
apoiar ou se vai esperar que nós o apoiemos, é cedo para dizer.
Ele evitou criticar diretamente a campanha de Serra, acusada por alguns
tucanos de, novamente, ter usado apenas muito superficialmente a imagem do
ex-presidente:
- Se o Serra não tivesse sido um bom candidato, ele não teria ido para o
segundo turno. Não posso dizer que houve erro na campanha. Eu nunca me recusei
a participar de nada. Sempre que me pedem, eu faço. O Serra foi um candidato
tenaz, que mostrou estar preparado, com energia. Não é por erro de campanha que
se perde eleição. É preciso, como eu já disse antes, sintonizar com o momento -
disse ele, numa alusão à derrota de Serra na disputa pela Presidência da
República. - Mas a renovação é necessária, e o Brasil está mostrando isso mais
uma vez. Eu deixei a Presidência, tem de abrir espaço para o mais jovem. O
Serra é mais jovem, claro, mas o partido como um todo vai precisar mesmo de
renovação.
Perguntado ainda pela manhã se a vitória do petista Fernando Haddad
significaria uma vitória pessoal do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva,
Fernando Henrique disse que, no caso de São Paulo, isso é correto:
- No caso de São Paulo, sim. Em outros lugares, perdeu. Eleição é assim:
ganha num lado, perde no outro, e não adianta generalizar.
O ex-presidente afirmou que a população de São Paulo deve prestar atenção na
administração petista sobre a gestão do orçamento da maior cidade do país, o
terceiro maior do Brasil, mas frisou que "Haddad é uma pessoa séria".
Ao contrário de uma declaração sua no primeiro turno, ele evitou afirmar que o
mensalão teve influência grande na votação no segundo turno:
- Mensalão não é uma coisa que se analisa eleitoralmente. É uma coisa que
diz respeito à conduta das pessoas. Nesse sentido, interfere. Não gosto de,
pessoalmente, ficar torcendo por condenações, não é meu estilo, mas acho que o
fato de o tribunal (STF) ter tomado a decisão de punir, vai inibir muita gente
a repetir - afirmou. - Chegou o momento de os partidos botarem a mão na consciência.
O próprio PT. Não pode passar impune, dizer que não aconteceu o mensalão.
Aconteceu, e envolveu a cúpula do partido.
Fonte: O Globo
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