Planalto e partido investiram tudo na candidatura, que começou com 3%; Marta
ganhou pasta da Cultura
Gustavo Uribe, Marcelle Ribeiro
SÃO PAULO - Arrancando com minguados 3% de intenções de voto e com
dificuldades para se viabilizar como candidato competitivo, o prefeito eleito
de São Paulo, Fernando Haddad, não só virou a acirrada e simbólica disputa
eleitoral da capital paulista. Ele se cacifou ao posto de nova liderança
nacional do PT, sobretudo após o julgamento do mensalão ter solapado a imagem
de caciques da legenda, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José
Genoino. Agora, o ex-ministro da Educação, que até 2012 sequer havia
participado de uma eleição, comanda o terceiro maior orçamento do país e se
tornou a referência no processo de renovação petista, estimulado pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando a disputa municipal começou, o prefeito eleito tinha sérias dúvidas
se teria fôlego suficiente para virar o jogo a tempo de vencer as eleições. À
frente, um José Serra conhecido e confiante. E Russomanno, a surpresa do
primeiro turno. Quando o Instituto Datafolha divulgou a primeira sondagem sobre
o cenário eleitoral, ainda em dezembro de 2011, o então pré-candidato petista
ficou apreensivo. Teve que ser tranquilizado por Lula, o padrinho que apostou
todas as fichas em seu nome. Numa conversa pelo telefone, Lula lembrou a
trajetória de Dilma Rousseff, que começou com 8% de preferência do eleitorado e
acabou eleita presidente do Brasil. Ao chegar ao segundo turno, saltando dos
amargos 3% para 28% dos votos, Haddad já se dava ao luxo de brincar com a
situação.
- No dia em que saiu a primeira pesquisa, eu recebi um telefonema de um
companheiro do partido com o resultado. Não foi fácil receber aquela notícia.
Eu posso dizer que a primeira pesquisa do Datafolha a gente não esquece -
lembrou Haddad.
Excluída, Marta reconhece acerto de Lula
O projeto de lançar a sua candidatura foi esboçado pelo ex-presidente há
três anos. Ainda no Palácio do Planalto, em 2009, Lula sondou Haddad sobre a
possibilidade de concorrer ao cargo de governador de São Paulo. A proposta de
lançá-lo ao posto naufragou após ganhar força a hipótese de Ciro Gomes adotar
São Paulo como domicílio eleitoral. Em 2011, com a aproximação de uma nova
disputa polarizada contra os tucanos, Haddad, mais uma vez, viu-se cortejado
pelo líder máximo do PT. Agora era para valer.
Para viabilizar a candidatura de seu afilhado político, o ex-presidente
enfrentou segmentos importantes do PT paulista, em especial o grupo liderado
pela ex-prefeita Marta Suplicy. Para os petistas, a vitória na capital paulista
era o atalho para encerrar a hegemonia tucana no governo do estado nas eleições
de 2014. A sigla nunca chegou ao Palácio dos Bandeirantes, administrado pelo
PSDB há quase duas décadas. Ontem, Marta admitiu que Lula fez a escolha certa
para tirar o PT de uma situação "extremamente difícil".
- Ele acertou na estratégia. Foi extremamente arriscado, mas acho que o PT,
na circunstância e no momento que vive, foi correto. E estou muito feliz que
ele (Lula) tenha tido a coragem e arriscado tanto - afirmou Marta, que só
entrou com força na campanha depois que virou ministra da Cultura de Dilma.
Outro ministério, o da Pesca, foi dado pelo Planalto ao senador Marcelo
Crivella para garantir o apoio do PRB a Haddad ainda no primeiro turno, o que
não se concretizou.
Ao votar, o prefeito eleito realçou o discurso do novo contra a
continuidade, numa cidade onde a rejeição ao atual prefeito Gilberto Kassab
(PSD) teve papel destacado no resultado eleitoral. E aproveitou para dar a
dimensão nacional que os petistas tanto aguardavam com a vitória em São Paulo.
- São Paulo hoje é Brasil. Nós temos que levar em conta a importância e o
peso específico de São Paulo no desenvolvimento do nosso país.
Nos bastidores, Lula reconhece que os principais nomes do PT estão
desgastados e anota na caderneta expoentes que pretende lançar em 2014.
Diagnosticou o risco de perder espaço para PMDB e PSB, que têm renovado seus
quadros no Sudeste e no Nordeste. Não à toa, Lula pediu que o ministro
Alexandre Padilha (Saúde) mude do Pará para São Paulo seu domicílio eleitoral.
- O ex-presidente petista ficou muito impressionado com o nascimento de
novas lideranças no Rio de Janeiro e no Nordeste. Ele acha que os ventos da
renovação podem chegar a São Paulo - afirmou Fernando Haddad ao GLOBO.
Fonte: O Globo
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