O resultado das
eleições municipais deste ano revela um quadro fragmentado, com 11 partidos
dividindo o poder em 26 capitais. Os petistas venceram no maior colégio
eleitoral do país e administrarão cidades onde vivem 37 milhões de pessoas.
Socialistas voltaram a ganhar em cidades importantes, como Fortaleza, enquanto
tucanos tiveram mudança no perfil de seu eleitorado, com vitórias concentradas
no Norte e no Nordeste. O PSOL venceu pela primeira vez numa capital: Macapá
Capitais nas mãos
de 11 partidos
PT conquistou 636 prefeituras; PSDB muda perfil do eleitorado saindo do
Centro-Sul
Isabel Braga, Evandro Éboli e André Souza
BRASÍLIA - As eleições municipais deste ano mostram a pulverização de
partidos na disputa das capitais e principais cidades brasileiras, com destaque
para três legendas: PT, que levou a prefeitura de São Paulo, maior colégio
eleitoral entre os municípios, e governará 636 prefeituras que somam 37 milhões
de habitantes, ultrapassando o PMDB neste quesito; o PSB, que se fortalece como
partido nacional, elegendo o maior número de prefeitos de capitais (cinco) e
442 no total; e o PSDB que fez 698 prefeitos, mas na eleição das capitais mudou
o perfil de seu eleitorado, saindo do Centro-Sul e conquistando espaços no
Norte e Nordeste do país. Onze partidos dividem o poder das 26 capitais a
partir de janeiro.
O PMDB, embora mantenha o comando no maior número de prefeituras - elegeu
este ano 1.023, com 31 milhões de habitantes - mantém sua característica de
partido dos chamados grotões, com resultado forte em municípios de menor porte.
Os peemedebistas elegeram, ainda no primeiro turno, apenas dois prefeitos de
capital: Rio de Janeiro (RJ) e de Boa Vista (RR). Neste segundo turno, perdeu
todas as disputas nas três capitais que concorreu e ontem ganhou em seis das 13
cidades com mais de 200 mil eleitores que disputou ontem.
O PT elegeu, nos dois turnos da eleição, quatro prefeitos de capitais -
Goiânia, João Pessoa, São Paulo e Rio Branco. O PSB ganhou em Recife, Belo
Horizonte, Cuiabá, Fortaleza e Porto Velho.
DEM escapa da extinção
O DEM consegue escapar da trajetória rumo à extinção com a conquista de duas
capitais no Nordeste, Salvador e Aracaju. Contra a força da máquina pública, os
partidos de oposição conquistaram ao todo oito das 26 capitais brasileiras.
Duas no primeiro turno - Maceió (PSDB) e Aracaju (DEM) - e, no segundo turno,
outras cinco: os tucanos venceram a disputa em Belém, Manaus e Teresina; o DEM
ganhou em Salvador e o PPS ficou com Vitória. E o pequeno PSOL conseguiu eleger
o prefeito de Macapá, no Amapá.
- É uma eleição que permite cada um cantar vitória da maneira que se avalia.
O PSDB, de maneira expressiva, cresce no Norte e Nordeste. O PSB conquistou o
maior número de vitórias nas capitais e não dá para dizer que o PT perdeu,
porque quem ganha São Paulo, não perde, além de ter conquistado alguns dos
maiores colégios eleitorais do estado - avaliou ontem à noite o professor
titular da Universidade Federal de Minas Gerais, Carlos Ranulfo. - Nesta
eleição, três partidos se destacam: PT, PSB e PSDB. O PMDB é o transatlântico
de sempre: continua com mais prefeituras, mas não tem rumo, bússola, direção. O
grande destaque do PMDB é no Rio.
O PDT elegeu ao todo 310 prefeitos, entre eles os das capitais Curitiba,
Porto Alegre e Natal. O novato PSD, comandado pelo prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab - que perdeu a eleição na sua cidade - surpreendeu. Ganhou
apenas uma prefeitura de capital, Florianópolis (SC), mas ao final dos dois
turnos elegeu 498 prefeitos.
O PP, partido da base governista em Brasília, elegeu o prefeito de Campo
Grande (MS), e o nanico PTC, com o apoio do presidente da Embratur e candidato
derrotado do PCdoB ao governo da Maranhão em 2010, Flávio Dino, venceu em São
Luís com Edivaldo Holanda Júnior, derrotando atual prefeito da cidade, o tucano
João Castelo.
PSB cresce e aparece
Comparando-se à população de prefeituras comandadas pelos partidos em 2008 e
agora, o PSB é, de novo, o que mais destaca, com um crescimento de 92%: na
última eleição, o partido ganhou prefeituras de cidades com um total de mais de
10,8 milhões de habitantes e agora, governará para 20,9 milhões.
O PMDB governa hoje para 41,4 milhões de habitantes e, com o resultado desta
eleição, irá comandar a partir de janeiro 30,6 milhões de brasileiros, uma
queda de 26%. O PSDB teve uma queda pequena neste ponto, saindo de 25,8 milhões
em 2008 para 25,2 milhões em 2012.
O cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia
que o resultado da eleição municipal de 2012 demonstrou um equilíbrio entre
forças políticas diversas e notícias boas para todas a legendas.
- Há tendências importantes a se destacar, como a busca do novo nesta
eleição, com destaque para o petista Fernando Haddad. O espaço que Eduardo
Campos, que não é cara nova no Nordeste, abriu no Sudeste terá reflexos em
2014. E não se pode fechar os olhos para o bom desempenho do PSD, que, na sua
primeira disputa, levou 498 prefeituras. O Kassab, mesmo deixando a Prefeitura
de São Paulo desgastado, se fortalece e se cacifa no jogo político - disse
Paulo Kramer.
PT também sofreu derrotas
O cientista político entende que o PT, apesar da vitória na capital
paulista, sofreu derrotas significativas, como no interior de São Paulo e em
outras capitais importantes, tanto no primeiro turno, em Belo Horizonte e
Recife, quanto no segundo turno, com Salvador e Fortaleza. Também são
computadas a Lula e também à presidente Dilma Rousseff derrotas de aliados que
eles abraçaram, com apoios fortes, como em Manaus.
- Em Manaus, vejo como uma derrota fragorosa do Lula. É um Estado onde Lula
sempre obteve votações estupendas, mas seu prestígio não foi suficiente para
derrotar o PSDB -disse Krammer, referindo-se à derrota da senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB). - Entendo que Lula nacionalizou demais algumas disputas nos estados e
pode ter se queimado com alguns aliados. O resultado disso vamos ver ao longo
dos próximos dois anos, se essa aliança está trincada ou não.
As eleições do segundo turno, ontem, ocorreram em 17 capitais e 33 cidades
do interior do país com mais de 200 mil eleitores - distribuídas em 19 estados.
Neste universo de segundo turno, o PT teve o pior resultado, numericamente,
já que disputou em 21 cidades, vencendo em apenas oito delas, quatro delas
capitais. O PSDB concorreu em 17 cidades e ganhou em 9 delas, sendo três
capitais. Esses dois partidos, que polarizaram a eleição deste ano, eram
adversários em seis das 50 cidades deste segundo turno, e no embate, o PT
venceu em quatro e o PSDB, em duas delas.
O PSB do governador Eduardo Campos venceu o embate com o PT no primeiro
turno, em capitais como Belo Horizonte e Recife, e também foi vitorioso no
segundo turno, derrotando o PT em Campinas, no interior de São Paulo. Como a
maioria dos políticos que evitam prognósticos para o futuro, alguns
especialistas também consideram que ainda é cedo para falar sobre a influência
das eleições municipais na disputa presidencial de 2014.
- O quadro para 2014 é nebuloso. Há equilíbrio entre os principais partidos.
O PSB, depois de crescer nas eleições de 2010, conquistando governos, também
cresce elegendo o maior número de prefeitos de capitais. Sairá candidato à
Presidência da República, em 2014 ou 2018 - diz Carlos Ranulfo.
Fonte: O Globo
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