O fim do segundo turno
das eleições municipais confirmou a força do ex-presidente Lula, que
transformou o inexperiente candidato Fernando Haddad em prefeito de São Paulo.
A conquista do maior colégio eleitoral do país é importantíssima, impõe uma
dura derrota a José Serra e ao PSDB, mas não esgota as preocupações do PT.
Apesar de ser campeão de votos, o partido terá que levar em conta o ameaçador
crescimento do PSB, que sai vitorioso em cinco capitais e pode abandonar a base
do governo para virar protagonista em 2014. Além disso, o fraco desempenho no
Nordeste deixa o PT mais dependente dos partidos aliados para retomar a
dianteira na região, que sempre foi um reduto eleitoral de Lula.
PT ganha São Paulo,
mas perde Nordeste
Vitória de Haddad na maior cidade do país mostra a força de Lula. Petistas,
no entanto, sofrem derrotas em redutos tradicionais do ex-presidente. PSB, de
Eduardo Campos, passa a ser a maior preocupação do Planalto
Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber
O PT conseguiu seu maior objetivo eleitoral ao conquistar a prefeitura de
São Paulo e cidades importantes do estado, mesmo com a reta final do julgamento
do mensalão e a condenação de caciques como José Dirceu. Mas viu o Nordeste
escorrer por entre os dedos. A partir de janeiro de 2013, o petista Fernando
Haddad vai administrar a maior cidade do país, impondo uma derrota histórica ao
PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin, que vê ameaçada sua reeleição ao governo
estadual daqui a dois anos. Em compensação, no Nordeste, região que sempre
marchou ao lado do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que
começa a vislumbrar o crescimento do PSB de Eduardo Campos, o PT está fora do governo
das três maiores cidades: Salvador, Recife e Fortaleza. Pior: a capital
pernambucana estava nas mãos do PT havia 12 anos, e Fortaleza, oito. A única
metrópole nordestina conquistada por um petista foi João Pessoa, de eleitorado
inexpressivo.
Personagem central nessa história, Lula fez questão de viajar por todos
esses locais. À exceção do Recife, onde ele jamais colocou os pés, antevendo a
derrota fragorosa do senador Humberto Costa, o ex-presidente esteve em
Fortaleza, Salvador e fez um giro pela maior parte das cidades de São Paulo. Se
foi preponderante na vitória de Haddad, candidato que "tirou da
cartola" antevendo a necessidade de renovação no cenário político
paulistano, o ex-presidente amargou uma derrota para o carlismo em Salvador e
para o PSB de Eduardo Campos no Recife e Fortaleza (dos irmãos Cid e Ciro
Gomes).
No meio do primeiro turno, a avaliação do Palácio do Planalto era de que,
como os resultados eleitorais apontavam uma repartição de votos praticamente
equânime, quem vencesse São Paulo seria o grande ganhador da eleição municipal.
Haddad derrotou Serra por 55,57% dos votos válidos contra 44,43% do tucano. O
partido também obteve outra meta: cercar os tucanos em um chamado cinturão
vermelho pelo estado. O PT venceu em Guarulhos (Sebastião Almeida); Santo André
(Carlos Grana); e Mauá (Donisete Braga).
No primeiro turno, o partido já havia conquistado as prefeituras de São
Bernardo do Campo (Luiz Marinho); Osasco (Jorge Lapas); São José dos Campos (Carlinhos
Almeida); e Carapicuíba (Sérgio Ribeiro). Ao retomar, principalmente, a
prefeitura paulistana após oito anos fora do comando da maior cidade
brasileira, os petistas retomam o projeto de um feito até então inédito:
governar São Paulo, estado que está desde 1994 nas mãos do PSDB.
Pré-candidata preterida com o cancelamento das prévias em São Paulo, mas
presenteada com o Ministério da Cultura para integrar-se à campanha de Haddad,
Marta Suplicy afirmou ontem que estava de "alma lavada" com a derrota
de Serra. "Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é
(Serra). Tudo isso estava engasgado na garganta", completou Marta. Já
Haddad disse que seu primeiro objetivo é "separar o muro da vergonha que
divide áreas ricas e pobres". O prefeito eleito se reúne hoje em Brasília
com a presidente Dilma Rousseff.
Cenários. O PT vê uma antiga
hegemonia fortemente ameaçada. Eduardo Campos cresce seu poder de influência no
reduto lulista. O PSB já havia derrotado o PT com Geraldo Júlio, no primeiro
turno, no Recife. Desbancou os petistas em Fortaleza, com a vitória de Roberto
Cláudio — a exemplo de Recife, outro candidato "inventado", desta vez
pelo governador Cid Gomes — e estava na aliança vitoriosa de ACM Neto (DEM) em
Salvador.
O PSB foi o grande vitorioso do segundo turno. O partido ganhou seis das
sete prefeituras que disputou. Dessas, três são capitais: Fortaleza, Cuiabá e
Porto Velho. Nas duas primeiras, o adversário era o PT. Em ambas, Lula fez
questão de subir ao palanque para tentar diminuir o grau de influência de
Eduardo Campos. O placar terminou dois a zero para o governador pernambucano.
O PSB já tinha eleito dois prefeitos de capital no primeiro turno — Belo
Horizonte e Recife — e com os números finais do segundo turno, totalizou o
comando em cinco capitais. Um a mais que o PT, que venceu em quatro: Goiânia,
São Paulo, João Pessoa e Rio Branco. Aliados acreditam que Eduardo Campos deve
lançar seu nome já em 2014, para evitar uma concorrência em 2018 com um
possível Fernando Haddad, fortalecido com a vitória em São Paulo. Para
completar, Campos ainda derrotou o PT em Campinas, com a vitória de Jonas
Donizette contra Marcio Pochmann.
Fonte: Correio Braziliense
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