segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PT leva São Paulo e teme avanço do PSB


O fim do segundo turno das eleições municipais confirmou a força do ex-presidente Lula, que transformou o inexperiente candidato Fernando Haddad em prefeito de São Paulo. A conquista do maior colégio eleitoral do país é importantíssima, impõe uma dura derrota a José Serra e ao PSDB, mas não esgota as preocupações do PT. Apesar de ser campeão de votos, o partido terá que levar em conta o ameaçador crescimento do PSB, que sai vitorioso em cinco capitais e pode abandonar a base do governo para virar protagonista em 2014. Além disso, o fraco desempenho no Nordeste deixa o PT mais dependente dos partidos aliados para retomar a dianteira na região, que sempre foi um reduto eleitoral de Lula.

PT ganha São Paulo, mas perde Nordeste

Vitória de Haddad na maior cidade do país mostra a força de Lula. Petistas, no entanto, sofrem derrotas em redutos tradicionais do ex-presidente. PSB, de Eduardo Campos, passa a ser a maior preocupação do Planalto

Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber

O PT conseguiu seu maior objetivo eleitoral ao conquistar a prefeitura de São Paulo e cidades importantes do estado, mesmo com a reta final do julgamento do mensalão e a condenação de caciques como José Dirceu. Mas viu o Nordeste escorrer por entre os dedos. A partir de janeiro de 2013, o petista Fernando Haddad vai administrar a maior cidade do país, impondo uma derrota histórica ao PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin, que vê ameaçada sua reeleição ao governo estadual daqui a dois anos. Em compensação, no Nordeste, região que sempre marchou ao lado do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que começa a vislumbrar o crescimento do PSB de Eduardo Campos, o PT está fora do governo das três maiores cidades: Salvador, Recife e Fortaleza. Pior: a capital pernambucana estava nas mãos do PT havia 12 anos, e Fortaleza, oito. A única metrópole nordestina conquistada por um petista foi João Pessoa, de eleitorado inexpressivo.

Personagem central nessa história, Lula fez questão de viajar por todos esses locais. À exceção do Recife, onde ele jamais colocou os pés, antevendo a derrota fragorosa do senador Humberto Costa, o ex-presidente esteve em Fortaleza, Salvador e fez um giro pela maior parte das cidades de São Paulo. Se foi preponderante na vitória de Haddad, candidato que "tirou da cartola" antevendo a necessidade de renovação no cenário político paulistano, o ex-presidente amargou uma derrota para o carlismo em Salvador e para o PSB de Eduardo Campos no Recife e Fortaleza (dos irmãos Cid e Ciro Gomes).

No meio do primeiro turno, a avaliação do Palácio do Planalto era de que, como os resultados eleitorais apontavam uma repartição de votos praticamente equânime, quem vencesse São Paulo seria o grande ganhador da eleição municipal. Haddad derrotou Serra por 55,57% dos votos válidos contra 44,43% do tucano. O partido também obteve outra meta: cercar os tucanos em um chamado cinturão vermelho pelo estado. O PT venceu em Guarulhos (Sebastião Almeida); Santo André (Carlos Grana); e Mauá (Donisete Braga).

No primeiro turno, o partido já havia conquistado as prefeituras de São Bernardo do Campo (Luiz Marinho); Osasco (Jorge Lapas); São José dos Campos (Carlinhos Almeida); e Carapicuíba (Sérgio Ribeiro). Ao retomar, principalmente, a prefeitura paulistana após oito anos fora do comando da maior cidade brasileira, os petistas retomam o projeto de um feito até então inédito: governar São Paulo, estado que está desde 1994 nas mãos do PSDB.

Pré-candidata preterida com o cancelamento das prévias em São Paulo, mas presenteada com o Ministério da Cultura para integrar-se à campanha de Haddad, Marta Suplicy afirmou ontem que estava de "alma lavada" com a derrota de Serra. "Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é (Serra). Tudo isso estava engasgado na garganta", completou Marta. Já Haddad disse que seu primeiro objetivo é "separar o muro da vergonha que divide áreas ricas e pobres". O prefeito eleito se reúne hoje em Brasília com a presidente Dilma Rousseff.

Cenários. O PT vê uma antiga hegemonia fortemente ameaçada. Eduardo Campos cresce seu poder de influência no reduto lulista. O PSB já havia derrotado o PT com Geraldo Júlio, no primeiro turno, no Recife. Desbancou os petistas em Fortaleza, com a vitória de Roberto Cláudio — a exemplo de Recife, outro candidato "inventado", desta vez pelo governador Cid Gomes — e estava na aliança vitoriosa de ACM Neto (DEM) em Salvador.

O PSB foi o grande vitorioso do segundo turno. O partido ganhou seis das sete prefeituras que disputou. Dessas, três são capitais: Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho. Nas duas primeiras, o adversário era o PT. Em ambas, Lula fez questão de subir ao palanque para tentar diminuir o grau de influência de Eduardo Campos. O placar terminou dois a zero para o governador pernambucano.

O PSB já tinha eleito dois prefeitos de capital no primeiro turno — Belo Horizonte e Recife — e com os números finais do segundo turno, totalizou o comando em cinco capitais. Um a mais que o PT, que venceu em quatro: Goiânia, São Paulo, João Pessoa e Rio Branco. Aliados acreditam que Eduardo Campos deve lançar seu nome já em 2014, para evitar uma concorrência em 2018 com um possível Fernando Haddad, fortalecido com a vitória em São Paulo. Para completar, Campos ainda derrotou o PT em Campinas, com a vitória de Jonas Donizette contra Marcio Pochmann.

Fonte: Correio Braziliense

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