domingo, 9 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula deve evitar armadilhas em cúpula na Colômbia

Por O Globo

Venezuela é pauta incontornável. Será preciso cautela para não prejudicar negociação do tarifaço

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa hoje e amanhã da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE) em Santa Marta, na Colômbia. É incontornável que a Venezuela, sob ameaça de ataque dos Estados Unidos, esteja na pauta. A situação exigirá de Lula cautela e habilidade diplomática. Ao mesmo tempo que, como todos os presentes, ele deve se opor a qualquer intervenção militar na América Latina, precisa evitar declarações que ponham em risco as negociações bilaterais em curso com os americanos para revogar o tarifaço imposto às exportações brasileiras por Donald Trump.

Diante da Venezuela, a missão do governo brasileiro é trabalhar diplomaticamente para que o ditador Nicolás Maduro aceite abdicar do poder sem conflito armado. O Brasil tem boas razões para temer uma intervenção militar americana próxima à fronteira norte. Nem os estrategistas em Washington chegam a consenso sobre o que desejam como desfecho caso usem a força para derrubar Maduro.

Controvérsias e convergências, por Pedro S. Malan

O Estado de S. Paulo

Os arranjos institucionais e regras do jogo estabelecidos desde o imediato pós-guerra, que bem ou mal presidiram os últimos 80 anos, hoje são questionados com veemência

John Kenneth Galbraith escreveu em seu A Short History of Financial Euphoria, publicado em 1990: “Para fins práticos, deve-se presumir que a memória financeira dura, no máximo, cerca de 20 anos. Esse é, normalmente, o tempo necessário para que a lembrança de um desastre seja apagada e para que alguma variante da demência anterior surja novamente para capturar a mente financeira. É também o tempo geralmente exigido para que uma nova geração entre em cena, convencida – como suas predecessoras – de seu próprio gênio inovador”.

A ideia me vem à mente porque logo terão decorrido 20 anos desde a eclosão da grande crise de 2007-2009, a primeira desde 1929. Seu epicentro foi a principal economia do mundo desenvolvido. Tim Geithner, então presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, escreveu em março de 2009 que “(uma) crise como esta não tem uma causa simples (...); como nação, nos endividamos em demasia e deixamos nosso sistema financeiro assumir níveis irresponsáveis de risco e alavancagem”.

Expressões semelhantes, de sofrida singeleza, podem ser encontradas em declarações à época de Ben Bernanke e Larry Summers, entre outros. Todos reconheceram posteriormente, os elementos fundamentais da excessiva complacência que levou à crise.

É valioso constatar, é o que se pode concluir, que não apenas aos países em desenvolvimento aplica-se a restrição da realidade. A expressão, que designa a capacidade de resposta da oferta aos estímulos da demanda, é de André Lara Resende, e foi usada em artigo a ser publicado na revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). No texto, o autor refere-se a uma observação de Paul Samuelson feita na década de 90, em entrevista para documentário sobre Keynes, na qual o Prêmio Nobel de Economia teria reconhecido que não existem limites objetivos para o déficit fiscal e para o crescimento da dívida pública – e acrescentado que a insistência na explicitação desta inexistência de limites pode promover a aceleração dos gastos, levar à erosão da credibilidade do governo e à expectativa de maior inflação futura. O mesmo Samuelson havia escrito em 1962, em suas famosas Wicksell Lectures: “Uma economia moderna pode em alguns momentos precisar de déficits fiscais e uma dívida pública crescente – e em outras épocas, precisar de superávits fiscais, obtidos por meio de redução de gastos e/ou aumento de tributação, para destinar recursos à necessidade de investimento, combater a inflação e reduzir a dívida pública”. É curiosa a continuação da frase: “Eu digo isso com toda seriedade, embora dificilmente um em cada cem formadores de opinião consiga ainda compreender o que quero dizer. Mas também aqui sou otimista de que a racionalidade prevalecerá sobre o hábito.”

Eleição e economia lideram a pauta pós-COP-30, por Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Em busca de uma reeleição no próximo ano, o presidente deve ser o mais interessado em uma política de juros mais favorável ao crescimento econômico e à expansão do emprego

Como figura internacional, o presidente Lula teve mais um bom momento na COP-30, em Belém, ao mobilizar 53 países para a defesa das florestas tropicais e do clima. Aberta a conferência e batidas as fotos, voltou a Brasília, de onde planejava partir no dia seguinte para uma reunião, na Colômbia, de autoridades latino-americanas e caribenhas com representantes da União Europeia. Longe do Palácio do Planalto, o presidente pode ter se desligado um pouco dos desafios brasileiros nesta fase pré-eleitoral. Com mais trancos do que barrancos, a economia brasileira continua a avançar lentamente, com crescimento estimado em pouco mais de 2% neste ano e desempenho mais fraco no próximo, segundo as contas do mercado. No governo, as projeções ficam na casa dos 3%.

Chuvas no Sul respingam no Pará, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Tornados do Sul desabam na COP do Norte, onde Lula defende etanol, mas investe em petróleo

O tornado no Sul do Brasil, com efeitos destruidores, em especial no Paraná, serve como um alerta drástico e contundente para os perigos do aquecimento global, exatamente quando a COP 30 ocorre no Pará. Não se trata de uma “coincidência feliz”, porque não há nada feliz nisso, mas de uma “coincidência útil” para cobrar seriedade e responsabilidade na questão climática.

Tornados, enchentes e tragédias semelhantes não são novidade nem incomuns no Cone Sul das Américas, como acabamos de ver no Rio Grande do Sul e vemos agora em toda a região. Logo, são eventos históricos e não se pode dizer que sejam causados pela crise climática que se aprofunda no mundo. Mas...

Trump terá de rever sua estratégia, por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Eleitores estão mais propensos a culpar republicanos por paralisação e bloqueio de salários

Fragilidades econômicas, políticas e jurídicas na estratégia de Donald Trump transpareceram nos últimos dias em índices, urnase na Suprema Corte. Dados o perfil flexível do presidente americano e a realização de eleições para o Congresso em um ano, mudanças de rumos são um cenário provável.

O Índice de Preços ao Consumidor bateu em 3%, um ponto porcentual acima da meta do Banco Central. Nos últimos 12 meses, o café e abanana subiram 40% e 9% respectivamente, por causadas tarifas, já que não são produzidos no país. O filé aumentou 19% e acarne moída, 14%, pela combinação de queda na produção e tarifas.

Quando há risco de o país dar certo, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Temos metas de inflação e fiscais; faltam metas para a mata, o agro e a segurança energética

Transformações importantes, como a tributária, revelam coalizões daninhas para o interesse nacional

Quase ninguém se lembra do que foi a COP29, em 2024, no Azerbaijão, além de ambientalistas, certos militantes sociais, estudiosos, diplomatas, jornalistas especializados e poucos políticos envolvidos. Como a COP30 é no Brasil, vamos ler mais manchetes dramáticas sob impasses em negociações ou financiamentos frustrados. Dias depois da cúpula, quase todos nos esqueceremos do assunto.

Em parte, é normal, por assim dizer; em parte, não pode ser mais assim. No Brasil, temos condições especiais de fazer que assim não seja. O país progride na área e pode ganhar muito se fizer mais coisa certa.

Além de se tratar da nossa contribuição para atenuar o desastre climático planetário, assuntos como devastação ambiental, transição energética ou modo de produzir alimentos e materiais são centrais para o desenvolvimento socioeconômico do país, se não os principais.

Golpe de Dilma e o problema de Lula, por Fernando Canzian

Folha de S. Paulo

Impeachment livrou o PT de assumir caos econômico de sua gestão

Endividamento do país hoje é ainda maior, e está em forte elevação

impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi um golpe. Talvez o mais prejudicial à compreensão dos efeitos da política sobre a economia desde a redemocratização.

Naquela sessão deprimente em abril de 2016, o Congresso livrou Dilma de assumir, no exercício do cargo, as consequências de sua gestão irresponsável. Afastada a presidente, o PIB afundaria 7% e o desemprego atingiria 12%.

PT até hoje culpa os governos posteriores, que aprovaram as reformas trabalhista e previdenciária, além de terem preparado o terreno para a tributária e destravado investimentos gigantescos em saneamento.

Operações na Faria Lima repercutirão melhor entre eleitores do que nas favelas, por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

População reconhece que o crime nasce da desigualdade e da corrupção, aponta pesquisa

Mais de 73% concordam que parte da polícia e do Estado participam do crime

"Bandido bom é bandido morto." Será essa a régua para a sociedade escolher seus candidatos em 2026? Para entender melhor a percepção dos brasileiros sobre segurança pública e combate ao crime, o Instituto Ideia Big Data rodou um questionário online exclusivo para esta coluna.

Foram ouvidos 1.027 respondentes em todo o país, distribuídos proporcionalmente por classe social, gênero, idade e região, com margem de erro de três pontos percentuais. O resultado completo pode ser baixado aqui.

O estudo indica que há consenso de que o Estado e a polícia são parte do sucesso do crime organizado. Mais de 73% concordaram com afirmações como "o acesso de criminosos presos a celulares mostra que parte da polícia e do Estado participa do crime". E 84,1% concordaram que "facções e milícias crescem porque conseguem circular dinheiro e armas com a ajuda de gente influente".

É fácil mentir sobre segurança, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Justiça não autorizou mobilizar 2.500 policiais para prender quaisquer moradores

Governo Cláudio Castro subiu Alemão para prender cem criminosos do Comando Vermelho; destes, 80 fugiram

O governo Cláudio Castro subiu o Complexo do Alemão com mandado para prender cem criminosos do Comando Vermelho. Desses cem, 80 fugiram. Tanto o nome da operação ("Contenção") quanto a ideia de novas operações de "retomada" se referem a um movimento recente de conquista pela facção de áreas do Rio de Janeiro que antes eram controladas pelas milícias; parte do debate, portanto, deveria ser sobre a estratégia do poder público diante dessa guerra de facções.

Quantos brasileiros sabem disso? Suspeito que muito poucos, apesar de termos passado duas semanas falando sobre o Alemão.

Ateando fogo ao fogo, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Em vez de segurança pública, a matança vingativa, que mata moralmente o vingador e suscita imaginário de guerra

A retórica dos direitos humanos soa fraca ao cidadão comum, confrontado com a crueldade que rege o universo do crime

São Judas Tadeu, primo de Cristo e um dos doze apóstolos, santo das causas impossíveis, é celebrado no final de outubro, com missas e quermesses de bolos. Este ano, no Rio, o início dos festejos, em 28 de outubro, coincidiu com preces para que o santo contemplasse o desespero da cidade, testemunha de um espetáculo de sangue anticristão, ofensivo a São Judas e às romarias para Nossa Senhora da Penha. "Botei o Lula na lona", saltitou depois o governado Cláudio Castro, com seus índices de aprovação. Em missa na Barra, fariseus o aplaudiram.

Quando a maioria é injusta, por Juliana Diniz

O Povo (CE)

A espetacularização das operações policiais rende votos porque alimenta a sede de justiçamento de uma sociedade cansada da insegurança. O cadáver do bandido gera gozo: os cidadãos de bem se sentem "vingados" pela eliminação desse inimigo personificado no corpo abatido pela polícia

A operação policial que ocorreu há dias nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, ficou marcada como a mais letal de todas as já realizadas. As imagens dos cadáveres não foram suficientes para impactar a opinião pública: pesquisas indicam que a maioria aprovou o ato. Os números influenciaram a movimentação dos políticos de direita, assim como contiveram instituições como Poder Judiciário e Ministério Público, que reagiram timidamente.

A pauta da segurança e as eleições de 2026: como a opinião pública molda o voto, por Ananda Marques

O Povo (CE)

A aprovação da atuação policial aponta para a relação da sociedade brasileira com a mão armada do Estado, os efeitos das duas décadas de ditadura militar são longevos, reverberando quarenta anos depois de seu fim

Dias após a operação policial no Rio de Janeiro, que resultou em pelo menos 121 mortos, pesquisas de opinião revelam que, apesar da imagem chocante de dezenas de corpos enfileirados na Praça São Lucas, o apoio à operação é maior do que a desaprovação.

Na pesquisa Quaest, divulgada em 3/11, temos 64% de aprovação; na pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, divulgada em 01/11, 69,6% de aprovação, e na pesquisa do Instituto AtlasIntel, divulgada em 31/10, 62,2% de aprovação. Ainda que existam variações na porcentagem de apoio, fica evidente que há um consenso na opinião pública sobre o uso da violência no enfrentamento ao crime organizado.

Brainrot político: a Era dos cidadãos apodrecidos, por Antonio Jorge Pereira Júnior

O Povo (CE)

Ser coerente com os mandamentos constitucionais, base da convivência democrática, cimplica respeitar quem pensa diferente e nunca tolerar abusos de autoridade contra adversários políticos ou ideológicos

O "brain rot", ou podridão cerebral, termo que evoca uma atrofia intelectual, foi eleito palavra do ano em 2024 pela Universidade de Oxford, e reflete a preocupação global com a diminuição da capacidade de concentração na era digital. No século XIX Thoreau já denunciava a superficialidade e a fuga intelectual como causas do esvaziamento mental que compromete a autonomia do pensamento.

A superficialidade digital repercute no cenário político e cria a "podridão cívica". As telas, com ciclos de gratificação instantânea e o bombardeio de informações fragmentadas e simplistas, atrofiam a capacidade de atenção sustentada, de pensamento crítico e de argumentação coerente. Tais habilidades são essenciais para a autonomia intelectual e para o exercício pleno e consciente da cidadania.

Poesia | O tempo passa? Não passa, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Casuarina - Minha Filosofia