terça-feira, 4 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lei antifacção precisa ter tramitação célere

Por O Globo

Congresso deve priorizar pauta de segurança, mas apenas mudanças legislativas não serão suficientes

É necessário que as autoridades e a classe política prestem atenção ao apoio da população fluminense à megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha. A incursão conquistou aprovação de 64% dos moradores do estado, de acordo com pesquisa Quaest (apenas 27% disseram desaprová-la). É significativo também que 85% se declarem a favor do aumento de penas para homicídios cometidos por integrantes de facções criminosas (somente 10% se dizem contra). Trata-se de uma demonstração inequívoca de que a população não aguenta mais ser subjugada por facções e milícias que tomaram extensões significativas do território.

Novo patamar, por Merval Pereira

O Globo

A aprovação da barbárie é um grito de alívio de comunidades submissas a essas quadrilhas que as dominam no dia a dia

A tragédia que se abateu sobre o país há muitos anos, com a dominação de vastos territórios nacionais por quadrilhas de narcotraficantes e milicianos (especialmente no Rio de Janeiro, onde mais uma vez se traduziu em dezenas de mortes na guerra urbana), não pode ser enfrentada a partir de premissas que já não retratam a realidade. Clamar por respeito aos direitos humanos nesse combate ou, por outro lado, alegar que bandido bom é bandido morto são premissas que já não são suficientes e distorcem o debate.

Claro que ninguém pode ser insensível à morte de dezenas de pessoas, mesmo que todos fossem bandidos. Mas é preciso saber que o problema não se resolve com chacinas, nem com carta branca para a polícia reagir sem controles morais. Vira tudo guerra aberta entre facções, sem que a sociedade encontre uma saída. As pesquisas de opinião, que mostram grande apoio dos moradores de comunidades às ações policiais, são demonstração explícita de que já não aguentam mais o jugo dos traficantes e milicianos sobre suas vidas.

Segurança pede mais do que torneio verbal, por Fernando Gabeira

O Globo

Energia social no Brasil foi investida na troca de acusações: fascistas de um lado; cúmplices de traficantes do outro

Peço desculpas por começar simplificando. Uma política de segurança que prioriza a morte é condenável. Mas a ocupação do território pelo crime organizado, oprimindo milhões de pessoas, é intolerável. Como resolver esse problema?

Grande parte da energia social no Brasil foi investida na troca de acusações: fascistas de um lado; cúmplices de traficantes do outro. O tiroteio verbal foi tão intenso quanto o barulho ensurdecedor da terça-feira passada no Alemão e na Penha.

O debate é necessário em todos os níveis, mas, concentrado nas acusações mútuas, transforma o sofrimento real dos moradores do morro em mais uma rotineira troca de farpas entre esquerda e direita.

A questão central permanece intocada. Governadores de direita criaram um consórcio às pressas, num movimento nitidamente eleitoral. Sua tese de igualar o tráfico ao terrorismo é um dado importante na geopolítica. Paraguai e Argentina classificaram os traficantes brasileiros como terroristas. É a posição de Trump, que, no momento, tem destruído barcos no Caribe e no Pacífico. Na verdade, é a política do extermínio usando o argumento do terrorismo, algo que, levado às últimas consequências, pode resultar na morte de milhares de inocentes, como aconteceu em Gaza.

A escolha que fazemos, por Pedro Doria

O Globo

Renunciamos aos valores liberais em troca de paz. É uma escolha

Se usarmos os critérios de uma democracia liberal, a operação das polícias Civil e Militar no Morro do Alemão, há uma semana, foi um fracasso. Evidentemente, como demonstram bem mais do que uma pesquisa realizada desde então, não é assim que pensa mais da metade dos cariocas e brasileiros. O fato de o fracasso não ser óbvio deveria nos preocupar. A emoção tem falado mais alto que a razão. Então mergulhemos no debate.

Qual a medida do sucesso? O fato de, desta vez, a polícia ter subido o morro e de não terem morrido inocentes? Não sabemos isso. Jamais, na imprensa, confiamos na palavra da polícia sobre quem são os mortos. Por que, repentinamente, decidimos confiar? Mas aceitemos a hipótese — crível — de que todos os mortos tenham sido traficantes. Não matar inocentes é obrigação da polícia. Não é prova de sucesso.

Expectativa e dúvidas da COP, por Míriam Leitão

O Globo

A COP 30 só será um grande sucesso se definir um plano para eliminação dos combustíveis fósseis, considera Tasso Azevedo, do MapBioma

A queda das emissões de gases de efeito estufa do Brasil foi maior do que se esperava: 17% em 2024 comparado a 2023. Isso é outro trunfo que o país levará para Belém. O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, diz que é uma vitória importante, mas acredita que a COP30 só será um grande sucesso se dela sair um mandato para construir um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. “Não sairemos dessa enrascada sem resolver os combustíveis fósseis.” O TFFF foi pensado inicialmente como um compromisso de doação da indústria do petróleo, mas acabou virando um fundo.

Tasso explicou a diferença. Idealizador do Fundo Amazônia, foi ele quem primeiro levou, em 2023, ao Ministério do Meio Ambiente a ideia da criação de um projeto de remunerar a floresta em pé. Na época, a proposta era fazer um acordo com as empresas produtoras de petróleo para que elas pagassem US$ 1 por barril para remunerar os países que preservassem suas florestas tropicais. Uma empresa como a Petrobras teria que doar algo perto de US$ 1 bilhão, pois produziu 900 milhões de barris no ano passado.

Bolsonarismo sem Bolsonaro ganha discurso, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Brasil tem 3% da população mundial e 10% dos homicídios. Mesma desproporção dos mortos na pandemia. Um ajudou a derrotar Bolsonaro, o outro, ameaça Lula

Com 3% da população mundial, o Brasil tem 10% dos homicídios do planeta (Anuário Brasileiro de Segurança Pública). É exatamente a mesma discrepância que se observou na proporção de mortes da pandemia (OMC). O desprezo por este flagelo da covid-19 foi um dos motivos que levou à derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro. A leitura equivocada sobre o impacto da violência na vida dos brasileiros coloca em pauta a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Grande parte disso vem da percepção arraigada de que a origem da violência está na pobreza e desigualdade. A América Latina, região mais violenta do mundo, tem indicadores mais alarmantes do que países com renda per capita e desigualdade semelhantes (Banco Mundial). Esta percepção freou, até aqui, as tentativas de se adotar medidas mais duras contra o crime organizado.

A nova estrela nacional, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A depender de Cláudio Castro, os corpos enfileirados na Penha viram cartão postal do Rio

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, está se achando e vive seus 15 minutos de glória depois da operação policial que resultou em 121 mortos, inclusive quatro policiais, a mais letal da história, que, vamos combinar, não tem absolutamente nada de glorioso. Até porque o crime organizado vai continuar ganhando a guerra.

Os 15 minutos podem evaporar rapidamente, com o TSE julgando, a partir de hoje, um pedido de cassação de Castro por contratações acusadas de irregulares no Ceperj, instituição que forma servidores públicos para o governo do Estado.

O forte do currículo do governador é sua atuação como cantor e autor de músicas católicas, além do diploma em direito e os anos assessorando políticos. Ele só chegou aonde chegou ao se lançar a vice na chapa de Wilson Witzel em 2018, na onda bolsonarista.

Xandão in Rio, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Impressiona que alguém – vivendo no mundo real – ainda se surpreenda com o apoio popular à operação policial havida nos complexos da Penha e do Alemão. A maior aprovação vem do morador da favela. Complexo nomeia a consolidação de área tomada pelo crime organizado, uma faixa contínua de terra, que amarra e anula bairros e comunidades – para constituir cidade à parte, cidadela mesmo.

Habitam ali pessoas oprimidas, acostumadas à lei da tortura, que veem fuzis todos os dias; e que apenas querem viver como as gentes que moram no asfalto carioca, para quem a violência, grande possibilidade, é materialização eventual. Para o morador da favela, é o próprio endereço – é abrir a porta de casa. Ninguém suporta isso. Sentimento que será explorado eleitoralmente. Explorada eleitoralmente será a desonestidade intelectual de pregar que se possa reverter essa realidade sem dura intervenção armada.

Quando o veneno tem um sabor doce, por Ronayre Nunes

Correio Braziliense

"Para alguns, as mortes na megaoperação parecem oferecer uma sensação de vingança. Mas trata-se de uma ilusão. É como beber algo que parece doce, mas é veneno"

Hoje completa uma semana desde a megaoperação no Rio de Janeiro. A esta hora, na semana passada, o país assistia a uma das maiores cenas de violência e terror da história recente. Sempre que um grande fato ocorre, o tempo costuma servir como lente para compreender o que, afinal, ele significou. Passados sete dias desde o caos, parece que parte da nação se deixou levar pelo doce sabor de um veneno destrutivo.

Aquele horror de ver tantos corpos esticados em uma praça pública — cena registrada no dia seguinte à operação, na última quarta-feira (29/10), após moradores recolherem mortos de uma área de mata entre os complexos da Penha e do Alemão — parece já ter ficado para trás. Depois do choque inicial, as mortes foram reduzidas a mais um duelo entre apoiadores e críticos da ação policial.

Assim como ocorreu no período eleitoral, pouco se discutiu sobre políticas públicas ou soluções reais. A pergunta que dominou o debate foi outra: "você está do lado da esquerda ou da direita?". Difícil entender a origem de tanta superficialidade diante de questões tão complexas. As redes sociais, claro, ajudam a consolidar essa pobreza de argumentos e posições. Mas isso é assunto para outro texto.

Oposição adota a lógica do Estado de exceção no combate ao narcotráfico, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A ruptura entre o Estado de Direito e a ação estatal de guerra traduz uma matriz autoritária persistente, cuja origem remonta ao pensamento de Oliveira Vianna

Desde a operação de “cerco e aniquilamento” de traficantes nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a crise da segurança pública passou a ocupar o centro da política nacional. Segundo o governo fluminense, dos 117 mortos na megaoperação, 115 foram identificados: mais de 95% tinham ligação com o Comando Vermelho, e 54% eram de fora do estado. Ao todo, 62 eram naturais de outros estados.

O relatório mostra chefes de organizações criminosas de 11 unidades da Federação, o que revela a dimensão nacional do problema e a necessidade de presença efetiva da União, o que apenas será possível com a aprovação da PEC do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Entretanto, a proposta está paralisada porque governadores de oposição rejeitam a centralidade do Ministério da Justiça na coordenação do sistema, inspirado no modelo federativo do SUS.

A guerra contra o crime não é uma metáfora, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Toda vez que democratas negligenciam combate ao crime, opções fora da lei se tornam mais atrativas

Quem sente na pele o poder das facções defende confronto violento

Imagine que uma operação do Exército da Ucrânia mate 117 soldados russos, capture 115 prisioneiros de guerra e apreenda armamentos do inimigo. A população ucraniana receberia essa notícia com alegria, mesmo sabendo que a guerra está longe do fim.

Mesmo com a aprovação geral, críticas seriam possíveis ao governo ucraniano: a operação faz sentido estratégico? Ela vale os recursos humanos, bélicos e financeiros investidos? Novas operações como essa serão sustentáveis? As tropas ucranianas cometeram crimes de guerra, como execução de soldados inimigos já rendidos? São questionamentos importantes.

Normalizando o terror, por Vladimir Safatle e Tarcisio Motta

Folha de S. Paulo

A política que nos espera é baseada na dessensibilização das massas por meio do medo, que gera raiva, que vira ódio

Visita de outros governadores da extrema direita ao Rio é apenas o sinal de que a fórmula será repetida

Na última quinta-feira, dia 29 de outubro, entre corpos decapitados, decepados, esfaqueados e desfigurados por tiros de fuzil, a praça São Lucas, no complexo da Penha, transformou-se em um necrotério a céu aberto. Dezenas de cadáveres estendidos no chão fizeram da morte um palanque eleitoral do governador mais desacreditado do país, desesperado pela necessidade de recuperar a popularidade perdida e conseguir uma vaga no Senado nas próximas eleições, pois precisa continuar se blindando da investigação de escândalos de corrupção que o perseguem há anos.

Até agora, são 117 pessoas mortas sem história, sem rosto, sem famílias, sem indignação, sem comoção. Só um número, como quem faz a contabilidade de objetos perdidos. São brasileiros submetidos à invisibilidade de gerações. São os brasileiros que, para alguns, não merecem lágrimas. É estarrecedor que até agora impere esse silêncio e essa dessensibilização.

Otoni, o adversário do bolsonarismo gospel, por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

Em discurso, deputado defendeu a polícia, mas atacou o governador

Parlamentar respondeu melhor do que o Planalto à crise de segurança

É verdade que a bancada evangélica reúne representantes muito diferentes do campo evangélico. Mas o alinhamento produzido pelo bolsonarismo agora divide espaço com vozes dissidentes.

A fala do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), ao comentar a ação militar no Rio, repetiu sua fórmula: a esquerda é a causa de todos os males do país.

Para engajar nas redes, recorre a frases de impacto. Classificou a operação como "a maior faxina da história do Rio de Janeiro". Seu colega de partido, André Fernandes, também evangélico, foi além: pediu uma salva de palmas para os bandidos mortos.

Bom mesmo é ser oposição, por Thaísa Oliveira

Folha de S. Paulo

Com o controle da Caixa, centrão parece se esquecer da ameaça de deixar o governo

Não bastassem os cargos de presidente, vice, superintendente e diretor, dá também para criar uma bet

Talvez nem o PP nem o União Brasil se lembrem, mas exatamente dois meses atrás eles convocaram os jornalistas para dizer que todos os detentores de mandato deveriam sair do governo Lula (PT) em até 30 dias.

O anúncio durou cerca de um minuto. Um jogo de palavras enxuto para deixar subentendido que a ameaça não valeria para todos os indicados. Deve ser só coincidência, por exemplo, o fato de o presidente da Caixa, Carlos Vieira, não ter mandato.

Batata quente nas mãos de Lula, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governador prepara um 'novo Witzel' para substituí-lo

Delegado que comandou a matança ameaça favoritismo do prefeito

O prefeito Eduardo Paes só faltou se vestir de conselheiro Acácio ao comentar a operação das polícias Militar e Civil nos complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do país, com mais de 120 mortos: "O Rio não pode ficar refém de grupos criminosos".

Ninguém —a não ser os verdadeiros chefões do crime, que moram longe das favelas e têm a identidade protegida pelo esquema que corrompeu e se infiltrou nas instituições de Estado— pode admitir a ocupação de quase um terço das áreas da cidade, as mais desassistidas, por milicianos e traficantes.

Democracia, ordem injusta e caos, por Ivan Alves Filho

O que acontece atualmente com o Rio de Janeiro é uma tragédia. Traficantes, milícias, polícia civil e polícia militar, todos envolvidos em uma guerra quase sem fim. 

A principal vítima disso tudo é o povo trabalhador. O homem comum que sai para trabalhar atrás do pão de cada dia e não sabe sequer se volta para casa.

Triste, muito triste, sobretudo para quem nasceu e foi criado na cidade como eu. Uma cidade que André Filho consagrou há quase cem anos, na sua célebre marchinha carnavalesca, como maravilhosa, e que sempre se apresentou como um cartão postal do Brasil. 

Formou-se, no Rio de Janeiro e em outras áreas do Brasil, uma espécie de burguesia do crime, movimentando capitais vultosos, e arrastando uma parcela considerável da nossa juventude. Sai de cena a mais-valia e entra em campo o código penal. A impressão que dá é que sobrou para uma parte da nossa mocidade vender drogas para outra. 

Poesia | Balada do amor através das idades, de Carlos Drummond De Andrade

 

Música | ‪Lô Borges e Orquestra Paganini‬ e ‪Filarmônica MG‬ - Um Girassol da cor do seu cabelo (Ao Vivo)