O Globo
Proposta da direita abre caminho a sanções econômicas e intervenções militares no Brasil
A direita descobriu uma fórmula mágica para
acabar com o tráfico: rotular as facções criminosas como organizações
terroristas.
A proposta já passou pela Comissão de
Segurança da Câmara, dominada pela bancada da bala. Agora pode ser aprovada na
Comissão de Constituição e Justiça, com apoio de governadores bolsonaristas.
A ideia parte de uma premissa verdadeira para chegar a uma conclusão falsa. A verdadeira: os bandidos são violentos, oprimem as comunidades e precisam ser combatidos. A falsa: isso exigiria equipará-los a terroristas.
Uma resolução da ONU descreve o terrorismo
como a prática do terror com fins políticos. A lei brasileira exige que o crime
seja motivado por xenofobia, discriminação ou preconceito de raça ou religião.
Nenhuma dessas definições se aplica a bandos que atuam no país, como Comando
Vermelho e PCC.
Classificar facções como organizações
terroristas pode satisfazer eleitores assustados com a violência, mas teria
duas consequências nocivas. A primeira, no front doméstico, seria justificar
ações ainda mais violentas do Estado em favelas e bairros populares.
Se uma região é dominada pelo terror, as
forças de segurança não precisariam seguir regras ou protocolos para ocupá-la.
Vítimas inocentes de operações desastradas se tornariam meros “danos
colaterais”.
No front internacional, a mudança abriria
caminho a sanções econômicas e intervenções militares em território brasileiro.
É o que tem feito o governo Trump ao bombardear embarcações venezuelanas no
Caribe, a pretexto de punir o narcoterrorismo. Foi o que desejou o senador
Flávio Bolsonaro ao sugerir um ataque americano na Baía de Guanabara.
As facções visam ao lucro e atuam como
máfias. Têm ramificações na política e no meio empresarial. Controlam
distribuidoras de gasolina, infiltraram-se no agronegócio e lavam dinheiro na
Faria Lima.
Combatê-las exige método, cooperação e
inteligência. Não é tarefa que se resolva com retórica de guerra e ações
espetaculosas — como se a PM estivesse prestes a libertar o Alemão da Al-Qaeda
ou a Penha do Talibã.

Nenhum comentário:
Postar um comentário