Folha de S. Paulo
População reconhece que o crime nasce da
desigualdade e da corrupção, aponta pesquisa
Mais de 73% concordam que parte da polícia e do Estado participam do crime
"Bandido
bom é bandido morto." Será essa a régua para a sociedade escolher seus
candidatos em 2026? Para entender melhor a percepção dos brasileiros sobre
segurança pública e combate ao crime, o Instituto Ideia Big Data rodou um
questionário online exclusivo para esta coluna.
Foram ouvidos 1.027 respondentes em todo o
país, distribuídos proporcionalmente por classe social, gênero, idade e região,
com margem de erro de três pontos percentuais. O resultado completo pode ser
baixado aqui.
O estudo indica que há consenso de que o Estado e a polícia são parte do sucesso do crime organizado. Mais de 73% concordaram com afirmações como "o acesso de criminosos presos a celulares mostra que parte da polícia e do Estado participa do crime". E 84,1% concordaram que "facções e milícias crescem porque conseguem circular dinheiro e armas com a ajuda de gente influente".
Outro ponto quase consensual é que a pobreza
contribui para o crime. Apenas 9,3% discordaram de que "programas de
educação, trabalho e lazer reduzem a entrada de jovens no crime mais do que
operações violentas". E só 14% discordaram que "a superlotação das
prisões ajuda as facções a recrutar novos membros".
Também há percepção de que o medo é
manipulado politicamente. Só 6,8% discordaram da afirmação "o medo
da violência fortalece
quem lucra com esse sentimento — políticos, empresas de segurança e policiais
corruptos". E 61,4% concordaram que "quando a polícia tem liberdade
para agir sem prestar contas, a corrupção dentro dela aumenta".
Mas algumas frases dividiram a opinião
pública — especialmente as que tratam do uso da violência para conter o crime.
Respondentes divergiram em relação a
afirmações como "a morte de jovens envolvidos no crime não é motivo de
comemoração" e "ver mortes em operações dá a sensação de que a
polícia está agindo, mesmo sem resolver o problema". Apenas 24,6%
concordaram que "é mais fácil acumular mortes do que qualificar a polícia
para melhorar sua eficiência".
Por que nos dividimos nessas respostas?
Aponto dois motivos que merecem ser testados. Primeiro, a frustração com o
aumento dos roubos de celulares — objetos caros e indispensáveis. Segundo, a
percepção de que "o jogo é bruto" e que, portanto, a polícia precisa
mostrar força: que violência deve ser respondida com violência, e que falar em
direitos humanos dá a mensagem errada e incentiva o crime.
A aprovação da operação no Rio indica que há
um problema imediato e que a resposta deve ser firme. Há expectativa de que o
Estado e a polícia reajam à violência na mesma moeda —fogo contra fogo. Ao
mesmo tempo, a maioria vê que corrupção e desigualdade estão na raiz do
problema.
A sociedade reconhece que escola de boa
qualidade resolve mais do que tiro. E entende que o Estado e a polícia são
parte do sucesso do crime organizado e que a solução passa por olhar para quem
ocupa postos de comando dentro do Estado, da polícia e das empresas que dão
cobertura ao crime.
Ou seja, operações na Faria Lima repercutirão
melhor entre eleitores do que as feitas em favelas.

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