domingo, 9 de novembro de 2025

Operações na Faria Lima repercutirão melhor entre eleitores do que nas favelas, por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

População reconhece que o crime nasce da desigualdade e da corrupção, aponta pesquisa

Mais de 73% concordam que parte da polícia e do Estado participam do crime

"Bandido bom é bandido morto." Será essa a régua para a sociedade escolher seus candidatos em 2026? Para entender melhor a percepção dos brasileiros sobre segurança pública e combate ao crime, o Instituto Ideia Big Data rodou um questionário online exclusivo para esta coluna.

Foram ouvidos 1.027 respondentes em todo o país, distribuídos proporcionalmente por classe social, gênero, idade e região, com margem de erro de três pontos percentuais. O resultado completo pode ser baixado aqui.

O estudo indica que há consenso de que o Estado e a polícia são parte do sucesso do crime organizado. Mais de 73% concordaram com afirmações como "o acesso de criminosos presos a celulares mostra que parte da polícia e do Estado participa do crime". E 84,1% concordaram que "facções e milícias crescem porque conseguem circular dinheiro e armas com a ajuda de gente influente".

Outro ponto quase consensual é que a pobreza contribui para o crime. Apenas 9,3% discordaram de que "programas de educação, trabalho e lazer reduzem a entrada de jovens no crime mais do que operações violentas". E só 14% discordaram que "a superlotação das prisões ajuda as facções a recrutar novos membros".

Também há percepção de que o medo é manipulado politicamente. Só 6,8% discordaram da afirmação "o medo da violência fortalece quem lucra com esse sentimento — políticos, empresas de segurança e policiais corruptos". E 61,4% concordaram que "quando a polícia tem liberdade para agir sem prestar contas, a corrupção dentro dela aumenta".

Mas algumas frases dividiram a opinião pública — especialmente as que tratam do uso da violência para conter o crime.

Respondentes divergiram em relação a afirmações como "a morte de jovens envolvidos no crime não é motivo de comemoração" e "ver mortes em operações dá a sensação de que a polícia está agindo, mesmo sem resolver o problema". Apenas 24,6% concordaram que "é mais fácil acumular mortes do que qualificar a polícia para melhorar sua eficiência".

Por que nos dividimos nessas respostas? Aponto dois motivos que merecem ser testados. Primeiro, a frustração com o aumento dos roubos de celulares — objetos caros e indispensáveis. Segundo, a percepção de que "o jogo é bruto" e que, portanto, a polícia precisa mostrar força: que violência deve ser respondida com violência, e que falar em direitos humanos dá a mensagem errada e incentiva o crime.

A aprovação da operação no Rio indica que há um problema imediato e que a resposta deve ser firme. Há expectativa de que o Estado e a polícia reajam à violência na mesma moeda —fogo contra fogo. Ao mesmo tempo, a maioria vê que corrupção e desigualdade estão na raiz do problema.

A sociedade reconhece que escola de boa qualidade resolve mais do que tiro. E entende que o Estado e a polícia são parte do sucesso do crime organizado e que a solução passa por olhar para quem ocupa postos de comando dentro do Estado, da polícia e das empresas que dão cobertura ao crime.

Ou seja, operações na Faria Lima repercutirão melhor entre eleitores do que as feitas em favelas.

 

 

Nenhum comentário: