sexta-feira, 31 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Retomar território é essencial no combate ao crime

Por O Globo

Operações policiais são necessárias, mas só políticas sociais consistentes garantirão o domínio do Estado

A megaoperação no Rio contra o Comando Vermelho (CV) reacendeu o debate sobre os desafios do combate a organizações criminosas que dispõem de armamento de guerra e sofisticação militar. Operações policiais são necessárias para enfraquecê-las. Mas os resultados costumam ser parciais e, quase sempre, efêmeros. Há décadas, diferentes governos tentam enfrentar as quadrilhas, mas o problema persiste. É preciso políticas mais consistentes e duradouras. Retomar e manter o território é crítico para garantir a segurança das cidades e o bem-estar da população.

Apesar de os estados canalizarem recursos vultosos à segurança pública, é o crime que tem se expandido. Na Região Metropolitana do Rio, entre 2008 e 2023, a extensão territorial sob domínio de facções criminosas ou milícias cresceu de 8,8% para 18,2%. O avanço não ocorre só no Rio e é visível para o cidadão comum, exposto a uma rotina de tiroteios e crimes de toda sorte.

Lula vai à COP com rastro de problemas para depois, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Presidente deu sinais de que vai adiar a nomeação do novo ministro do STF para meados de novembro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais de que vai adiar a nomeação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para meados de novembro, depois da abertura oficial da Conferência Mundial do Clima das Nações Unidas (COP30) em Belém, no dia 10 de novembro.

Se não mudar de ideia, Lula passará os próximos 10 dias longe de Brasília, deixando pelo caminho um rastro de problemas, como a crise de segurança pública, intensificada pela oposição, e a pressão de aliados pela indicação do sucessor de Luís Roberto Barroso no STF.

O escritório e o consórcio com os sinais trocados no Rio, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Dúvida é se nova estrutura será capaz de romper os limites impostos pelos arranjos locais entre o crime e o Estado em um ano eleitoral

O “Consórcio da Paz” é uma ideia capenga do ponto de vista operacional, mas uma bela jogada de marketing, como o próprio governador do Rio, Cláudio Castro, reconheceu, ao agradecer o nome de batismo ao governador Jorginho Mello (SC). Busca contemplar a fatia do eleitorado que mantém alguma capacidade de se comover com as famílias de 121 pessoas mortas e se contrapõe ao “Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado” anunciado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, ao lado de Castro, na véspera. Na jogada pretendida pelos governadores de direita, eles cuidam da paz, e o escritório, anunciado por um governo de esquerda, cuida do crime.

Lula adota retranca na segurança, por Vera Magalhães

O Globo

Temor do entorno do presidente com o tema pauta resposta contraditória e, para alguns, omissa à operação que resultou em 121 mortes no Rio

A cautela extrema demonstrada pelo governo federal na reação à Operação Contenção, realizada na terça-feira pelas polícias do Rio nos complexos do Alemão e da Penha, se deve ao reconhecimento, por parte do Palácio do Planalto, de que o tema da segurança pública é o mais delicado para Lula na campanha do ano que vem — na avaliação de auxiliares, mais espinhoso até que a economia e o nó fiscal.

Existe uma profusão de pesquisas demonstrando a centralidade que o assunto adquiriu na percepção do eleitorado. Violência é a maior preocupação dos brasileiros em relação ao país, segundo a Pesquisa Nacional de Vitimização e Segurança Pública realizada pela Quaest para a UFMG em 2023 e neste ano. O mesmo instituto vem medindo a avaliação da população quanto à atuação do governo Lula no tema da segurança. Dados de março mostram que ela é negativa para 38%, e apenas 25% a classificam como positiva.

O marketing da matança, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Depois de elogiar ação com 121 mortos, governadores bolsonaristas anunciam "Consórcio da Paz"

Dois dias depois da maior carnificina da História do Rio, uma comitiva de governadores de direita desembarcou ontem no Palácio Guanabara. Os visitantes foram manifestar apoio a Cláudio Castro. Entre sorrisos e afagos, descreveram a operação que deixou 121 mortos como “sucesso” e “divisor de águas”.

O mineiro Romeu Zema reclamou que a ação policial estaria sendo “erroneamente considerada a mais letal”. “Deveria ser considerada a mais bem-sucedida”, afirmou. O goiano Ronaldo Caiado disse ter ficado “orgulhoso” do banho de sangue nas favelas. “Ô Cláudio, meus parabéns!”, empolgou-se.

Castro anunciou a criação de um certo “Consórcio da Paz”, formado por governadores de oposição. Atribuiu a ideia ao catarinense Jorginho Mello, a quem apresentou como “nosso marqueteiro”.

Brasil vive momento Bukele, por Pablo Ortellado

O Globo

Direitos humanos também são violados pela ação violenta e cotidiana dos bandidos

A violenta ação policial nos complexos da Penha e do Alemão e o apoio popular amplo que ela recebeu nos colocam diante de um dilema: após um período prolongado de deterioração da segurança pública, será necessário flexibilizar o Estado de Direito para proteger com eficácia a população? Em termos mais concretos: diante da falência completa da segurança pública no Rio de Janeiro, autorizaremos a polícia a cometer execuções extrajudiciais, algumas das quais seriam ilegais até mesmo segundo o Direito de Guerra?

Ninguém viveu melhor esse dilema do que El Salvador. Nos anos 2010, a violência urbana no país era crítica, com a maior taxa de homicídios do mundo. Bairros inteiros eram controlados por gangues como Mara Salvatrucha ou Barrio 18. Em 2019, Nayib Bukele assumiu a Presidência do país e adotou um plano de controle territorial que envolveu emprego maciço de policiais e militares nos territórios controlados pelas gangues.

Lula corre atrás do prejuízo depois de megaoperação contra traficantes no Rio, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Cláudio Castro apresentou-se como um governador “em guerra”, cercado por armas e cadáveres, e retratou sua ação como defesa do “povo abandonado pelo Estado”

A megaoperação policial realizada pelo governo do Rio de Janeiro, sob comando de Cláudio Castro, expôs o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma das situações políticas mais delicadas de seu terceiro mandato. Retornando da Malásia, onde havia participado de uma cúpula diplomática e se reunido com Donald Trump, Lula foi surpreendido por uma operação que resultou em mais de 120 mortos — o maior número da história do país — e reacendeu a tensão entre o discurso federal de respeito aos direitos humanos e a escalada de combate ao “narcoterrorismo” defendida por governos estaduais e forças de segurança pública.

O governador fluminense não apenas conduziu uma operação de grande envergadura militar, mas transformou-a em ato político. A reunião de governadores da oposição no Rio de Janeiro, Nesta quinta-feira, sinaliza que a pauta da segurança pública, sensível e popular, foi apropriada pela oposição como eixo de confronto direto com o governo federal. A proposta de tratar facções, como o Comando Vermelho e o PCC, como organizações terroristas reforça essa guinada discursiva, buscando ocupar o espaço deixado pela ausência de maior protagonismo federal na área.

Condescendência, não! Barbárie, jamais! Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Direita quer ‘consórcio da paz’ e crime organizado como terrorismo. Isso resolve o quê?

Assim como a família Bolsonaro deu de presente a bandeira da soberania nacional para o presidente Lula, o governador Cláudio Castro deu a matança do Rio para a direita, e de mão beijada – ou melhor, suja de sangue. O passo seguinte foi criar um “consórcio de paz” com governadores aliados e lutar para classificar o crime organizado como “terrorismo”. Castro, porém, pode ter repetido o erro bolsonarista: exagerar na dose.

A questão da segurança é a maior preocupação do brasileiro e estará no centro das eleições de 2026, a direita defendendo o “prende e arrebenta”, ou o “bandido bom é bandido morto”, e a esquerda sendo acusada de ser “conivente com o crime” e “vir com essa história de direitos humanos para defender bandidos”.

Segurança pública e disputa eleitoral, por Orlando Thomé

Correio Braziliense

O tema voltará a ocupar as atenções de partidos e candidaturas, mas, infelizmente, em um debate que tende a ser marcado pela conhecida, de tão antiga, dicotomia: de um lado, a defesa do aumento da repressão e das punições; de outro, a ideia de que não há saída sem o enfrentamento das causas sociais

Todas as pesquisas têm revelado que segurança pública é o tema que mais aflige a sociedade brasileira. O crescimento vertiginoso do crime organizado não chega a ser uma novidade, mas sua infiltração de maneira abrangente em diversas atividades econômicas formais era algo ainda pouco conhecido da maioria da população e que veio à tona com a Operação Carbono Oculto, conduzida com extrema competência pela Receita Federal, em conjunto com Polícia Federal, GAECO do Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Agência Nacional do Petróleo e PGE/SP.

O PSD e os ‘pantalones largos’, por Fabio Giambiagi

O Estado de S. Paulo

Entre um governo do PT com os cacoetes de uma esquerda arcaica e uma oposição liderada pelo PL com um bando de aloprados, o PSD precisa ser para o Brasil do futuro o que o PSDB já foi

Passei a infância na Argentina, na década de 1960. Na cultura da época, eu e os meninos jogávamos bola e vivíamos de calça curta, até os 12 ou 13 anos, quando virávamos hombrecitos. Como “rito de passagem”, na transição para o que seria a vida adulta, trocávamos então a calça curta pelos pantalones largos (na língua de Cervantes, largo significa “comprido”). Parodiando aquela época, está na hora de o PSD colocar os pantalones largos.

Nossa política sofre de um mal: a falta de equilíbrio. Vinte anos atrás, os embates políticos tinham de um lado um governo do PT que reduzia a relação dívida líquida/PIB, com Lula amigo de George W. Bush; e, de outro, a oposição bem-comportada do PSDB.

China e EUA concordam em evitar guerra comercial aberta e imediata; e só, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Xi Jinping e Donald Trump apenas recolocam relações sino-americanas na situação de setembro

EUA aliviam sanções contra empresas; China alivia em terras raras, de venda ainda restrita

China e Estados Unidos concordaram em evitar guerra econômica aberta; aceitaram fingir que querem ou podem chegar a um acordo. É o que se depreende do resultado mínimo do encontro entre Xi Jinping e Donald Trump. A situação voltou apenas para onde estava em meados de setembro. A China prometeu aliviar em terras raras, comprar uma soja; os americanos prometeram sancionar menos empresas chinesas e deram uma gorjeta em tarifas.

O assunto não é blablá de política internacional. A depender do tamanho do risco de conflito, grande, taxas de juros e preços de moedas variam muito, como sentimos até aqui neste canto do mundo. Alteram-se decisões de investimento, estratégias de comércio, portas de comércio se abrem e se fecham, no curto e médio prazo.

'Purgatório da beleza e do caos', por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Dominação de territórios se espalha e ameaça a soberania do país sob olhar atordoado do Estado

Matanças como a de 28 de outubro, dia de São Judas, um dos mais cultuados no Rio, retratam a falência do método

Com toda certeza o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, um homem de alto saber jurídico, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, não sabe o que é o dia a dia das pessoas numa favela do Rio de Janeiro ou comunidades desassistidas país afora.

Pobre de origem, o presidente Luiz Inácio da Silva, cujas agruras da infância pertencem a outro tempo, também não. A quase totalidade de deputados e senadores tampouco sabe o que é viver refém do crime na porta de casa.

Governadores e prefeitos convivem mais de perto com a tragédia da criminalidade que se espalha pelo Brasil, mas talvez não tenham tempo nem disposição para vivenciar o cotidiano dos cidadãos sitiados em territórios dominados. Ainda que tivessem a atenção necessária, não poderiam sozinhos dar conta do problema com suas polícias.

O custo econômico da violência, por Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Reduzir violência na América Latina ao nível mundial pode somar 0,5 ponto percentual ao PIB

Erosão democrática pode reverter ganhos associados à redução de homicídios

megaoperação policial que deixou mais de 120 mortos no Rio de Janeiro reacende um debate crucial para o Brasil: qual é o custo real da violência e da criminalidade para nosso desenvolvimento econômico e social? Esse episódio ilustra de forma bastante dramática um problema que deve estar custando ao Brasil pontos preciosos de crescimento econômico, entre outros impactos deletérios.

Há diversas métricas para medir o grau de violência e a criminalidade. Um dos mais acompanhados é o número de homicídios cometidos a cada 100 mil habitantes. No caso do Brasil, esse indicador vinha em tendência de alta desde o começo dos anos 1990, atingindo um pico em 2017, com cerca de 31 homicídios por 100 mil habitantes.

'O Agente Secreto' é Fellini no Recife, filme B e bom cinema, por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Kleber Mendonça Filho conta histórias paralelas, como a da Perna Cabeluda, além da trama central do enredo

Filme faz passeio felliniano pela paisagem humana e urbana do Recife e expõe faceta empresarial na ditadura

Há muito o que falar sobre "O Agente Secreto", de Kléber Mendonça Filho, melhor diretor no festival de Cannes —que também premiou o ator Wagner Moura, protagonista da história. Falarei um pouco.

O filme não se concentra numa narrativa central, embora ela exista, mas cercada de outras situações e derivas, uma delas marcante, que nos acompanha como uma espécie de filme B dentro filme. É a história, em clima fantástico e popular, da Perna Cabeluda. Isso mesmo, uma perna que aparece na barriga de um tubarão, é cercada de mistério, roubada do Instituto Médico Legal e transformada pelo disse que disse do povo e pela imprensa num ser com vida própria, que faz aparições violentas em horas noturnas na cidade.

Poesia | Nada é impossível de mudar, de Bertolt Brecht

 

Música | Roberta Sá e Martinho da Vila - Amanhã é sábado