quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Daniel Vorcaro e o funk ostentação, por William Waack

O Estado de S. Paulo

Daniel Vorcaro criou um “hedge” político que consistia em levar todo mundo para a festa. Nada de novo ou original. Periodicamente alguma figura de ascensão meteórica na arte de juntar dinheiro – em geral, às custas de trouxas – garante seus negócios chamando quem está próximo do cofre e/ou da máquina pública.

O que fez o ex-banqueiro sentir-se tão à vontade foram dois fatores, um de longo prazo e o outro o resultado das novas tecnologias (leia-se redes sociais). O primeiro é o velho patrimonialismo brasileiro, na forma de agrupamentos privados apelidados de partidos que entendem como ninguém de dinheiro de trouxas (contribuintes). Tem sempre dinheiro público envolvido em manobras como as de Vorcaro e de seus antecessores.

Caso Master enseja modernização do Estado, por Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Episódio deveria servir para que o poder público repensasse as normas atuais, endurecendo-as

Ocaso do Banco Master está sendo amplamente discutido, graças ao bom trabalho do jornalismo brasileiro, a partir de veículos sérios, com profissionais aptos ao exercício do ofício. É hora de refletir e de agir sobre as brechas regulatórias; elas ainda permitem o surgimento de monstrengos perigosos, como se vê.

A atuação firme do Banco Central é motivo de orgulho. A autonomia da instituição é essencial para a boa condução da política monetária e igualmente importante para garantir a solvência, a organização e o funcionamento do sistema financeiro. O recente episódio noticiado a respeito das pressões de parlamentares para alterar a legislação e avançar sobre diretores do Banco Central não pode ser esquecido.

Banco Master e PL Antifacção deixam Lula e Hugo Motta em rota de colisão, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A crise do Master desmontou uma engrenagem de proteção política que vinha funcionando nos bastidores de Brasília. O banqueiro Daniel Vorcaro investiu pesado na construção de blindagem institucional

A aprovação do PL Antifacção por 370 votos a 110, em meio à maior operação da Polícia Federal desde o início do governo Lula, pode ser um ponto de ruptura entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que estão em rota de colisão e trocam farpas pelas redes sociais. De um lado, uma derrota legislativa contundente em um tema tão sensível, a segurança pública, mostrou a fragilidade da base de apoio do governo na Câmara e pôs em xeque sua governabilidade. De outro, revelou o grau de infiltração do Banco Master no sistema político e financeiro, com ramificações que atingem diretamente o núcleo do Centrão que hoje comanda a Câmara.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ruína do Master expõe incúria de fundos públicos

Por O Globo 

Não há justificativa para Previdência do funcionalismo investir em papéis do banco que todos sabiam definhar

É fundamental que a polícia investigue com rigor os investimentos dos fundos de Previdência de estados e municípios em títulos do Banco Master, cuja liquidação extrajudicial foi decretada nesta semana. De outubro de 2023 a dezembro de 2024, R$ 1,9 bilhão foi aplicado em papéis do Master por 18 fundos do funcionalismo público — metade disso pelo Rioprevidência, do governo do Rio de Janeiro. As dificuldades do Master eram conhecidas, e não há justificativa plausível para tais investimentos. No fim do ano passado, o Tribunal de Contas do Estado do Rio apontou irregularidades e fez um pedido para o Rioprevidência suspender novas aplicações no Master. Foi ignorado. Não há notícia de que o governador Cláudio Castro (PL-RJ) tenha se esforçado para proteger o patrimônio dos funcionários do estado.

O que as eleições no Chile revelam, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Houve metamorfose nas forças políticas em três democracias sul-americanas

É provável que o próximo presidente seja de direita

Eleições sempre podem trazer surpresas. Mas é provável que o próximo presidente do Chile seja um político de ultradireita: José Antonio Kast. Embora no primeiro turno tenha sido superado pela candidata da coligação de esquerda Unidade pelo Chile, ele tem agora mais chances de crescer, somando os votos de dois outros candidatos direitistas, do que sua adversária comunista Jeanette Jara.

A possível vitória de Kast vem sendo interpretada de duas maneiras. A primeira prevê que ela selará uma virada histórica à direita na América do Sul, antecipada pela eleição de Bolsonaro em 2018 e seguida pelas vitórias de Javier Milei, na Argentina, em 2023, de Daniel Noboa, no Equador, e de Rodrigo Paz, na Bolívia, ambas em 2025.

Congresso quase inteiro está caladinho sobre o Master e o BRB, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Caso Americanas, que era roubança privada, teve CPI. Rolo com banco estatal não vai ter?

CPIs têm dado em nada, mas frente ampla de inquéritos dificulta a vida dos malandros

O Congresso não tem vontade alguma de criar uma CPI do Master-BRB. Um deputado federal, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), tenta arrumar assinaturas para o requerimento de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. "Não vai rolar", diz uma dúzia de seus colegas da Câmara. Querem ver o assunto cair morto em um caixão.

Pelo menos desde que o BRB decidiu comprar o Master, em março, se diz que Daniel Vorcaro tinha muito amigo e contato importante em Brasília, o que em si não quer dizer nada. Banqueiros e empresários muito maiores têm ainda mais amigo e contato importante em Brasília. Não quer dizer que corrompam.

O silêncio parlamentar, no entanto, é sintomático.

Ministro banqueirófilo pode julgar banqueiro? Por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Decisão do STF sobre Vorcaro, seja qual for, exalará todos os cheiros da suspeita

Banqueiro acusado de crimes contra o sistema financeiro patrocinou elites políticas, jurídicas e empresariais

Daniel Vorcaro é acusado de crimes contra o sistema financeiro. Teria praticado as mais desvairadas aventuras com dinheiro público e privado, fundos de previdência estatais, recursos de aposentados, falsificado títulos de crédito, negociado CDBs de contos de fadas.

Sob a condescendência do Banco CentralCade, Fundo Garantidor de Créditos, além de governos municipais e estaduais que bancaram suas promessas, o Banco Master explodiu e acaba de ser liquidado pelo Banco Central. Vorcaro segue em prisão preventiva enquanto advogados trabalham juridicamente e "sócio-politicamente" para tirá-lo de lá.

Entre Belém e Berlim, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Fala condenável do primeiro-ministro da Alemanha reflete uma visão neocolonial

Forma europeia de hierarquizar o mundo mostra que pouco se aprendeu sobre justiça climática

Entre Belém e Berlim, não há comparação. Apenas o governo sediado em uma delas definiu que possui um problema de "paisagem urbana" (lido como referência xenófoba a imigrantes); apenas uma delas decidiu retomar a venda de armas a Israel na última segunda-feira (17); apenas uma delas reprime de forma violenta protestos pró-Palestina; e apenas o governo sediado em uma delas cometeu um genocídio na Namíbia, pelo qual deve bilhões de euros. Spoiler: não é Belém, no Pará.

Cala a boca já morreu' morreu mesmo, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Há 10 anos, a ministra Cármen Lúcia libertou as biografias no Brasil

E, ao contrário do que temiam, os artistas não tiveram suas intimidades bisbilhotadas

Dez anos se passaram desde que, em junho de 2015, a ministra do STF Cármen Lúcia liquidou com a censura prévia que dois impertinentes artigos do Código Civil impunham às biografias produzidas no Brasil. Por esses artigos, os biógrafos eram obrigados a pedir a autorização de seus biografados ou dos herdeiros deles para investigar-lhes a vida e descrevê-la em livro. Se essa obrigação parece justa ao leigo, imagine um biógrafo alemão tendo de pedir à família de Adolf Hitler que o autorizasse a escrever uma biografia do homem. O Brasil era o único entre as democracias a praticar esse estrupício —e, não por acaso, debochado pelos de fora ao saberem que aqui era assim.

A História e as suas camadas, por Ivan Alves Filho

Por nossa casa no Rio de Janeiro transitavam, ao longo dos anos, Astrojildo Pereira, Nelson Werneck Sodré, Oscar Niemeyer, Domingos da Guia, Ismael Silva, Gerardo Mello Mourão, João Saldanha, Sílvio Caldas, Ferreira Gullar, Carlos Alberto Caó de Oliveira, Fernando Ferrari, Giocondo Dias e Luiz Carlos Prestes. Outros que eu não me recordo de ter visto lá em casa, mas que eram amigos de meu pai, e que eu também conheci, foram Prudente de Morais, neto, Doutel de Andrade, Benjamin Cabello e Alberto Passos Guimarães. Com o tempo, algumas dessas amizades foram sendo transferidas também para mim. E eu fui criando outras pela vida afora, naturalmente. 

Opinião do dia - Jürgen Habermas* (Os direitos humanos)

“Os direitos humanos formam uma utopia realista na medida em que não mais projetam a imagem decalcada da utopia social de uma felicidade coletiva; antes, eles ancoram o próprio objetivo ideal de uma sociedade justa nas instituições de um Estado constitucional.

Naturalmente, essa ideia transcendente de justiça introduz uma tensão problemática no interior de uma sociedade política e social. Independentemente da força meramente simbólica dos direitos fundamentais em muitas das democracias de fachada da América do Sul e de outros lugares, na política dos direitos humanos das Nações Unidas revela-se a contradição entre a ampliação da retórica dos direitos humanos , de um lado, e seu mau uso como meio de legitimação para as políticas de poder usuais, de outro.”

*Jürgen Habermas (Düsseldorf, 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, ‘Sobre a Constituição da Europa’ (2011), pp. 31-2, Editora Unesp, 2012.

Poesia | Por Luciana Braga e Ana Beatriz Nogueira - A máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | 'A cara do Brasil, por Celso Viáfora