quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Prisão de banqueiro e liquidação do Master também repercutem na política, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Segundo a PF, várias operações financeiras só prosperaram após pressões diretas de autoridades com trânsito em bancos estaduais, autarquias e fundos de servidores

A liquidação do Banco Master, decretada pelo Banco Central após a deflagração da Operação Compliance Zero pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, nesta terça-feira (18/11), desencadeou um abalo simultâneo no sistema financeiro e no mundo político. A investigação aponta que a cúpula do Master montou um esquema de fraude contábil bilionário para mascarar um rombo estrutural, mantendo a aparência de solvência enquanto as finanças da instituição se deterioravam rapidamente.

O controlador do banco, Daniel Vorcaro, preso quando tentava embarcar para Malta, é acusado de vender ao Banco de Brasília (BRB) carteiras de crédito fictícias no valor de R$ 12,2 bilhões, apoiando-se em documentos com datas retroativas e assinaturas eletrônicas emitidas meses depois, uma evidência direta de falsificação. Tratava-se de criar ativos inexistentes e inflar o patrimônio do banco artificialmente, numa tentativa desesperada de evitar o colapso.

O medo de uma nova Lava Jato, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Demora de Lula para enviar o projeto Antifacção ao Congresso ajudou a criar polêmicas

A cena lembraria a novela Vale Tudo. O empresário Daniel Vorcaro ia deixar o Brasil em seu jatinho horas antes de a Federal bater na sua porta. Não deu. Algemas esperavam o banqueiro no embarque. O desfecho do caso Master se une a outros fantasmas que rondam Brasília. Avisos não faltaram, enquanto o governo Lula patinava na formulação de um projeto de lei antimáfia.

Desde que o PCC e o CV passaram a atuar no tráfico transnacional de drogas seus recursos cresceram exponencialmente. E não é só para a Receita que dinheiro não tem cheiro. Na hora de receber comissões, operadores do mercado agiram da mesma forma: pouco importava a origem do bilhão da contabolsão ou das operações de câmbio para a compra de USDT. Isso fez com que recursos do crime e do terror passassem a circular nos mesmos escaninhos do dinheiro da sonegação e da corrupção. Era questão de tempo para da festa se passar à ressaca.

Segurança pública une novamente centrão e bolsonarismo na Câmara contra Lula

Por Ranier Bragon , Victoria Azevedo , Carolina Linhares e Raquel Lopes / Folha de S. Paulo

Governo foi derrotado por ampla maioria no PL Antifacção, relatado por Derrite e comandado por Motta

Aliança centrão-oposição havia sido abalada pela reação da esquerda com o discurso de justiça tributária e soberania

O bloco de centro-direita e de direita na Câmara se uniu novamente nesta terça-feira (18) contra a esquerda em um tema que tem se mostrado, por ora, a principal dor de cabeça de Lula na sua tentativa de se reeleger em 2026.

A Câmara aprovou o projeto de Lei Antifacção por 370 votos a favor e 110 contra, num revés ao Palácio do Planalto, que viu seu projeto ser alterado e tentou adiar a apreciação da matéria após discordar de mudanças feitas. Partidos com representantes na Esplanada dos Ministérios entregaram 60% dos votos favoráveis, em mais um sinal da fragilidade da base aliada no Congresso.

Delação no caso Master pode explicar simpatia do centrão e do direitão pelo banco. Ou não, por Vinicius Torres Freire

Folha S. Paulo

Investigações preliminares indicam que BRB comprou R$ 12 bilhões de vento do Master

Fraude tão grande só se explica por inépcia total ou por corrupção. Para benefício de quem?

Daniel Vorcaro tinha amigos importantes em Brasília, a gente está farta de ler e ouvir faz meses, ainda mais agora, quando o futuro ex-dono do Banco Master está na cadeia. Fazia lobby, eventos, jantares, tal como quase qualquer empreendedor, digamos, que não vai a passeio à capital.

Ele, sócio e parentes tinham amigos no centrão e no direitão. Esse rumor sabidão de "bastidores", porém, diz quase nada até sobre a dúvida mais óbvia sobre esse rolo, um escândalo que pode empatar com o da Americanas em roubança.

Segundo investigações, o BRB, banco do governo do Distrito Federal, dava dinheiro para o Master, antes e depois da decisão oficial de comprá-lo. Como assim? O BRB comprava dívidas a receber, créditos, fictícias do Master (no caso, consignados).

O mito da polarização, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Estudo mostra que os apaixonados políticos são minoria barulhenta e eleitoralmente insignificante

O problema é que a maioria não engajada não tem (ainda?) alguém que seja capaz de representá-la

Direita e esquerda, da forma como se apresentam hoje, não caem nas graças da maioria. A dita polarização tampouco. Um passeio pela vida real dá a dimensão do que se passa longe da internet e do noticiário que reverbera as vozes engajadas.

Foi o que fizeram os pesquisadores Pablo Ortellado e Felipe Nunes ao elaborar um estudo com duas centenas de perguntas a 10 mil brasileiros. O resultado traduziu a realidade em números: os apaixonados extremos são 11%, e os levemente enamorados, 35% —enquanto 54% estão na pista, no aguardo de quem lhes desperte o interesse.

A esquerda ainda não entendeu o apoio popular à operação militar no Rio, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Viver sob facções ativa autoritarismos que a esquerda insiste em tratar como direitismo

Facções destroem a ordem comum; a reação autoritária popular não é ideologia, é sobrevivência

A megaoperação no Rio produziu um fenômeno desconcertante para a esquerda e os progressistas: apesar do número extraordinário de mortos, a maioria da população a aprovou. A Quaest mostra que 67% dos brasileiros consideram a operação correta e que 67% julgam que a polícia não exagerou na força.

No Rio, o Datafolha confirma: 57% concordam com o governador que a ação foi "um sucesso", e quase 70% dizem que ela foi bem ou suficientemente bem executada. Mais decisivo: 81% acreditam que "todos" ou "a maioria" dos mortos eram criminosos.

Para a maioria, portanto, a operação foi legítima, necessária e moralmente justificável, e os rótulos "chacina" e "genocídio" não pegaram.

Bolsonaro merece tratamento especial? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Condição de ex-presidente não deveria por si só assegurar nenhum tipo de regalia penal

Se STF optar por domiciliar por razões sanitárias, deveria estender benefício a todos os presos com saúde frágil

Começou a contagem regressiva para o encarceramento definitivo de Jair Bolsonaro. É justo que ele receba algum tratamento especial?

O jornal O Estado de S.Paulo acaba de publicar um editorial em que crava um "sim" à pergunta. E a linha-fina da peça desenvolve o raciocínio: "Como ex-presidente, Bolsonaro não pode ser tratado como um preso qualquer". A Folha já defendera, em setembro, prisão domiciliar para o ex-mandatário.

Opinião do dia -Jürgen Habermas* (O discurso democrático)

“O Estado democrático de direito se tornou um projeto, ao mesmo tempo resultado e acelerador de uma racionalização do mundo da vida que vai muito além do aspecto político. O verdadeiro conteúdo deste projeto é a institucionalização gradualmente melhorada dos procedimentos de formação coletiva racional da vontade, os quais não podem prejudicar os objetivos concretos dos participantes. Cada passo nesse caminho tem repercussões sobre a cultura política e sobre as formas de vida. Porém, por outro lado, sem a contrapartida de uma cultura política e de formas de vida racionalizadas, não poderiam surgir formas de comunicação adequadas à razão prática.”

*Habemas, Jürgen (1929). Facticidade e Validade: contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia. Trad: Felipe Gonçalves Silva e Rúrion Melo. p.651, São Paulo: UNESP, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

BC e PF agiram na hora certa contra Master e Vorcaro

Por O Globo

Liquidação do banco e prisão do dono não esgotam investigação. Ela deve mirar agora braço político do esquema

Veio em boa hora a decisão do Banco Central (BC) de decretar a liquidação extrajudicial do Banco Master. Sob a acusação de negociar títulos fajutos de crédito, o banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Master, foi preso pela Polícia Federal (PF) quando estava prestes a decolar de Guarulhos num jatinho rumo à Ilha de Malta. A PF prendeu ainda seu sócio Augusto Lima e outros executivos do banco. A Justiça afastou a cúpula do Banco de Brasília (BRB), também alvo das investigações. Entre os crimes investigados pelas autoridades estão gestão fraudulenta e temerária. Apesar das cifras bilionárias envolvidas, a liquidação do Master não representa risco para o sistema bancário brasileiro. Ao contrário, demonstra a independência e a agilidade da vigilância do BC para preservá-lo.

Poesia | A mulher que passa, de Vinícius de Moraes

 

Música | Carlos Lyra - Além da Bossa (Carlos Lyra e Daltony Nóbrega)