O Estado de S. Paulo
Demora de Lula para enviar o projeto Antifacção ao Congresso ajudou a criar polêmicas
A cena lembraria a novela Vale Tudo. O
empresário Daniel Vorcaro ia deixar o Brasil em seu jatinho horas antes de a
Federal bater na sua porta. Não deu. Algemas esperavam o banqueiro no embarque.
O desfecho do caso Master se une a outros fantasmas que rondam Brasília. Avisos
não faltaram, enquanto o governo Lula patinava na formulação de um projeto de
lei antimáfia.
Desde que o PCC e o CV passaram a atuar no tráfico transnacional de drogas seus recursos cresceram exponencialmente. E não é só para a Receita que dinheiro não tem cheiro. Na hora de receber comissões, operadores do mercado agiram da mesma forma: pouco importava a origem do bilhão da contabolsão ou das operações de câmbio para a compra de USDT. Isso fez com que recursos do crime e do terror passassem a circular nos mesmos escaninhos do dinheiro da sonegação e da corrupção. Era questão de tempo para da festa se passar à ressaca.
A presença do crime organizado expôs outro
problema: ao desregulamentar setores para incluir novos atores na economia,
governos e agências esqueceram da fiscalização e do controle. Abriu-se um mar
de oportunidades em fintechs, operadoras de internet, distribuidoras de combustíveis
e loterias para o crime lavar dinheiro e para oportunistas, secundados por
políticos, passarem a ostentar riquezas e a distribuir benesses.
Desde que voltou ao poder, setores do PT,
vacinados pela experiência da Lava Jato, olhavam com desconfiança iniciativas
para aumentar os instrumentos de combate ao crime. Interesses corporativistas
também ajudam a explicar por que o projeto Antifacção deixou de criar uma agência
nacional antimáfia.
Mas os fatos atropelaram Brasília. A Operação
Carbono Oculto atingiu a ação do PCC no setor de combustíveis e apreendeu
terabytes de informações de gestores de fundos de investimentos, muitos dos
quais ligados ao Banco Master. Era mais um sinal de que o cerco se fechava em
torno de pessoas com trânsito em duas legendas do Centrão: o PP e o União
Brasil.
O medo de uma nova Lava Jato cresceu mais
quando surgiram informações de que atingidos na Carbono Oculto negociariam uma
delação. Foi nesse contexto que o deputado Derrite apresentou seu substitutivo
ao projeto Antifacção. E foi por causa dele que o texto levantou tanta
polêmica. A ação da polícia no Alemão quase embaralhou tudo, beneficiada pela
demora de Lula em enviar seu projeto ao Congresso. Tudo só reforçou a ideia de
que a Segurança será determinante na eleição de 2026.
Tyche dificilmente teria escolhido hora e
lugar mais apropriados para mostrar aos espertalhões a inconstância da fortuna
e da prosperidade humanas.

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