quarta-feira, 19 de novembro de 2025

O medo de uma nova Lava Jato, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Demora de Lula para enviar o projeto Antifacção ao Congresso ajudou a criar polêmicas

A cena lembraria a novela Vale Tudo. O empresário Daniel Vorcaro ia deixar o Brasil em seu jatinho horas antes de a Federal bater na sua porta. Não deu. Algemas esperavam o banqueiro no embarque. O desfecho do caso Master se une a outros fantasmas que rondam Brasília. Avisos não faltaram, enquanto o governo Lula patinava na formulação de um projeto de lei antimáfia.

Desde que o PCC e o CV passaram a atuar no tráfico transnacional de drogas seus recursos cresceram exponencialmente. E não é só para a Receita que dinheiro não tem cheiro. Na hora de receber comissões, operadores do mercado agiram da mesma forma: pouco importava a origem do bilhão da contabolsão ou das operações de câmbio para a compra de USDT. Isso fez com que recursos do crime e do terror passassem a circular nos mesmos escaninhos do dinheiro da sonegação e da corrupção. Era questão de tempo para da festa se passar à ressaca.

A presença do crime organizado expôs outro problema: ao desregulamentar setores para incluir novos atores na economia, governos e agências esqueceram da fiscalização e do controle. Abriu-se um mar de oportunidades em fintechs, operadoras de internet, distribuidoras de combustíveis e loterias para o crime lavar dinheiro e para oportunistas, secundados por políticos, passarem a ostentar riquezas e a distribuir benesses.

Desde que voltou ao poder, setores do PT, vacinados pela experiência da Lava Jato, olhavam com desconfiança iniciativas para aumentar os instrumentos de combate ao crime. Interesses corporativistas também ajudam a explicar por que o projeto Antifacção deixou de criar uma agência nacional antimáfia.

Mas os fatos atropelaram Brasília. A Operação Carbono Oculto atingiu a ação do PCC no setor de combustíveis e apreendeu terabytes de informações de gestores de fundos de investimentos, muitos dos quais ligados ao Banco Master. Era mais um sinal de que o cerco se fechava em torno de pessoas com trânsito em duas legendas do Centrão: o PP e o União Brasil.

O medo de uma nova Lava Jato cresceu mais quando surgiram informações de que atingidos na Carbono Oculto negociariam uma delação. Foi nesse contexto que o deputado Derrite apresentou seu substitutivo ao projeto Antifacção. E foi por causa dele que o texto levantou tanta polêmica. A ação da polícia no Alemão quase embaralhou tudo, beneficiada pela demora de Lula em enviar seu projeto ao Congresso. Tudo só reforçou a ideia de que a Segurança será determinante na eleição de 2026.

Tyche dificilmente teria escolhido hora e lugar mais apropriados para mostrar aos espertalhões a inconstância da fortuna e da prosperidade humanas.

 

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