O Globo
O identitarismo inventou o pecado, mas, como
na canção de Chico Buarque, se esqueceu de inventar o perdão
Pelos critérios da 36ª Bienal de arte de São
Paulo, você não leria esta coluna. Haveria um conflito entre os temas abordados
(quaisquer que fossem) e o trágico passado colonial mineiro.
É que um dos meus tetravôs foi o major José
Luís da Silva Vianna. Pelos serviços prestados na Guerra do Paraguai, ele
ganhou de D. Pedro II a patente militar e as terras onde mais tarde mandou
erguer uma capela. No entorno, formou-se uma aldeia de indígenas catequizados,
que deu origem à Vila de São Sebastião de Pedra do Anta, hoje um pacato
município da Zona da Mata mineira.
O major não só participou do etnocídio no Paraguai e em Minas, como se valia de trabalho escravo em suas lavouras de café. Cinco gerações depois, ainda deve respingar sangue no teclado em que digito — motivo suficiente para que este texto não deva ser lido.




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