Folha de S. Paulo
Infiltração de quadrilhas nas instituições
impede diferenciar bandido de mocinho
Deputado preso no Rio mostra o estágio de
simbiose entre Estado e delinquência
Ao eliminar adversários com disparos de fuzil
no meio da rua, não importando a vítima, um ex-delegado-geral da Polícia Civil
ou um empresário delator, o PCC manda
um recado.
O crime —que ao longo dos anos vem estabelecendo uma relação de simbiose com as estruturas de Estado— está no poder. Não só em São Paulo, mas no país inteiro, a infiltração de quadrilhas organizadas nas instituições chegou a ponto de não se saber quem é bandido, quem é mocinho. Um dos espelhos da confusão é a Câmara em Brasília, que, ao promover a vergonhosa PEC da Blindagem, espalha a impunidade para as assembleias estaduais.
Mais blindado do que qualquer deputado está o
Careca do INSS.
A CPMI que investiga o esquema de golpe em aposentadorias e pensões —mais de R$
6 bilhões desviados— não consegue ouvir o lobista, cujos advogados se agarram a
uma decisão do ministro André Mendonça, do STF. Além
disso, a imposição do sigilo de cem anos sobre entrada e saída em gabinetes de
senadores não permite descobrir quantas vezes o Careca foi recebido por eles a
portas fechadas.
No Rio, enquanto todas as atenções estavam
voltadas para o julgamento do ex-presidente e de seus generais palacianos —que,
não por acaso, integravam uma organização criminosa, segundo a definição do
ministro Alexandre
de Moraes—,
uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público prendia o deputado
estadual Thiego dos Santos Silva (MDB), que logo depois perdeu o mandato e foi
expulso do partido. Uma exceção à regra.
A trajetória de Thiego, conhecido como TH
Joias, é exemplar para entender o atual estágio de penetração e estruturação do
crime. Nascido na favela do Fubá, ele herdou do pai o ofício de ourives e
transformou sua joalheria em uma marca de ostentação —Neymar lhe
encomendou um colar feito de ouro e cravejado com mais de 500 pedras de
diamante. Ao mesmo tempo, conectou-se com a cúpula do Comando
Vermelho, outros políticos e agentes públicos, intermediando a
compra e venda de armas e lavando dinheiro de traficantes.
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