terça-feira, 23 de setembro de 2025

Execuções, blindagens, sigilos: um país nas mãos do crime organizado. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Infiltração de quadrilhas nas instituições impede diferenciar bandido de mocinho

Deputado preso no Rio mostra o estágio de simbiose entre Estado e delinquência

Ao eliminar adversários com disparos de fuzil no meio da rua, não importando a vítima, um ex-delegado-geral da Polícia Civil ou um empresário delator, o PCC manda um recado.

O crime —que ao longo dos anos vem estabelecendo uma relação de simbiose com as estruturas de Estado— está no poder. Não só em São Paulo, mas no país inteiro, a infiltração de quadrilhas organizadas nas instituições chegou a ponto de não se saber quem é bandido, quem é mocinho. Um dos espelhos da confusão é a Câmara em Brasília, que, ao promover a vergonhosa PEC da Blindagem, espalha a impunidade para as assembleias estaduais.

Mais blindado do que qualquer deputado está o Careca do INSS. A CPMI que investiga o esquema de golpe em aposentadorias e pensões —mais de R$ 6 bilhões desviados— não consegue ouvir o lobista, cujos advogados se agarram a uma decisão do ministro André Mendonça, do STF. Além disso, a imposição do sigilo de cem anos sobre entrada e saída em gabinetes de senadores não permite descobrir quantas vezes o Careca foi recebido por eles a portas fechadas.

No Rio, enquanto todas as atenções estavam voltadas para o julgamento do ex-presidente e de seus generais palacianos —que, não por acaso, integravam uma organização criminosa, segundo a definição do ministro Alexandre de Moraes—, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público prendia o deputado estadual Thiego dos Santos Silva (MDB), que logo depois perdeu o mandato e foi expulso do partido. Uma exceção à regra.

A trajetória de Thiego, conhecido como TH Joias, é exemplar para entender o atual estágio de penetração e estruturação do crime. Nascido na favela do Fubá, ele herdou do pai o ofício de ourives e transformou sua joalheria em uma marca de ostentação —Neymar lhe encomendou um colar feito de ouro e cravejado com mais de 500 pedras de diamante. Ao mesmo tempo, conectou-se com a cúpula do Comando Vermelho, outros políticos e agentes públicos, intermediando a compra e venda de armas e lavando dinheiro de traficantes.

 

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