quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Divisão na direita beneficia Lula? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eleição em dois turnos reduz riscos de fragmentação de uma das alas ideológicas

Introdução de voto valorativo permitiria superar quadro de polarização cristalizada

Se a direita sair dividida para a disputa presidencial do ano que vem, o maior beneficiário será Lula? Eu subscreveria essa tese, se nosso pleito fosse decidido em turno único. Não sendo esse o caso, discrepo.

Qualquer que seja o nome do candidato da direita que passar para o segundo escrutínio, ele receberá o voto até dos bolsonaristas mais radicais que agora esperneiam e acusam traições generalizadas. É o que acaba de ocorrer no Chile. A direita saiu dividida, a esquerda chegou à frente, mas é o candidato pinochetista que desponta como favorito na disputa final, já que a soma dos votos conservadores supera com folga a dos progressistas.

As excelências estão zangadas, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não há mistério algum nas escaramuças dos presidentes da Câmara e do Senado com líderes petistas

Lula é candidato, enquanto Motta e Alcolumbre são de partidos que estarão em palanque adversário

Os presidentes da Câmara e do Senado trocaram de mal com dois petistas com papel de liderança do Congresso, respectivamente o deputado Lindbergh Farias, líder do PT, e o senador Jaques Wagner, líder do governo. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), também andaria se estranhando com Hugo Motta (Republicanos).

As alegações correntes —indicação de Guilherme Derrite (PP-SP) para relator do projeto antifacção e a escolha de Jorge Messias para o STF— explicam apenas em parte o desassossego. Não seriam motivações suficientes para zangas tão explícitas, pois ambos os atos são prerrogativas de Motta e do presidente Luiz Inácio da Silva (PT).

A dificuldade de ser crítico quando nos querem militante, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Quando tudo vira militância, a independência passa a parecer traição

Democracia exige críticos livres não soldados de causa ou porta-vozes de grupos

"Você virou um perseguidor ferrenho, um crítico feroz de Lula e Dilma, quem diria? Tá difícil te seguir, fico querendo te entender, mas não consigo; parece até que tem alguma coisa por trás."

Caro leitor, confesso: eu falo mal de Lula. Falo mesmo, não nego. Não de Lula, a pessoa física que não conheço, mas de quem tenho informações de fontes seguras de ser pessoalmente adorável. Da figura pública de Lula, chefe deste Estado e do nosso governo, não apenas falo mal quando acho que devo, mas o faço com a convicção de que é isso o que honestamente devo fazer enquanto crítico de política e intelectual público.

Lá se vão mais de 30 anos como professor e pesquisador das áreas de política e democracia e mais de 15 participando da discussão pública sobre política nacional. De FHC para cá, tenho criticado cada governo com igual afinco e atenção. Assim como falei da oposição a eles, das instituições, do jornalismo político e até do ativismo. Falo até, vejam só, de ideias, princípios e valores políticos. Por que razão deveria abrir uma exceção e tratar Lula como se vestíssemos a camisa do mesmo time disputando um decisivo campeonato político e moral?

Opinião do dia – Karl Marx* (Eleições)

“Não se considera a eleição filosoficamente, quer dizer, em sua essência peculiar, quando ela é compreendida imediatamente em relação ao poder soberano ou ao poder governamental. A eleição é a relação real da sociedade civil real com a sociedade civil do poder legislativo, com o elemento representativo. Ou seja, a eleição é a relação imediata, direta, não meramente representativa, mas real, da sociedade civil com o Estado político.

É evidente, por isso, que a eleição constitui o interesse político fundamental da sociedade civil real. É somente na eleição ilimitada, tanto ativa quanto passiva, que a sociedade civil se eleva realmente à abstração de si mesma, à existência política como sua verdadeira existência universal, essencial. Mas o acabamento dessa abstração é imediatamente a superação da abstração.

Quando a sociedade civil pôs sua existência política realmente como sua verdadeira  existência, pôs concomitantemente como inessencial sua existência social, em sua diferença com a sua existência política, e com uma das partes separadas cai a outra, o seu contrário. A reforma eleitoral é, portanto, no interior do Estado político abstrato, a exigência de sua dissolução, mas igualmente da dissolução da sociedade civil.

Encontraremos, mais tarde, a questão da reforma eleitoral sob uma outra forma, isto é, o aspecto dos interesses. Do mesmo modo, discutiremos os outros conflitos, que derivam da dupla determinação do poder legislativo (de ser, de um lado, deputado, mandatário da sociedade civil e, do outro, simplesmente sua existência política, e uma peculiar existência dentro do formalismo político do Estado). “

*Karl Marx (1818-1883), ‘Critica da filosofia do direito de Hegel’, p.135. Boitempo Editorial, São Paulo, 2005.

Poesia | Monotonia, de Fernando Pessoa

 

Música | Celso Viáfora e Ivan Lins - Boa nova