quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso deveria manter vetos a PL do Licenciamento

Por O Globo

Às vésperas da COP30, país não pode dar ao mundo recado de desprezo pelo meio ambiente

O Congresso deverá analisar nesta quinta-feira os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Projeto de Lei (PL) que muda as regras do licenciamento ambiental. Depois de derrubar a Medida Provisória alternativa à elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a oposição se mobiliza para anular os vetos, embora não seja tarefa simples, uma vez que exige o voto de 257 deputados e 41 senadores. A articulação claudicante do governo no Parlamento, agravada pelas rusgas com partidos da base aliada, tem emitido sinais de dúvida ao Planalto.

A despeito das dificuldades com o Executivo, os parlamentares deveriam manter os vetos. Da forma açodada como foi aprovado em julho, sob pressão da bancada ruralista, o PL do Licenciamento, apelidado por ambientalistas “PL da Devastação”, contribuía para ampliar a degradação ambiental, ao reduzir exigências para análise de projetos com impacto relevante. Sob pretexto de modernizar a legislação, promovia um retrocesso.

Lula vetou 63 dos cerca de 400 pontos do PL. Eram os mais nocivos, que não poderiam mesmo prosperar. Entre os mais descabidos, estava a Licença por Adesão e Compromisso (LAC), por meio da qual donos de empreendimentos com pequeno e médio potencial poluidor precisariam apenas prometer seguir a lei para levar projetos adiante. Não era exigido estudo de impacto ambiental, e a fiscalização seria feita apenas por amostragem. A licença autodeclaratória põe em situação crítica biomas já ameaçados. O veto de Lula levou em conta jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema. Ele também vetou a autorização para que cada estado tivesse regras próprias de licenciamento (incentivo à insegurança jurídica) e a extinção do regime de proteção especial da Lei da Mata Atlântica (de que restam apenas 24%).

Em paralelo, o governo enviou ao Congresso Medida Provisória para acelerar o licenciamento de obras consideradas estratégicas. A proposta, sugerida pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), prevê uma Licença Ambiental Especial (LAE) para esses empreendimentos. A MP, que tramita em comissão mista presidida pela senadora Tereza Cristina (PP-MS), busca conciliar a agilidade no licenciamento com as normas de proteção ao meio ambiente. Deveria ser aprovada sem demora.

Seria um vexame para o país se, às vésperas da Conferência do Clima (COP30), em Belém (PA), o Congresso ressuscitasse um texto tóxico que fragiliza a proteção ao meio ambiente. Derrubar os vetos é tudo de que o Brasil não precisa neste momento. Transmitiria um péssimo recado ao mundo. E de pouco adiantaria deixar a votação para depois da cúpula, como alguns cogitaram. O efeito seria o mesmo.

Ao analisarem os vetos de Lula, os congressistas deveriam deixar de lado as desavenças políticas. Não é disso que se trata. É importante que a legislação ambiental seja atualizada, para evitar o excesso de burocracia e a morosidade que emperram projetos estratégicos. Mas isso não significa abrir a porteira para todo tipo de “boiada” desmantelando as proteções ambientais. Os parlamentes precisam manter os vetos, agindo com responsabilidade. É essencial que o país cresça, mas conservando a natureza.

Novo PNE acerta ao aumentar pressão para melhorar o ensino

Por O Globo

Planos de ação bienais e novo indicador além do Ideb permitirão cobrar metas mais ambiciosas

O relatório do novo Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso, propõe aumentar a pressão sobre o sistema educacional para que apresente melhores resultados. O substitutivo da proposta original do MEC, sob apreciação da Comissão Especial presidida pela deputada Tabata Amaral (PSB-SP), estabelece que as secretarias estaduais e municipais de Educação precisarão elaborar planos de ação a cada dois anos e estipula critérios mais adequados para avaliação da qualidade do ensino, hoje medida exclusivamente pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado de acordo com o desempenho dos alunos em testes padronizados.

O monitoramento mais próximo das políticas educacionais tem por objetivo levar os governos a atingir as metas de melhoria da qualidade do ensino. Dependerá do rendimento da rede escolar, acompanhado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o acesso a um fundo constituído por royalties do petróleo. “As redes precisam estar em dia com seus planos de ação e, de fato, mostrar desempenho positivo em relação a si mesmas”, diz Tabata.

Quanto à avaliação do ensino, o Ideb continuará a ser calculado. Mas outro indicador também sujeito a meta terá maior protagonismo: a proporção de alunos com aprendizado adequado. Não se trata de manobra para escamotear os maus resultados que o país tem apresentado no Ideb, mas de ampliação do monitoramento. Há tempos o Ideb é criticado por suas limitações, em especial o “fetiche do ranking”, na descrição feliz da educadora Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do Inep e ex-secretária executiva do MEC quando se criou a base técnica do Ideb. Ele induz governadores e prefeitos a buscar a qualquer custo subir na lista de classificação das redes públicas, sem se preocupar com o mais importante: alunos bem formados e instruídos.

O novo PNE acerta ao estabelecer metas mais ambiciosas para que o país saia da atual situação, em que a melhora no ciclo fundamental não tem se refletido no ensino médio. A meta para alfabetização infantil passará a ser o final do segundo ano do ensino fundamental, e não mais o terceiro. No ensino superior, a meta exige 40% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados na graduação, ante o objetivo anterior de 33% (no ano passado, chegou-se a 27%).

Em nota técnica, o movimento Todos Pela Educação vê avanços em relação à proposta original, entre eles os planos de ação a cada dois anos. Mas sugere que se estabeleçam também metas mais realistas, como zerar, em dez anos, o percentual de alunos abaixo do nível básico de aprendizado. Seja qual for o caminho, não se poderá esquecer o aprimoramento dos professores, com políticas específicas e incentivos à qualificação. Trata-se de condição essencial para o êxito de qualquer política educacional.

Correios são saco sem fundo no governo Lula

Por Folha de S. Paulo

Planalto articula socorro à estatal após prejuízos na gestão petista; contribuinte pagará a conta

Trata-se de estrutura obsoleta que há muito perdeu condições de competir com setor privado que investe pesado em tecnologia e logística

Desde o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o conjunto das estatais federais consideradas no resultado das contas públicas —o que exclui a Petrobras e os bancos oficiais— tem sido constantemente deficitário, mesmo sem contar gastos com juros. Em 2024, o rombo chegou a R$ 6,7 bilhões, o maior já medido em termos nominais.

A administração petista tenta dourar a pílula com o argumento de que déficit fiscal não significa necessariamente prejuízo, e muitas das empresas estão apenas fazendo investimentos com recursos que já tinham em caixa. Se a diferença contábil parece complicada, os Correios tornam desnecessário compreendê-la: eles acumulam tanto déficits como prejuízos bilionários.

Esse descalabro financeiro vai enfraquecendo outra tese governista —a de que os balanços de estatais no vermelho não implicam riscos para as finanças do Tesouro Nacional, ou seja, para o dinheiro do contribuinte.

Conforme a Folha revelou, o Planalto articula com Banco do BrasilCaixa Econômica Federal e bancos privados um empréstimo de R$ 20 bilhões para socorrer os Correios. A fim de encorajar as instituições a participar da empreitada inglória, o Tesouro deverá ser o fiador da operação.

Nesta quarta-feira (15), o presidente da empresa, Emmanoel Rondon, confirmou o reforço no caixa e anunciou, sem detalhes, um plano de recuperação que incluirá demissões voluntárias, com previsão de volta dos lucros em 2027. Acredite quem quiser.

Funcionário de carreira do BB, Rondon está no cargo há somente um mês. Substitui Fabiano Silva dos Santos, advogado ligado a Lula que pediu demissão em julho. A demora na troca alimentou ambições de partidos que já contam com apaniguados na folha de pagamentos.

Tal mixórdia de loteamento político, rombos na contabilidade e socorro oficial resultam da decisão petista, movida a ideologia e corporativismo, de retirar a companhia do programa de privatização —ao lado de outros entulhos estatais como a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Os prejuízos dos Correios se multiplicaram vertiginosamente, de pouco mais de R$ 600 milhões em 2023 para R$ 2,6 bilhões em 2024 e R$ 4,4 bilhões apenas no primeiro semestre deste ano.

Tanto as receitas estão em queda como as despesas estão em alta, incluindo as com pessoal. São 80,3 mil funcionários contados em junho, número só inferior, entre as empresas federais, aos de BB (88,6 mil) e Caixa (83,3 mil).

Não se está diante de um problema conjuntural, mas de uma estrutura obsoleta que há muito perdeu as condições de competir com gigantes do setor privado que investem pesadamente em tecnologia e logística.

É nesse saco sem fundo que se pretende despejar mais dinheiro, com a certeza de que ao final a conta, como sempre acontece nessas situações, será paga pelo contribuinte brasileiro.

Japão à direita

Por Folha de S. Paulo

Sanae Takaichi assume liderança do partido governista, mas enfrenta desafio para ser primeira-ministra

Sua postura nacionalista radical gera preocupação; Takaichi quer rever o veto à remilitarização e relativiza os crimes de guerra do Japão

A onda de direita radical que varre democracias avançadas mundo afora ainda não atingiu de fato o Japão, mas já provoca mudanças importantes no cenário político local.

Durante 70 anos, o conservador Partido Liberal Democrata (PLD) foi a força dominante. Desde sua fundação, em 1955, esteve no poder continuamente —exceto por dois intervalos, entre 1993 e 1996 e de 2009 a 2012.

Em 2024, abalroado por escândalo de financiamento de campanhas e tendo de lidar com um eleitor cada vez mais desconfiado das siglas tradicionais, o PLD e seu parceiro de coalizão, o partido centrista Komeito, perderam maioria na Câmara Baixa e, em 2025, na Câmara Alta. Shigeru Ishiba, que era o premiê do país e líder do PLD, renunciou em setembro, após 11 meses no cargo.

Os vencedores das eleições gerais de 2024 incluem o Partido Constitucional Democrático do Japão —uma agremiação liberal de centro-esquerda, fundada em 2017, que se tornou em curtíssimo espaço de tempo a segunda maior força do Legislativo— e duas pequenas legendas de direita radicalizada, o Sanseito e o Partido Conservador do Japão.

A resposta do PLD à crise foi o recrudescimento ideológico. A eleita para substituir Ishiba na liderança do partido foi Sanae Takaichi, que diz inspirar-se em Margaret Thatcher e tem posições bem mais conservadoras do que a de seus antecessores.

Em economia, pode ser considerada convencional, defendendo a continuação da Abenomics, a política de juros baixos, estímulos fiscais e reformas estruturais inaugurada pelo ex-premiê Shinzo Abe (2012-2020).

Na seara do comportamento, contudo, é linha-dura, opondo-se ao casamento gay, a esposas manterem o sobrenome de solteira e à possibilidade de uma imperatriz assumir o trono.

Mas é sua postura nacionalista extremada em política externa que causa mais preocupação.
Takaichi defende rever a legislação que veda a remilitarização do país, diz que há muito exagero em relação aos crimes de guerra cometidos pelo Japão e é frequentadora do cemitério de Yasukuni, onde estão enterrados, com honras, 1.066 criminosos de guerra —sempre que uma autoridade do país visita Yasukuni, há grande estremecimento nas relações com China e Coreia do Sul.

A liderança do PLD já garantiria o posto de primeira-ministra. Mas o Komeito não aprovou a escolha e saiu da coalização, complicando o quadro. Takaichi ainda pode vir a ser a primeira mulher a governar o Japão, mas enfrentará disputas pelo cargo.

Despesas do governo são as maiores desde 2016

Por Valor Econômico

As despesas do governo geral, que incluem os gastos de governos estaduais e municipais, chegará a 48% do PIB este ano

O endividamento público do Brasil continua superando com folga o da média dos países emergentes em todas as métricas, e a dívida bruta atingiu este ano 91,4% do PIB, ante 73,9% das nações que integram o G20. As dívidas dos países emergentes avançaram muito, especialmente após a pandemia, e mesmo assim a do Brasil vai superá-las e crescerá no próximo ano, segundo dados divulgados ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2026, deverá ser de 95% do PIB, e só recuará em 2030, quando deverá atingir 98,1% do PIB. Pelos cálculos do Fundo, débitos brutos ao fim do governo Lula serão 13 pontos percentuais do PIB maior do que quando Jair Bolsonaro encerrou seu mandato. A metodologia de cálculo do FMI difere da usada no Brasil, mas a diferença é praticamente a mesma que os analistas projetam com base nos indicadores domésticos.

A expansão da dívida é ainda mais relevante quando se considera que o PIB avançou acima de 3% nos últimos três anos, reduzindo o denominador da equação. Os números da receita não indicam queda em relação a 2022 — 39,5% do PIB —, porém o avanço das despesas do governo geral, que incluem os gastos de governos estaduais e municipais, em 2025 bateu o recorde desde 2016 e chegará a 48% do PIB em 2025, o que ultrapassa até mesmo os gastos elevados durante a pandemia (46,2%). Há um avanço de 4 pontos percentuais do PIB em relação ao total das despesas do governo geral quando o presidente Lula assumiu a Presidência.

Os déficits primários elevados contribuíram para a alta da inflação, que, por sua vez, levou o Banco Central a um forte aperto monetário, com a taxa de juros mais alta desde 2006. O peso dos juros, com o endividamento crescente do país, é esmagador. O déficit nominal, que os inclui, será de 8,4% do PIB em 2025 e 8,5% no ano que vem, bem superior ao resultado negativo de 5% do PIB dos países da América Latina e maior que a média do G20, de 6,9% do PIB.

Esses resultados ruins foram obtidos durante a vigência do novo regime fiscal, que, em tese, buscava primeiro controlar, e depois estabilizar, a trajetória do endividamento, e foi incapaz disso. O desenho original do novo regime, embora imperfeito, poderia conseguir performance melhor caso não tivesse sido flexibilizado antes mesmo do primeiro ano de vigência, com o afrouxamento da meta fiscal. O esforço para estabilizar o endividamento, que pressupõe a persecução de superávits primários, não seria enorme. Segundo o Fundo, o balanço primário ajustado do governo geral, que leva em consideração o ciclo econômico e exclui despesas e receitas não recorrentes, é de déficit de 1%. Um ajuste de 1,5 ponto percentual do PIB, realizado em meio a uma economia em crescimento, não só melhoraria razoavelmente a rota da dívida como contribuiria muito para reduzir o juro real, hoje próximo de 10%.

De acordo com o FMI, em um de seus relatórios, nos últimos anos muitos países emergentes contaram com uma feliz combinação de condições externas favoráveis e com o apoio de mercados de dívida concentrados em moeda local. Essas melhores estruturas ajudaram a aumentar a confiança entre os investidores e a diminuir o impacto de variações cambiais abruptas sobre o endividamento com porcentagem significativa de dívida em moeda estrangeira. No Brasil, perto de 10% dos títulos da dívida estão em mãos de investidores fora do país. O nível forte de reservas internacionais, de US$ 350 bilhões, foi um fator determinante para afastar a possibilidade de crise da dívida externa, comum até o fim da década de 1990.

Os economistas do Fundo alertam que os riscos permanecem, uma vez que as condições externas podem se deteriorar rapidamente. Eles apontam que recentes choques globais corroeram o espaço fiscal de muitos emergentes, enquanto a pressão de preços pós-pandemia elevou as expectativas de inflação. A dívida pública em países emergentes aumentou rapidamente desde 2010, atingindo cerca de US$ 30 trilhões (quase US$ 12 trilhões excluindo a China). Isso deixa muitas economias mais vulneráveis a choques futuros.

No atual cenário de dívida pública elevada e crescimento econômico contido, os emergentes enfrentam escolhas difíceis. Eles precisam gerar maior valor para o dinheiro público e realocar os gastos para áreas que sustentem o crescimento de longo prazo. No “Monitor Fiscal”, o FMI destaca os significativos retornos potenciais de reformas no lado dos gastos públicos que não apenas melhoram os padrões de vida, mas também ajudam a estabilizar a dívida pública em relação à renda, permitindo que a consolidação fiscal prossiga de forma mais gradual.

Reformas institucionais, aponta o FMI, são fundamentais para a eficiência dos gastos. O combate à corrupção por meio de mecanismos robustos e agências anticorrupção eficazes reduz o desperdício. Transparência e responsabilização — por meio de clareza orçamentária, divulgação de contratos e auditorias independentes — são essenciais para garantir que os recursos públicos sejam utilizados de forma eficaz. No Brasil, as emendas parlamentares vão na contramão dessas recomendações.

 A bancarrota dos Correios

Por O Estado de S. Paulo

A estatal precisa de empréstimo de R$ 20 bilhões para sobreviver, mas resultados ruins só serão revertidos com um radical corte de despesas, tipo de política de que o PT não pode nem ouvir falar

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está liderando negociações para viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões para impedir a bancarrota dos Correios. Sem esses recursos, a empresa não terá condições de arcar com seus gastos neste ano e no ano que vem. A operação terá garantia da União, condição necessária para que os bancos privados aceitassem dividir com o Banco do Brasil e a Caixa o risco de financiar uma empresa que está praticamente quebrada.

Não se trata de exagero retórico. Os Correios tiveram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre deste ano, quase cinco vezes maior que no mesmo período de 2024. A empresa acumula rombos desde 2022, mas a derrocada se agravou no ano passado, quando o prejuízo atingiu R$ 2,59 bilhões, e no primeiro semestre deste ano, quando alcançou R$ 4,37 bilhões.

Funcionário de carreira do Banco do Brasil, o novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, disse que o empréstimo dará condições para a empresa se reequilibrar e iniciar o ano de 2027 no azul. Tanto otimismo talvez se explique pelo fato de o executivo estar há pouco mais de 20 dias no cargo. Que o diga seu antecessor, o advogado Fabiano Silva dos Santos.

Em janeiro, ao lado da ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck, Fabiano minimizou os problemas e assegurou que a empresa estava “em processo de franca recuperação”. A empresa, segundo ambos, foi sucateada pelo governo Jair Bolsonaro, mas havia retomado os investimentos para ampliar sua atuação e finalmente se tornar lucrativa. O caixa foi torrado, o plano não funcionou e o executivo caiu em julho, após admitir que os Correios precisariam de um socorro para se manter.

É conveniente atribuir os resultados ruins dos Correios à perda da exclusividade sobre a importação de remessas do exterior e à “taxação das blusinhas”, mas o problema é bem maior do que o governo está disposto a admitir. Tanto o avanço da concorrência quanto a queda nas importações de produtos chineses de pequeno valor eram previsíveis, e o correto teria sido ajustar as despesas para enfrentar esse cenário de redução de receitas.

Enquanto as receitas minguavam, seus gastos avançavam. Em 2024, os Correios se comprometeram a transferir R$ 7,6 bilhões para cobrir metade do rombo do fundo de pensão de seus funcionários, o Postalis. Boa parte disso se deve aos péssimos investimentos realizados pelo fundo entre 2011 e 2016, durante o governo de Dilma Rousseff.

Os Correios têm um custo fixo elevado, estimado entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões anuais. Com uma estrutura de mais de 80 mil empregados, dezenas de imóveis ociosos e com alto custo de manutenção e a obrigação constitucional de atender a todo o território nacional, a despeito do desinteresse crescente pelos serviços postais, a estatal tem perdido espaço para empresas privadas que atuam no ramo de encomendas. Ainda assim, no fim do ano passado, os Correios acharam que era um bom momento para realizar um concurso público para contratar mais funcionários.

O empréstimo de R$ 20 bilhões será usado para honrar dívidas com fornecedores, quitar um financiamento de R$ 1,8 bilhão contratado no primeiro semestre deste ano e que vence no ano que vem e financiar medidas de ajuste, entre elas um Programa de Demissões Voluntárias (PDV) e mudanças no plano de saúde. Até agora, não foram divulgadas metas de redução de despesas nem uma estimativa de obtenção de novas receitas.

São muitos os problemas dos Correios, e eles não serão enfrentados se o governo Lula não reconhecer que o desequilíbrio da empresa é grave. É até irônico, portanto, que Rondon tenha descartado a privatização nos planos do governo para a estatal – como se houvesse alguma companhia com interesse em comprá-la na situação em que ela está.

A paciência dos bancos tem limite. Um calote, se houver, recairá sobre o Tesouro Nacional e, em última instância, sobre os contribuintes. Resultados tão ruins só serão revertidos se houver um radical corte de despesas, o tipo de política de que administrações petistas não podem nem ouvir falar.

A inútil retaliação governista

Por O Estado de S. Paulo

Após sofrer nova derrota no Congresso, governo demite indicados por partidos da base – uma reação inevitável, porém tardia e que não resolve o real problema: a má gestão da coalizão governista

Com a amargura de quem sofreu nova desonra política em votação de alta relevância no Congresso, os articuladores políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciaram a única retaliação que aparentemente lhes restava: exoneraram cerca de 380 indicados de partidos de centro que ocupavam cargos comissionados em ministérios e autarquias. Na lista de demitidos há uma centena de nomes filiados ao União Brasil e ao MDB, e dezenas de indicados por PSD, PP e Republicanos, legendas que, embora oficialmente integrem a base governista, frequentemente votam contra pautas de interesse do Palácio do Planalto – uma contradição levada ao paroxismo na recente votação da Medida Provisória 1.303, a MP dos impostos. É um movimento para “reorganizar a base”, disse a ministra Gleisi Hoffmann. “Quem está sendo leal ao governo tem que ser valorizado e quem não está não tem por que ficar”, justificou.

É hora de deixar de lado os eufemismos palacianos. Descontada a explicitação do tradicional “toma lá, dá cá” sobre o qual se assentam as práticas rotineiras em Brasília – cargos e verbas em troca de votos –, o episódio ampliou ainda mais a já extensa lista de reveses do governo na conturbada relação com o Congresso e sua base. As sucessivas goleadas sofridas revelam verdades inconvenientes que Lula e seu entorno tentam esconder. A principal delas é que não existem vítimas nem algozes nesse enredo: tem-se uma base de apoio ao governo no Congresso que já há algum tempo se apresenta como peça de ficção, um governo que opera sem instrumentos de navegação política, um presidente incapaz de manejar sua coalizão com eficiência e uma maioria legislativa que, dotada de superpoderes no controle do Orçamento da União, passou a ignorar com cada vez mais atrevimento as diretrizes do Executivo.

A retaliação, no fundo, só espelha o próprio fracasso do governo. Atônito por não saber lidar com a nova realidade, tende a explicar a própria inépcia com a infidelidade da base e os interesses do Centrão. Como se sabe, partidos como União Brasil e PP, divididos entre o desejo de manter nacos de poder e a perspectiva eleitoral do ano que vem, quando devem sair abraçados a candidatos de oposição, tentaram instituir algo impensável até mesmo para os padrões elásticos de coerência ideológica e partidária do País: o governismo de oposição. E assim, enquanto ocupam oficialmente a base governista e usufruem dos cargos e verbas de ministérios e estatais, difundem críticas públicas ferozes ao governo que supostamente representam e trabalham por candidaturas oposicionistas.

Mas isso não desfaz o diagnóstico de que o problema é menos de disfuncionalidade entre os dois Poderes e muito mais a má gestão da coalizão. O maior controle orçamentário pelo Legislativo inflacionou o custo político, mas o fato é que não o inviabilizou. O maior prejuízo governista decorre, isso sim, das escolhas do governo. Afinal, o PT, sempre fiel a si mesmo, optou por uma coalizão ampla, com 16 partidos e forte heterogeneidade ideológica, mas não aprendeu a dividir o poder. Controla 15 entre 38 ministérios, enquanto seus principais parceiros – PSD, MDB e União Brasil, cuja cúpula acaba de desistir oficialmente de ser governo – dominam apenas três pastas cada. Completa o ciclo a promessa de uma “frente ampla” jamais cumprida, um mandato mais petista do que nunca e a vocação para a esperteza em matéria fiscal e tributária, o que deu a deixa para que parte do Congresso, formado em grande medida por cupins do Orçamento público, apresente-se como vestal do gasto público.

O resultado foi mapeado por recente reportagem do Estadão: o terceiro mandato de Lula exibe o pior aproveitamento no Congresso desde 1988, tendo transformado em lei apenas 62 das 239 propostas enviadas ao Legislativo. É uma taxa de sucesso de 25%, modesta ante os antecessores, incluindo até mesmo Dilma Rousseff, reconhecida pela incompetência no trato com parlamentares. Enquanto isso, Lula – aquele até pouco tempo visto como encantador de serpentes – assiste inerte. E assim só lhe resta a retaliação, gesto inevitável porém tardio e de pouco efeito prático para o que mais importa ao governo.

Apagão de vergonha

Por O Estado de S. Paulo

Em vez de assumir responsabilidade, ministro minimiza apagão e usa o caso para campanha eleitoral

Horas após o incêndio no reator de uma subestação do Paraná deixar todas as regiões do País sem energia na madrugada do dia 14 passado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, agiu como legítimo representante de um governo petista: minimizou o problema e usou o caso para fazer campanha eleitoral, ao comparar com apagões nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Jair Bolsonaro.

O incêndio ocorreu à 0h32 e, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o fornecimento de energia só foi integralmente restabelecido no País por volta das 3h. O tempo de interrupção variou por região, mas, se tivesse ocorrido em horário de pico, os prejuízos seriam mais drásticos. Não foram, e a isso Silveira aferrou-se para declarar, no programa de rádio Bom Dia, Ministro, da rede oficial EBC, que “o dano foi pontual”, contido pela “robustez do sistema”.

Não é bem assim. É claro que mecanismos de segurança foram acionados para cortar o fornecimento de eletricidade e evitar estragos maiores, da mesma forma como um disjuntor desarma a corrente elétrica de uma residência em caso de sobrecarga e evita curtos-circuitos. Mas foi uma questão de sorte o acidente ter ocorrido em horário conhecido como “fora de ponta”, quando a maioria das pessoas está dormindo ou em atividades de baixo consumo de energia.

Ademais, o que se espera da confiabilidade de um sistema nacional interligado, como o brasileiro, é que as consequências de um evento regional fiquem isoladas àquela região. Muitos especialistas se disseram surpresos com o fato de que um problema em apenas um reator desligou a usina inteira e seguiu em efeito cascata com o desligamento total de linhas que conectam usinas do Sul ao Sudeste, espalhando danos pelo Centro-Oeste, Norte e Nordeste. E não foi a primeira vez. Em 2023, primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma falha em parques eólicos e solares do Ceará deixou quase todo o País às escuras.

Mas o ministro Alexandre Silveira preferiu sair à petista: ao invés de encarar o ocorrido com transparência, assumindo responsabilidades e procurando firmar garantias de que episódios como esse não irão mais acontecer, escolheu lembrar de apagões ocorridos em governos aos quais o PT fazia oposição. “Quando se fala em apagão, a gente se sempre lembra dos tristes episódios de 2001 e 2021, que na verdade aconteceram por falta de energia e de planejamento. Hoje não. Hoje nós temos muita energia”, disse.

E foi além, argumentando que a população precisa entender que hoje não há falta de energia, mas problemas na infraestrutura que transmite a energia. Ora, falhas em transmissão ou distribuição, manutenção deficiente ou produção insuficiente levam ao mesmo problema: cortes no fornecimento de energia que, pela extensão, podem se traduzir em apagão. E tudo, ao fim e ao cabo, é uma questão de gestão, seja qual for o partido no poder.

Abordagem policial deve respeitar os direitos humanos

Por Correio Braziliense

No próximo dia 29, os brasilienses ganharão um canal para denunciar ao Ministério Público eventuas vioências policiais

No próximo dia 29, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)  lançará um canal exclusivo para receber denúncias de violência policial. De acordo com a nota divulgada pelo Ministério Público do DF, tortura, lesão corporal, importunação sexual, abuso de autoridade, invasão de domicílio, injúrias real e racial, racismo religioso, injúria homofóbica, furto, concussão e constrangimento ilegal estarão no foco do novo canal, cujo objetivo é conter as agressões policiais.

Em Minas Gerais, os dados indicam queda na criminalidade. Mas apontam que o comportamento dos agentes de segurança nas abordagens de suspeitos é  agressivo. Os cidadão reclamam a necessidade de uma reeducação dos policiais, para que a violência desproporcional não seja uma marca das corporações responsáveis pela segurança pública.

A iniciativa do MPDFT objetiva conter a violência nas abordagens dos policiais a grupos e pessoas suspeitos ou autores de alguma infração penal. Na maioria das vezes, durante uma operação, os policiais exacerbam as funções do cargo  e ignoram que estão lidando com seres humanos, sejam eles criminosos ou não. Possíveis ações intimidatórias das forças de segurança pública, medo de represália e  descrença no sistema explicam o fato de 90% das pessoas atendidas pela Defensoria Pública do DF terem desistido de levar adiante as investigações sobre o comportamento dos policiais.

O infrator, por mais grave que seja o crime cometido, tem direitos que não podem ser ignorados. Tanto no DF quanto em outras unidades da Federação, a regra não é cumprida como deveria. Se fosse diferente, cidadãos sentiriam-se seguros para apontar falhas no atendimento dos agentes de segurança, o que ajudaria o poder público a elevar a qualidade do serviço prestado à comunidade.

Segundo o Anuário da Segurança Pública 2025, os dados do ano passado, revelam que na última década (2014-2024), 60.394 pessoas foram vítimas da violência policial no país, em legítima defesa ou em embates com grupos criminosos.  No ano passado, 6.243 foram mortos por uso desproporcional da força policial no país. Apesar do motivo causar revolta tanto aos familiares das vítimas quanto aos cidadãos de modo geral, há de se considerar o estado de saúde mental dos policiais, algumas vezes, extremamente desequilibrado. 

Para os especialistas, trata-se de questão que precisa estar entre as prioridades dos gestores das políticas de segurança pública. A instabilidade emocional é um dos fatores que afetam o comportamento das pessoas, principalmente quando o seu trabalho implica riscos à vida.  Em 2024, ocorreu um aumento de 14% nas mortes de agentes de segurança, por motivos intencionais (169) e por suicídios (126). Se descontrole pode ser um dos motivos do abuso de autoridade, ele precisa ser contido para evitar que os direitos humanos dos cidadãos, em quaisquer situações, sejam desprezados e consolide o descrédito da sociedade nos serviços de responsabilidade exclusiva  do Estado.  

Inegável a importância de um canal para reclamações dos cidadãos que se sentiram ofendidos nas abordagens policiais. Mas, igualmente, é essencial que a saúde emocional dos agentes receba cuidado para que a relação com os cidadãos seja respeitosa, como determinam às regras estabelecidas pelos órgãos de segurança pública e a legislação vigente.

O desafio da indicação ao Supremo Tribunal Federal

Por O Povo (CE)

A Suprema Corte tem apenas uma mulher entre os ministros e permanece sem nenhum integrante negro na atual composição. Falta, portanto, ao STF a diversidade da sociedade brasileira

Informações dão conta de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou contrariedade pelo fato de o ministro Luís Roberto Barroso ter pedido aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF), neste momento. Segundo consta, Lula queria um pouco mais de tempo para pensar sobre o assunto.

De fato, cabe ao presidente analisar com bastante cuidado a indicação a fazer, quando se discute a "judicialização da política", com suposta interferência indevida do STF no Legislativo, e quais seriam os limites de atuação da Suprema Corte.

Na terça-feira, o presidente recebeu quatro ministros, entre os quais não estava Barroso, para uma reunião no Palácio da Alvorada. No entanto, não deu pistas de qual nome estaria cogitando para a vaga, segundo a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S.Paulo. No entanto, o suposto preferido de Lula é Jorge Messias, advogado-geral da União.

Estiveram no encontro os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino. De acordo com a colunista, o preferido dos ministros para ocupar a vaga de Barroso é o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teria também apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (UB-AP). Para os magistrados, um "nome fraco" debilitaria a Corte, em um momento em que o STF está sofrendo ataques, inclusive do exterior.

O Supremo vive hoje sob holofotes, diante do protagonismo adquirido nos últimos anos. Por isso, é necessário um cuidado extra para indicar um nome que esteja acima de injunções políticas, predileções pessoais ou exigência de lealdade.

Não se nega ao presidente uma escolha de acordo com a sua visão de mundo, no sentido abrangente do termo. Mas que ele pense em um nome de notável saber jurídico, que atue com independência e equilíbrio, tendo como guia inseparável a Constituição e a democracia. Nomeado um jurista que esteja acima de questionamentos, Lula daria uma inestimável contribuição para que se conclua, acima das paixões, uma das fases mais desafiadoras da história do STF.

Assim, tanto o nome de Pacheco quanto o de Jorge Messias são inadequados nessa conjuntura, não porque lhes faltem as qualidades acima citadas. Porém, será inevitável que Pacheco seja visto como uma escolha com o fito de promover acomodações políticas; e Messias, por sua vez, somente pela sua proximidade com o presidente Lula.

Além disso, é preciso lembrar que a Suprema Corte com apenas uma mulher entre os ministros, e permanece sem nenhum integrante negro na atual composição. Falta, portanto, ao STF a diversidade da sociedade brasileira.

Espera-se que o presidente leve em consideração todas as variáveis para indicar o nome a substituir Barroso, que terá de ser submetido ao Senado, onde a oposição se prepara para dificultar a vida de Lula, principalmente se o indicado for Jorge Messias.

 

 

 

 


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