Folha de S. Paulo
Haddad volta a falar do tarifa zero e mercado
tem reação estereotipada a risco fiscal
Lula 3 se anima com recuperação do tumulto
político e pode tomar medidas contraproducentes
Nos mercados financeiros americanos, esta terça
não foi mais um dia de exuberância, como tem sido o caso desde fins
de 2023, ainda mais desde junho de 2025. Há conversa sobre bolha das empresas
da inteligência artificial, IA, conversa fiada ou não, mas cada vez mais
frequente.
Um dia vermelhinho nos indicadores
financeiros dessa animação monstruosa contribuiu para azedar os mercados do
Brasil. Umas gotas extras de vinagre vieram do tempero doméstico, porém.
O governo corre o grande risco de causar conturbação contraproducente (tiro no pé ou na testa) se confirmar ainda que apenas em parte suspeitas de que prepara "medidas" para estimular a economia. A recuperação da crise que estava feia até junho parece ter animado o pessoal do Planalto.
Como diz o povo, "o fracasso subiu à
cabeça" de Lula 3
(ou pode subir). Para piorar, o final de ano costuma ser mais tenso nos
mercados. Em geral, mais dinheiro costuma sair do país em dezembro, por
exemplo.
Desde a virada de setembro para outubro,
donos do dinheiro grosso estão mais propensos a reagir mal a qualquer notícia,
versão de notícia ou rumor sobre: 1) gastos extras de Lula 3; 2) a ideias do
governo de dar mais estímulos à economia (fiscais, parafiscais ou de crédito);
3) a indícios de que Lula 4 vá ficando mais provável, sem sinal de que o
programa de um novo governo considere reviravolta nas contas públicas.
Nesta terça, houve novo receio de que o plano
"ônibus para
todos", o tarifa zero, seja para valer e para logo (subsídios públicos,
federais inclusive, para as passagens); sobre o risco de o Congresso não
aprovar as medidas de arrecadação que compensam perdas com o plano em parte
frustrado de aumento do IOF. Teve até conversa
sobre as mudanças no financiamento imobiliário, que poderia aumentar
o crédito.
O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, disse em entrevista que o governo estuda a possibilidade
de diminuição de
tarifas, dentro de um plano geral para tratar do transporte
público. O projeto, se vier, constaria do programa de campanha de
Lula 2026.
O assunto do transporte público rola por aí
como rumor ou notícia oficiosa pelo menos desde meados de setembro, quando não
comovia ninguém. Na semana passada, virou assunto da praça do mercado. Tanto
que serviu de explicação para as altas das taxas de juros futuros
de prazo mais longo no atacadão de mercado de dinheiro. No fundo, é uma
caricatura ou indicador do receio de que o governo, que se sente rejuvenescido,
venha pisar no acelerador da economia.
Nesta terça, não importa o exagero do receio,
o "tarifa zero" se tornou outra vez motivo do azedume financeiro ao
menos nas explicações do que aconteceu na praça: "preocupações
fiscais" estão de volta, se diz por aí. Ministros do governo, como Gleisi
Hoffmann (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e mesmo as poucas
lideranças importantes aliadas do governo no Congresso quereriam
"medidas" para evitar esfriamento da economia (em parte, querem
mesmo).
Além disso, parece recomeçar uma campanha
pela redução da Selic —Haddad disse que a taxa básica da economia, aquela que é
determinada pelo Banco Central, está em nível
excessivo. Esta Folha relatou que Luiz Inácio Lula da
Silva deu sinal verde
para a turma voltar a bater no BC.
Fim de ano tenso, eleição chegando, gasto
errado e um acidente qualquer no mercado mundial seriam uma combinação funesta
para juros e dólar por aqui. Para Lula 4 também.
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