terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Doutrina Trump semeia instabilidade regional

Por Folha de S. Paulo

Republicano amplia ameaça à Venezuela a outros países da América Latina e revive obsoleta Doutrina Monroe

Documento sugere intimidação bélica ao enfatizar que é preciso reajustar presença militar e "garantir que países da região sejam estáveis"

Uma potencial derrubada do regime de Nicolás Maduro por pressão ou ataque militar dos EUA não traz perspectiva de pacificação em curto prazo na Venezuela. Ao contrário, ameaça levar o país à ebulição e, pior, criar precedente para intervenções semelhantes na América Latina.

Não pode restar dúvida de como é nefasta a presença de uma ditadura na região —que transitou de regimes de exceção para o Estado de Direito e ainda vê-se exposta a riscos pontuais para a democracia. O atual isolamento do chavismo evidencia o grau de contrariedade de seus vizinhos.

Flávio Bolsonaro diz agora que candidatura é irreversível e que sobrenome é vantagem sobre Tarcísio , por Thaísa Oliveira & Carolina Linhares

Folha de S. Paulo

Senador muda discurso logo após ter afirmado que poderia desistir de concorrer por um preço

Filho de Jair Bolsonaro afirma que seu nome é viável e representa luz no fim do túnel para bolsonaristas

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que se lançou à Presidência da República e ameaçou desistir em seguida, voltou atrás e agora afirma que sua candidatura é irreversível.

"É irreversível. Minha candidatura não está à venda", disse à Folha, nesta segunda-feira (8), pouco mais de 24 horas após afirmar que sua desistência teria um preço.

O filho de Jair Bolsonaro (PL) afirmou ainda que seu sobrenome é uma vantagem sobre o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que até então era o candidato preferido da maior parte da classe política para representar o bolsonarismo em 2026.

"Eu também atendo a todos os requisitos [para concorrer ao Planalto], com a vantagem de que tenho sobrenome Bolsonaro", disse Flávio, ao ser questionado sobre a preferência por Tarcísio.

Tarcísio declara apoio a Flávio, mas diz que direita terá mais candidatos em 2026, por Bruno Ribeiro

Folha de S. Paulo

Governador de São Paulo cita Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. como possíveis postulantes à Presidência

Durante entrevista coletiva, político buscou fugir do tema e tratar de outros assuntos sobre o estado

O governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), declarou nesta segunda-feira (8) apoiar a candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para a Presidência. No entanto, Tarcísio, que era cotado para disputar o mesmo cargo, disse que a direita deve ter outros candidatos no pleito.

"Ele [Flávio] esteve comigo na sexta-feira [5] passada. Nós conversamos sobre isso. O presidente Bolsonaro, que é uma pessoa que eu respeito muito —eu sempre disse que eu ia ser leal ao Bolsonaro, que sou grato ao Bolsonaro e tenho essa lealdade inegociável— ele disse, o Flávio, da escolha dele [Bolsonaro] e é isso", afirmou.

"O Flávio vai contar com a gente. O Flávio tem uma grande responsabilidade a partir de agora que se junta a outros grandes nomes da oposição que já colocaram seus nomes à disposição", complementou, citando como alternativas Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Jr. (PSD).

Entre a Constituição e a conjuntura, por Renato Janine Ribeiro

Folha de S. Paulo

Interferência do STF tem sido pequena, apenas no que é obviamente criminal; ainda se está aquém do que se poderia ou, talvez, deveria

Majoritária no Congresso, extrema direita está afrontando a Carta de 1988

A atual discussão política brasileira omite uma questão crucial. Nossa Constituição, adotada em 1988, não se limita, como a dos EUA, a desenhar a máquina do Estado. Ela define a sociedade que o Brasil quer ser: justa, solidária, sem pobreza, com as pessoas tendo uma série de direitos —educação e saúde para todos, acesso a cultura e lazer—; enfim, uma série de valores inspirados no que o século 20 aprendeu de melhor após duas guerras mundiais e dois totalitarismos opostos.

O essencial é que o conteúdo da Constituição fique acima da divisão partidária: na disputa entre direita e esquerda, ambas devem atender às finalidades previstas na Constituição —uma com mais políticas sociais e intervenção estatal, outra com mais liberalismo e menos regulação—, mas sempre no espírito da Carta. Qualquer governo deveria aumentar o salário mínimo, melhorar a distribuição de renda, combater a injustiça social, elevar a expectativa de vida, diminuir a mortalidade infantil e garantir uma educação cada vez melhor.

É sério isso? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ao ungir Flávio como sucessor político, Bolsonaro tenta prolongar relevância política

Cena foi mal coreografada e ninguém acreditou que candidatura do filho é para valer

Eu até entendo o que Jair Bolsonaro quis fazer ao ungir o filho Flávio como seu substituto na disputa presidencial. O ainda capitão deve ter imaginado que o gesto pacificaria a família, que está em pé de guerra, e prolongaria por mais algum tempo o maior poder político que ainda lhe resta, que é o de influir sobre o campo da direita no primeiro turno da eleição do ano que vem.

O raciocínio se assenta sobre uma assimetria fundamental. Se Bolsonaro der sua bênção a algum candidato da direita sobre o qual não tenha controle total, como Tarcísio de Freitas ou a algum outro governador, ele na prática se condena à irrelevância, pois teria esgotado seu poder derradeiro.

O insensato mundo dos Bolsonaros, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Flávio não esperou o anúncio da candidatura esquentar para admitir que topa desistir mediante uma boa oferta

O primogênito desqualifica o pai ao exibir como selo de qualidade a promessa de ser um Bolsonaro diferente

Se insensatez e afobação fossem fatores primordiais na escala do eleitorado para a escolha de governantes, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) poderia se considerar eleito presidente.

Menos de 48 horas depois de dizer que disputaria o Palácio do Planalto com o aval do pai, o senador confessou que sua candidatura tem preço e ainda reconheceu defeitos graves na própria ascendência ao exibir como selo de boa qualidade a promessa de ser "um Bolsonaro diferente".

Nos celulares de Bacellar, o futuro do bolsonarismo no Rio, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Prisão do presidente da Alerj tumultua ainda mais as eleições

Ressurge a opção da candidatura Washington Reis contra Paes

Até para os padrões surreais da política fluminense, a cena impressiona pelo descaramento e o amadorismo. Mas sobretudo por revelar o grau de infiltração criminosa nas instituições, risco para o qual a Agência Brasileira de Inteligência alertou em recente relatório.

Imagens das câmeras do condomínio do ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias, o mostraram em setembro fazendo uma mudança rápida e destruindo provas. Era a noite anterior à Operação Zargun, na qual ele foi preso sob a acusação de fazer negócios com o Comando Vermelho.

Criptomoedas: a magia do Natal para bancários desempregados, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Embora propague-se que o País está vivendo um momento de pleno emprego, procurando-se emplacar uma taxa de 5,4 % para dar uma certa visibilidade contábil à política trabalhista, na área bancária vive-se a angústia da dúvida sobre “Como será o Natal dos futuros desempregados ou o que podem esperar de 2026? A resposta, pouco alvissareira, pode até ser adiada por causa do ano eleitoral que se inicia, mas, segundo o ex-presidente do Banco Central, o economista Roberto Campos Neto, "O sistema financeiro do Brasil está passando por uma revolução silenciosa". Poucos percebem. Chegou a calar o Presidente Lula, quando quis demiti-lo por causa de uma taxa de juros que não alcançava 15% aa. É como está agora. As mudanças introduzidas no Sistema Financeiro são estruturais. Envolvem inovações tecnológicas e a incorporação da Inteligência Artificial, essas mesmas que vai, aos poucos, colocando na rua da amargura milhares de bancários, fechando centenas de agências, trocando-as por transações digitais e moedas virtuais. 

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Sobre o conceito de partido político)

"Quando se quer escrever a história de um partido político, deve-se enfrentar na realidade toda uma série de problemas muito menos simples do que aqueles imaginados, por exemplo, por Robert Michels, considerado um especialista no assunto 

O que é a história de um partido? Será a mera narração da vida interna de uma organização política, de como ela nasce, dos primeiros grupos que a constituem, das polêmicas ideológicas através das quais se forma seu programa e sua concepção do mundo e da vida? Tratar-se ia, neste caso, da história de grupos intelectuais restritos e, em alguns casos, da biografia política de uma individualidade singular.

Portanto, a moldura do quadro deverá ser mais ampla e abrangente. Será preciso escrever a história de uma determinada massa de homens que seguiu os iniciadores, sustentou-os com sua confiança, com sua lealdade, com sua disciplina, ou que os criticou "realisticamente", dispersando-se ou permanecendo passiva diante de algumas iniciativas. Mas será que esta massa é constituída apenas pelos adeptos do partido? Será suficiente acompanhar os congressos, as votações, etc., isto é, todo o conjunto de atividades e de modos de existência através dos quais uma massa de partido manifesta sua vontade? 

Evidentemente, será necessário levar em conta o grupo social do qual o partido é expressão e a parte mais avançada: ou seja, a história de um partido não poderá deixar de ser a história de um determinado grupo social. Mas este grupo não é isolado; tem amigos, afins, adversários, inimigos. Somente do quadro global de todo o conjunto social e estatal (e, frequentemente, também com interferências internacionais) é que resultará a história de um determinado partido; por isso, pode-se dizer que escrever a história de um partido significa nada mais do que escrever a história geral de um país a partir de um ponto de vista monográfico, pondo em destaque um seu aspecto característico. 

Um partido terá maior ou menor significado e peso precisamente na medida em que sua atividade particular tiver maior ou menor peso na determinação da história de um país. Desse modo, é a partir do modo de escrever a história de um partido que resulta o conceito que se tem sobre o que é um partido ou sobre o que ele deva ser. O sectário se exaltará com os pequenos fatos internos, que terão para ele um significado esotérico e o encherão de entusiasmo místico; o historiador, mesmo dando a cada coisa a importância que tem no quadro geral, acentuará sobretudo a eficiência real do partido, sua força determinante, positiva e negativa, sua capacidade de contribuir para a criação de um acontecimento e também para impedir que outros acontecimentos se verificassem."

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere. V.3 P.87. Civilização Brasileira, 2007.

Poesia | Vinicius de Moraes - Desespero da Piedade

 

Música | Samba da Utopia - Jonathan Silva & Ceumar