sábado, 6 de dezembro de 2025

O autoritarismo virtuoso de Gilmar, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Não há dúvida sobre o que fez Gilmar Mendes. Tomou prerrogativa do Congresso e desarranjou o sistema de freios e contrapesos para interditar qualquer possibilidade de processo de impeachment contra ministro do Supremo. Não deixará de ser forma de proteção a minoria. Tudo pela democracia. Blitz corporativista que apregoaria como se promovida em defesa do equilíbrio entre Poderes.

Sob o espírito do 8 de janeiro permanente, que já autorizou censura em nome de nos proteger de golpe eternamente à espreita, Mendes – de modo a salvaguardar o estado democrático de direito – criou um estado de direito específico para ministro do STF. Forjada modalidade de proteção à autonomia que garante a independência do Poder tornando-o inalcançável.

Senador dá troco em Michelle e prejudica economia de Lula, por Raquel Landim

O Estado de S. Paulo

Os dirigentes do PL repetem que, se Jair Bolsonaro indicou, está resolvido: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é o candidato do partido à Presidência da República. Mas será mesmo?

Tem muita gente colocando em dúvida por alguns motivos.

Primeiro, o timing. O anúncio veio após uma briga pública na família Bolsonaro em que os irmãos saíram humilhados pela madrasta Michelle Bolsonaro. Ser o escolhido pelo pai como candidato à Presidência parece o troco perfeito. Segundo, a maneira. O senador diz ter consultado o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e ter comunicado o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Mas foi um anúncio sem pompa e circunstância. Por uma nota na imprensa e depois uma publicação nas redes.

Terceiro, o aval. Flávio visitou Jair Bolsonaro na terça-feira na sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente cumpre pena. Na quinta-feira, quem esteve por lá foram Michelle e Laura. Em que momento Jair passou o bastão?

O drama familiar do bolsonarismo, por Juliana Diniz

O Povo (CE)

Ela tem se mostrado mais carismática, ativamente engajada com os eventos do partido por todo o país, falando em nome de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente, recolhido à prisão

A aliança entre o bolsonarismo e o grupo político de Ciro Gomes está em estado de espera desde que Michelle Bolsonaro deixou claro seu descontentamento em visita ao Ceará. Como escreveu Gualter George, é surpreendente que um político dado a respostas prontas tenha engolido a rejeição pública em silêncio.

Eduardo e Flávio Bolsonaro tentaram reagir e André Fernandes até ensaiou uma resposta, invocando a liderança de Jair. A verdade é que, com o líder preso e filhos tão incapazes, coube a Michelle Bolsonaro ocupar uma posição estratégica dentro do campo.

Ex-presidente tenta manter controle da direita diante de racha públicos na família, por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Anúncio vem na esteira de movimento de independência de Michelle Bolsonaro

Candidatura do senador não agrada ao centrão e dificultaria vitória sobre Lula, mas poderia engajar militância bolsonarista

Três hipóteses podem explicar o anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL) como o indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corrida presidencial de 2026.

A primeira delas, mais certeira, diz respeito à tentativa de Bolsonaro de manter sua influência e controle sobre a direita mesmo da prisão.

O anúncio desta sexta-feira (5) vem em um momento em que se escancaram os rachas no grupo —desde os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) até a união dos filhos do ex-presidente contra a madrasta, Michelle Bolsonaro (PL).

Nesse sentido, a indicação de Flávio é um recado para mostrar quem manda e um direcionamento para unir a direita sob a tutela de Bolsonaro.

Dois presidentes na prisão, por Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Lula preso de 2018 definiu estratégia clara para o PT

Bolsonaro preso de hoje administra o caos que engolfa seu movimento político

conflito crônico entre Michelle Bolsonaro e seus enteados eclodiu à luz do dia, destroçando a aliança do PL com Ciro Gomes no Ceará. O episódio ilumina um contraste: o Lula preso de 2018 definiu uma estratégia clara para o PT; o Bolsonaro preso de hoje administra o caos que engolfa seu movimento político.

Da sua sala na PF de Curitiba, Lula orientou as narrativas da resistência. À sua sombra, o PT insistiu na lenda do golpe parlamentar para esquivar-se das responsabilidades pelo fracasso do governo de Dilma Rousseff. Seguindo a linha traçada pelo líder, vestiu-se de vermelho, firmou alianças restritas ao campo da esquerda e enfrentou a batalha desigual.

O voo de Michelle, por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Presidente do PL Mulher reprovou publicamente aliança no Ceará a despeito de orientação do partido e aval de Bolsonaro

Se antes Jair conseguia tolher independência da companheira, hoje está isolado, fragilizado e depende de Michelle

Quando tinha 17 anos, Carlos Bolsonaro recebeu uma ingrata missão do pai: derrotar a mãe, a então vereadora Rogéria Bolsonaro, nas eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Primeira mulher de Jair Bolsonaro, Rogéria se elegeu vereadora em 1992. Sua candidatura havia sido encampada pelo marido, com a premissa de que ela deveria consultá-lo e seguir suas orientações.

Eduardo Paes sai da sombra, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Prefeito entra de vez na campanha ao Palácio Guanabara em 2026

Principal adversário está preso, acusado de vazar informações de operação contra o CV

A impressão é que de vez em quando Eduardo Paes se lembra de que será candidato a governador do Rio de Janeiro em 2026. Na verdade, ele trabalha na sombra, como gosta.

Gato escaldado pela derrota em 2018, procura fazer alianças no interior do estado, onde sua rejeição é maior do que na capital, e, sobretudo, negociar o voto evangélico, tarefa nada fácil para quem tem um perfil abertamente carnavalesco. Em 2022, o bolsonarismo levou, à exceção do Rio, a maioria entre as mais importantes prefeituras fluminenses.

Opinião do dia – Antonio Gramsci

“Referências ao senso comum e a solidez de suas crenças encontram-se frequentemente em Marx. Contudo, trata-se de referências não à validez do conteúdo de tais crenças, mas sim a sua solidez formal e, consequentemente, à sua imperatividade quando produzem normas de conduta. Aliás, em tais referências, está implícita a afirmação da necessidade de novas crenças populares, isto é, de um novo senso comum e, portanto, de uma nova cultura e de uma nova filosofia, que se enraízem na consciência popular com a mesma solidez e imperatividade das crenças tradicionais."

Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, 4ª Edição, v,1, p.118. Editora Civilização Brasileira, 2006.

 

Messias no Supremo, por Pedro Serrano

CartaCapital

A indicação favorece o propósito de chancelar novas etapas do processo de amadurecimento do Judiciário como instrumento democrático

A indicação de Jorge Messias, advogado-geral da União, ao Supremo Tribunal Federal ocorre em um momento singular da história do Poder Judiciário no Brasil. Sufocada pelo autoritarismo do Executivo durante o período ditatorial, nossa Corte, mesmo durante a retomada da democracia, seguiu atada a ditames de uma elite conservadora que, invariavelmente, se agarra à manutenção de seus privilégios nas tratativas de poder no País. Por longo tempo, muitos, equivocadamente, enxergaram o Judiciário como um apêndice do Executivo, algo característico de regimes totalitários. Com o fim da ditadura, nossa Corte aos poucos precisou retomar a ciência de seu verdadeiro papel de guardiã dos princípios constitucionais de um Estado Democrático de Direito.

A democracia ameaçada, por Marcus Pestana

No século XX, tínhamos convicções e princípios sólidos – seja qual fosse a matriz de pensamento de nossa preferência – sobre o horizonte estratégico a perseguir. Não ficou pedra sobre pedra. “Tudo que é sólido desmancha no ar”. Socialistas viram sua utopia esfarelar junto com a poeira do Muro de Berlim. Liberais depararam-se com a falta de Estado gerando, em 2008, a maior crise global do capitalismo desde a Grande Depressão de 1929. Socialdemocratas assistiram o Welfare State encontrar seus limites fiscais.

Gilvan aos noventa, por Luiz Sérgio Henriques

Nenhum de nós é capaz, “na solidão de indivíduo”, de se situar no mundo, vasto mundo, e nem sequer no cotidiano mais simples. Precisamos de figuras de referência que, sem perder a serenidade, enfrentaram com imensa dignidade os altos e baixos, os desafios e as atribulações, as vicissitudes da condição humana. Não somos ilhas – elas que, segundo o poeta, perdem os homens –, tecemos lentamente, e muitas vezes de modo penoso, um acidentado mapa dentro do qual avaliamos sistematicamente o que fazemos e o que pensamos. 

Poesia | Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, de Fernando Pessoa

 

Caetano Veloso - Reconvexo