domingo, 7 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Grande política – pequena política)

“Grande política (alta política) — pequena política (política do dia a dia, política parlamentar, de corredor, de intrigas). A grande política compreende as questões ligadas à fundação de novos Estados, à luta pela destruição, pela defesa, pela conservação de determinadas estruturas orgânicas econômico-sociais. A pequena política compreende as questões parciais e cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida em decorrência de lutas pela predominância entre as diversas frações de uma mesma classe política. Portanto, é grande política tentar excluir a grande política do âmbito interno da vida estatal e reduzir tudo a pequena política (Giolitti, baixando o nível das lutas internas, fazia grande política; mas seus súcubos, objeto de grande política, faziam pequena política). Ao contrário, é coisa de diletantes pôr as questões de modo tal que cada elemento de pequena política deva necessariamente tornar-se questão de grande política, de reorganização radical do Estado. Os mesmos termos se apresentam na política internacional: 1) a grande política nas questões relacionadas com a estatura relativa de cada Estado nos confrontos recíprocos; 2) a pequena política nas questões diplomáticas que surgem no interior de um equilíbrio já constituído e que não tentam superar aquele equilíbrio para criar novas relações.”

*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.3. p.21. Civilização Brasileira, 2007.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Abertura comercial terá efeito imediato na produtividade

Por O Globo

Acordo Mercosul-UE e redução do tarifaço de Trump são cruciais para sanar deficiência crônica do Brasil

Nos últimos cinco anos, a renda per capita cresceu 1,7% ao ano no Brasil. O principal motor do avanço foi a queda no desemprego. Em outubro, ele caiu a 5,4%, nível mais baixo da série histórica iniciada em 2012. Mas é impossível o desemprego seguir caindo de forma indefinida sem gerar pressão inflacionária. A situação atual da economia expõe, ao mesmo tempo, o limite das políticas de estímulo ao consumo e a dificuldade crônica do Brasil de enfrentar sua maior deficiência— a improdutividade.

Quem substituirá Tarcísio? Por Merval Pereira

O Globo

Assim como Bolsonaro, o senador Flávio não tem experiência de gestão de coisa nenhuma, e, diferente do pai, não tem votação própria, depende do apoio dele para se eleger qualquer coisa.

A partir da decisão do ex-presidente Bolsonaro de indicar seu filho Flávio para candidato à presidência da República, abre-se um caminho para aqueles que conseguirem substituir o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas na preferência da classe média e do mercado financeiro, que já mostrou sua preocupação com a fragilidade de Flávio e a vantagem que o presidente Lula ganha com uma escolha tão desastrada para disputar com ele.

Só o fato de que a família Bolsonaro pretende fechar entre os seus as decisões da campanha eleitoral retira da candidatura a possibilidade de ampliar sua penetração em outros setores da sociedade. Os candidatos alternativos à polarização entre lulistas e bolsonaristas terão um espaço ampliado à direita e ao centro, pois a preferência por Tarcísio de Freitas indica que o que esse nicho eleitoral buscava era um candidato competitivo que tivesse o apoio de Bolsonaro, mas que fosse distante o suficiente dele para ter autonomia de voo quando governasse.

Pesadelo Zero Um, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Candidatura do Zero Um divide as direitas e vira pesadelo para Faria Lima e Centrão

A Faria Lima sonhou com Tarcísio de Freitas e acordou com Flávio Bolsonaro. O capitão frustrou quem esperava que ele entregasse seu espólio de votos a um político com outro sobrenome. Na sexta-feira, Jair informou à praça que o candidato é o Zero Um.

Só quem não conhece o ex-presidente acreditou que ele facilitaria o jogo para o consórcio que une os donos do PIB ao Centrão. Bolsonaro nunca deu bola a partidos, acordos ou expectativas alheias. Sempre agiu pela lógica do clã. No poder, descartou e humilhou aliados que atravessaram o caminho dos filhos. Na cadeia, deixa claro que só confia na prole.

O poder da blindagem, por Elio Gaspari

O Globo

Gilmar blinda Supremo, Toffoli tranca o Master e CPMI não ouvirá Lulinha

Houve um tempo em que o poder de uma pessoa podia ser medido pela sua capacidade de abrir portas. Hoje, mede-se também pela sua capacidade de fechá-las. Depois da demolição da Lava-Jato esse movimento era previsível, numa escala menor.

1 - Gilmar blinda o Supremo:

Num espaço de poucos dias, o ministro Gilmar Mendes passou a tranca no direito dos cidadãos de abrir processos de impedimento de juízes do Supremo Tribunal Federal. De agora em diante, só quem pode fazer isso é o procurador-geral da República.

Pode parecer que o ministro queira blindar o tribunal diante da possibilidade de a oposição conseguir no que vem o número de senadores capazes de impedir os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Parece e é isso mesmo.

O Orçamento sequestrado, por Míriam Leitão

O Globo

O Congresso captura parte expressiva do Orçamento, prejudica a governabilidade e distorce o funcionamento da democracia

O presidente Lula disse que o Orçamento foi sequestrado. E foi. O presidente da Câmara, Hugo Motta, disse que as emendas são uma prerrogativa do Congresso. E são. O erro está no valor exorbitante a que as emendas chegaram e no modo como são usadas pelo Legislativo. O montante de R$ 50 bilhões é uma distorção institucional. O fato de a Comissão Mista de Orçamento ter aceitado emendas de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem é uma aberração. É preciso olhar além da briga cotidiana.

Lula falou que 50% do Orçamento foi sequestrado. Na verdade, é 50% dos recursos disponíveis, não do Orçamento como um todo, claro. Mais de 90% do dinheiro vai para despesa obrigatória ou tem destinação estabelecida na Constituição. Sobra pouco, e é esse restante que está em disputa.

Sem poesia nem rima, por Dorrit Harazim

O Globo

Trump faz do combate à imigração sua arma política mais potente neste segundo mandado. Demoniza o ‘outro’

A história talvez seja apócrifa, mas é boa. Conta-se que, quando Sam Goldwyn decidiu investir na versão para cinema de “The children’s hour”, primeira obra de dramaturgia da americana Lillian Hellman, ele foi avisado pelos executivos da MGM de que, na peça, as protagonistas eram lésbicas. Temiam, portanto, que os censores da indústria cinematográfica da época impusessem restrições. O chefão de Hollywood, segundo a história, deu de ombros e foi em frente:

— Qual o problema? Façam com que as protagonistas sejam albanesas.

Não sendo americanas, não manchariam a ficção nacional.

Donald Trump tem se alimentado com voracidade desse artifício, produzindo um cruel roteiro de entretenimento pessoal: a criação de inimigos imaginários para consolidar seu poder interno. O histórico de insultos a cidadãos de “países de merda” ou do “Terceiro Mundo”, como gosta de adjetivar, é antigo em Trump e sempre lhe rende manchetes. Também o surto de nativismo cru e asco humano dirigido contra somalis na semana passada, durante uma reunião ministerial na Casa Branca, atingiu o objetivo: obnubilou o restante do noticiário. (Só esqueceram de lhe avisar que Iman, a supermodelo nascida em Mogadíscio e ícone do mundo fashion, fez seu patrimônio líquido de US$ 200 milhões como imigrante nos Estados Unidos.)

Lula na Sapucaí, o “dedazo” de Bolsonaro e o desfile do “bloco de sujos”, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na política, um sistema de pesos e contrapesos preserva a cooperação institucional. A independência entre os Poderes parece ter perdido esse equilíbrio silencioso. Falta harmonia.

Não é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não mereça um enredo de escola de samba, pois sua vida romanesca serve até para a teledramaturgia. Mas a estreia da Acadêmicos de Niterói no Grupo Especial em 2026, conduzindo pela Sapucaí um enredo que celebra sua trajetória pessoal, é um caso típico de culto à personalidade, que só não é comparável ao estilo norte-coreano porque lá a sociedade foi militarizada e, aqui, é carnaval. Não seria nada mais justo se 2026 não fosse um ano eleitoral.

A avenida transforma líderes em alegorias, memórias em canto coletivo e contradições nacionais em poesia. O processo político não é um desfile na Sapucaí, porém, as escolas de samba nos dão um ensinamento precioso para a política, que nos faz muita falta nesse momento de estresse entre os Poderes. Toda grande escola, para desfilar na avenida, precisa de um diretor de harmonia, alguém capaz de garantir que o conjunto avance sem “atravessar” o samba e abrir grandes espaços na pista.

A faixa e a cela: o Brasil que transforma presidentes em réus, por Christiany Fonseca*

Correio Braziliense

A prisão de ex-presidentes passou a compor o noticiário como se fosse previsão de chuva. Por que tantos presidentes transitam tão perto da ilegalidade?

No Brasil, a Presidência da República é a única função em que o ocupante sobe a rampa como monarca imaginário e, ao final, desce as escadas da história como investigado ou até como preso. É um cargo que oferece pompa, aparato oficial e plateia permanente, mas que devolve, inevitavelmente, o espelho mais cruel do poder: aquilo que o presidente fez quando acreditou que o país dormia. Aqui, o poder não transforma. O poder revela.

Da redemocratização para cá, sete presidentes chegaram ao topo do sistema político. Quase a metade terminou descobrindo o Estado sob outra perspectiva, a de quem conhece a burocracia não pela liturgia do cargo, mas pelas engrenagens do processo penal. Isso não é coincidência, não é azar estatístico e não é acidente histórico. É um ritual brasileiro que se repete com precisão irritante. Celebramos a posse como se fosse um épico nacional e assistimos ao pós-mandato como um inevitável acerto de contas.

Não a Flávio é sim a Tarcísio, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Rejeição a Flávio e ao sobrenome Bolsonaro desencadeia campanha pró Tarcísio

O tímido lançamento do senador Flávio Bolsonaro à Presidência, por ele próprio, numa mera notinha, deixa dúvidas se é para valer ou não, racha a direita e é comemorado pelo lulismo. Tudo somado, o principal efeito foi o oposto do desejado pela família: deflagrar uma campanha de setores políticos, econômicos e financeiros a favor de Tarcísio Gomes de Freitas. O não a Flávio é o sim a Tarcísio contra Lula.

Como levar a sério um lançamento feito pelo próprio interessado, numa nota desenxabida, no fim tarde de uma sexta-feira? A primeira impressão foi natural: isso não é sério, foi só para conter a onda pró Michelle, enquanto é tempo. Ou seja, movimento preventivo.

Anúncio de candidatura de Flávio freia outros nomes da direita e deve beneficiar Lula, dizem analistas

Por Lilian Venturini e Ma Leri / Valor Econômico

Já um nome menos associado a Jair Bolsonaro, a depender do cenário, impõe mais dificuldades ao atual presidente

São Paulo - O lançamento da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República deve ter como efeito inicial um freio nas articulações de outros nomes da direita para 2026. O processo, no entanto, pode acabar favorecendo a formação de quadros independentes do bolsonarismo, avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Valor. Há a leitura, ainda, de que o cenário -- se confirmado -- seria mais vantajoso para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve tentar a reeleição.

"É um banho de água fria em alguns candidatos. Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] dizia que não era candidato, mas se movia como se fosse. O anúncio significa um freio de mão nesse processo, paralisa. Vai levar alguns dias, se não semanas, para avaliar se é definitivo ou não, que jogo é esse, se tem negociação, o que está por trás. Empaca o ritmo da direita", afirma o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.

Indicação de Flávio Bolsonaro divide governadores da direita e acelera debates sobre 2026

Por Victoria Neto / Valor Econômico

Em comum, destacaram que o processo eleitoral ainda está em construção e que as definições devem amadurecer nos próximos meses

Rio - O anúncio de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de que ele foi indicado pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, para disputar a Presidência da República dividiu reações entre governadores do Sul e Sudeste. Enquanto os filiados ao PL declararam apoio imediato à decisão, outros afirmaram respeitar a escolha, mas defenderam que seus partidos devem manter projetos próprios – caso de Ratinho Júnior e Eduardo Leite (ambos do PSD) e Romeu Zema (Novo). Em comum, destacaram que o processo eleitoral ainda está em construção e que as definições devem amadurecer nos próximos meses.

As declarações foram dadas em coletiva neste sábado (6), no encerramento da 14ª edição do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), no Rio. O evento foi realizado na capital fluminense desde quinta-feira (4), sob a presidência do governador do Estado, Cláudio Castro (PL).

Bolsonaro cobra o preço final das escolhas da direita, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Lançamento da candidatura do senador Flávio em 2026 empareda Tarcísio e o centrão, deixando ambos sem opção boa

Se renunciar ao bolsonarismo, campo assumirá traição; se ficar com ele, ganha a radioatividade apontada no Datafolha

A redemocratização brasileira é marcada por contradições. Se o país e o Congresso que o espelha são reinos do conservadorismo de baixa extração, o poder federal passou 20 anos nas mãos de pessoas mais à esquerda, ainda que só nominalmente.

O fastio que emergiu nas ruas de 2013 e em sua mutação à direita em 2016 desaguou no bolsonarismo, que aproveitou-se da implosão do sistema político via corrupção e Lava Jato para propor um novo paradigma —farsesco e golpista, como se provou.

Se no começo apenas militares saudosos da ditadura embarcaram no projeto, logo ele encantaria setores da finança e do empresariado e, principalmente, ganharia tração popular. Alquebrado, o sistema tradicional e a esquerda assistiram à ascensão do hoje prisioneiro Jair Bolsonaro (PL).

Se 'Flávio 26', e finança azeda, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Líderes de centrão e direitas ainda tentam entender o que se passa com os Bolsonaros

Tombo de sexta no mercado foi exagero, mas preços financeiros devem piorar um tanto

Assim que soube de "Flávio 26", a maioria dos donos do dinheiro vendeu ações, reais e títulos da dívida pública. Foi o maior paniquito em quatro anos, com juros e dólar em alta forte. É óbvio medo de que "Flávio 26" facilite Lula 4. Mas suponha-se que Flávio Bolsonaro viesse a aparecer bem nas pesquisas. "O mercado" voltaria a se animar, aceitando assim qualquer coisa que não seja Luiz Inácio Lula da Silva?

A hipótese por ora é improvável e a pergunta pode parecer piada, mas dá o que pensar nas dificuldades do governo em 2026 e de um possível Lula 4.

A velha escuridão que nos segue, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Isso se aplica ao momento presente da escuridão que nos segue desde a formação moderna do país

Velhice aqui pautada não é o amadurecimento biológico; é o fato institucional sem a necessária renovação existencial

Diz um provérbio russo que peixe começa a feder a partir da cabeça ("ryba is galovy gniot", para conferência dos cultores da língua). Como em todo provérbio, há um jogo entre a significação aparente e o sentido oculto. Isso se aplica ao momento presente da escuridão que nos segue desde a formação moderna do país: o julgamento de generais, almirante e oficiais menores não é só fato inédito nas Forças, mas também atestado de velhice de uma casta, entranhada como um alien nas vísceras da República.

Caso de família, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Candidatura de Flávio parece mais um jogo de equilíbrio de forças nas internas do clã Bolsonaro

'Seu Jair' corre o risco de ver sua liderança contestada abertamente pela direita insatisfeita

Não parece ter sido coincidência: na terça-feira (2), Michelle Bolsonaro derrota os enteados no lance do veto à aliança do PL com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará; na sexta (5), o primogênito Flávio Bolsonaro diz que recebeu do pai sinal verde para se lançar candidato a presidente pelo partido.

A aparência é muito mais de um jogo de equilíbrio das forças familiares do que propriamente do lançamento de uma candidatura para valer, daquele que representaria a direita na disputa com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente seria o maior beneficiário dela e, portanto, deve estar achando ótimo.

Flávio candidato prova que a direita errou, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Ex-presidente sinaliza que prefere manter identidade autoritária do movimento a ceder espaço para direita tradicional

Indicação de filho mais velho mostra que movimento bolsonarista resiste à absorção pelo centrão

Com a indicação de Flávio Bolsonaro como seu candidato à Presidência da República, Jair tenta soldar as rachaduras em seu círculo familiar. Mais do que isso, tenta preservar a identidade autoritária e populista de seu movimento, resistindo às tentativas de absorção pelo centrão.

Desde o início de sua carreira política, Bolsonaro administra sua máquina política como uma empresa familiar. É fácil entender por quê: seus filhos nunca tiveram qualquer capital político independente do pai; se não o obedecerem, Jair os condenará ao ostracismo político e, pior, à necessidade de arrumar emprego.

Poesia | Aos que vierem depois de nós - Bertolt Brecht, Tradução Manuel Bandeira

 

Música | Simone - Tô Voltando