Os percalços que todo presidente enfrenta cedo ou tarde no Congresso são motivo hoje de variadas dúvidas sobre o futuro dos interesses palacianos na Câmara e Senado.
Estranha, em um olhar à distância, a ocorrência desse tipo de problema para uma presidente com aprovação popular na casa dos 60% e oceânica base de apoio.
Além das possíveis razões já exploradas, como a suposta aversão ao trato com a política como ela é do Congresso -Lula sofria semelhante crítica nos tempos pré-mensalão, lembre-se-, um fator pode ser acrescentado.
Um governo que predomine de forma inexorável sobre o Congresso interessa bem mais ao próprio governo do que ao heterogêneo grupo de deputados e senadores da chamada base governista.
É nos momentos em que o Palácio do Planalto pisca que, tradicionalmente, esse grupo vê a oportunidade de alcançar objetivos até então reprimidos.
Não só objetivos ditos menores, como liberação de verbas para obras em seus redutos e nomeação de apadrinhados para cargos federais.
Há também a aspiração de parte dos congressistas de tentar de fato influenciar a tomada de decisões, já que tradicionalmente o Congresso vai a reboque do Executivo.
Esse é o jogo, bom ou ruim, jogado desde sempre. Parte da ciência política se condói da necessidade de o governo precisar se dobrar a ele para conseguir implantar o seu modelo democraticamente eleito. Mas o Congresso também foi eleito de forma democrática.
Independentemente das causas, Dilma agiu para tentar retomar as rédeas. Tomou medidas arriscadas. Colocou como seu interlocutor oficial no Senado o ex-governador Eduardo Braga (AM), desde muito da ala dissidente do PMDB e adversário do presidente do aliado PR, o ex-ministro Alfredo Nascimento.
Conforme as declarações anti-Dilma de Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) indicam, nem entre seus poucos colegas do chá das cinco Braga parece exercer influencia por ora.
Na Câmara, Dilma nomeou como líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP), o que representa mais um golpe no grupo petista contrário, que promete retaliação.
Ninguém tem condição de prever os desdobramentos disso tudo, embora Dilma possua bons artifícios à mão, como alta popularidade e a caneta. O PR, por exemplo, se atendido como quer (controle sobre o Transportes) já anunciou que deixa de fazer oposição. O que de, de resto, nunca exerceu na prática.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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