terça-feira, 26 de agosto de 2025

É possível uma direita não bolsonarista? Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Sonhar é fácil; a realidade da opinião pública é que se mostra mais inflexível

Na corrida presidencial de 2026, o momento não parece muito bom para a direita. Lula, que estava nas cordas na primeira metade do ano, voltou ao jogo.

Já Bolsonaro está especialmente tóxico. Seus filhos xingam os governadores —a melhor chance de anistiar seu pai—, que precisam engolir cada insulto calados, receosos de perder o apoio de Jair. Ao mesmo tempo, para conseguir essa benção, cada um deles precisa prometer a anistia caso seja eleito. Ocorre que uma maioria do eleitorado diz que não votará em quem prometer a anistia. Some-se a isso a rejeição a Bolsonaro, que tende a aumentar caso Trump escale as punições ao Brasil —coisa que Eduardo Bolsonaro promete e celebra.

Tudo isso é verdade e pesa sobre os presidenciáveis de direita. E, no entanto, mesmo assim, outro dado se impõe: sem o apoio de Bolsonaro, nenhum deles irá para o segundo turno. A conclusão, assim, é que aceitar essas e outras indignidades é o preço para se ter alguma chance de vencer a eleição em 2026. Ou será que não?

Nem o estrategista mais maquiavélico do PT pensaria num plano tão bom para prejudicar as chances da direita do que a tentativa bem-sucedida de Eduardo Bolsonaro de pedir ajuda a Trump. O desastre do tarifaço e o escancaramento —se ainda era possível ficar mais escancarado— de que os Bolsonaro se preocupam exclusivamente consigo próprios, e que estão dispostos a sacrificar o Brasil em nome de sua família, justamente por serem tão danosos, criam o espaço para uma esperança perigosa: a de que haja espaço para uma direita não bolsonarista em 2026. Será?

É o momento de testar para descobrir. Romeu Zema e Ronaldo Caiado saíram na frente, anunciando suas pré-candidaturas sem nenhuma ilusão de que obterão o apoio de Bolsonaro. Espero que outros nomes, mais distantes do ex-presidente, também tentem se lançar à opinião pública.

A ideia de uma direita não bolsonarista não devia ser tão difícil. O que a direita defende no Brasil atual é claro: que é possível enfrentar de verdade a criminalidade e a impunidade; combater a corrupção; consertar a economia brasileira —que agora cresce, mas segue numa rota de gastos insustentável—; que o Brasil precisa de um choque de produtividade e foco no capital humano, com mais prêmio ao mérito individual; que deve se alinhar mais às democracias e menos às ditaduras no mundo; que a liberdade de expressão precisa ser defendida. Aqui está o insight que falta: a melhor maneira de fazer tudo isso não é com um falastrão saudoso de torturadores e que, derrotado nas urnas, sentou-se com generais para persuadi-los a derrubar a democracia.

Sonhar é fácil. A realidade da opinião pública é que se mostra mais inflexível. O mais provável é que o bolsonarismo continue sendo a grande força da direita em 2026 e que Bolsonaro nomeie aquele que irá para o segundo turno contra Lula. A família continuará no mesmo caminho suicida sem volta, tornando uma vitória presidencial cada vez mais difícil para quem deles depende. Já em 2030, a história será outra. Sem Lula na corrida e com o Congresso ainda mais de direita que o atual, é a esquerda que estará em apuros. Em 2026, é difícil vislumbrar algo além do bolsonarismo moderado. Em 2030, quem sabe uma direita digna do nome consiga se reconstruir.

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