O Globo
Na maior parte das vezes, é melhor não se
deixar levar pela confusão das redes e pelas bravatas dos políticos
Desde muito jovem sou ligado às notícias.
Durante algum tempo, minha tarefa no Jornal do Brasil era ler todos os jornais
pela manhã e planejar a edição do dia seguinte. Sou, portanto, um grande
consumidor de informação.
De uns tempos para cá, com o advento das
redes sociais, o volume se amplificou. Não só jornais e revistas, como blogs,
podcasts, robôs, grupos, opiniões, comentários e influenciadores invadiram a
cena. O que era uma grande onda virou tsunami, impossível de surfar.
Dentro desse contexto, no entanto, procuro analisar um dado importante em nosso cotidiano: a posição dos Estados Unidos em relação ao Brasil e à América Latina. Para alguns, trata-se apenas de uma repetição da velha tendência imperial de determinar a vida dos países do continente. Acontece que há fatos novos: além da cacofonia das redes, há um presidente especializado em bombardear o mundo com uma sucessão de notícias. É um presidente que tem uma rede própria e usa parte do tempo para postar projetos, ideias, avisos e devaneios.
A incompreensão dessa tática de Trump acaba
produzindo um nervosismo inútil e prejudicial. É o caso da Lei Magnitsky
aplicada a Alexandre
de Moraes. Bastou o anúncio, sem detalhes de como será usada, para que se
desencadeasse um psicodrama nacional. Um ministro escreveu um despacho, as
ações dos bancos brasileiros caíram na Bolsa de Valores, e as redes estão
cheias de ameaças anunciando que o país quebrará.
A Lei Magnitsky se aplica às empresas e
indivíduos nos Estados Unidos. Moraes é apenas alguém que vive de salário e faz
a maioria de suas compras no território brasileiro. O máximo que pode acontecer
é migrar para o Pix.
É possível dizer muito sobre isso, menos afirmar que é uma tragédia.
Uma noite dessas, fui dormir depois de ler
inúmeros posts sobre um avião da CIA que pousou em Porto Alegre e foi para São
Paulo. Eram muitos os boatos. Chegaram a extravasar para a mídia convencional.
Fui dormir tranquilo porque sei que a CIA é uma agência que trabalha discreta e
clandestinamente. Usa aviões, helicópteros, barcos, carros, ônibus e
motocicletas, enfim, o que for necessário. A última coisa que teria é um avião
que, ao pousar num país, seria facilmente identificado como sendo da CIA.
Outra notícia que segui de perto: o envio de
três destróieres americanos ao Caribe, com a missão de pressionar a Venezuela.
Deveriam chegar em 36 horas. Passado o tempo, li no site venezuelano TalCual
que os três estavam muito longe: um em Guantánamo, Cuba; outro, no Panamá; o terceiro,
na costa americana.
Maduro convocou 4 milhões de milicianos, fez
discursos e desfilou com aquele casaco com a bandeira da Venezuela. Os navios
americanos não apareceram porque, no seu lugar, o Furacão Erin sacudiu o Caribe.
Choveu muito na Venezuela, houve até apagão em Caracas. Se os
venezuelanos tivessem se preparado para as inundações, no lugar da invasão
americana, talvez tivessem mais eficácia.
O jornalismo explora muito as tensões. Temo
estar me transformando num antijornalista porque, na maioria dos casos, vejo
crises cheias de som e fúria significando nada. Estou pronto para iniciar um
novo gênero: o Correio Zen, órgão destinado a mostrar que, na maior parte das
vezes, é melhor não se deixar levar pela confusão das redes e pelas bravatas
dos políticos. Preciso apenas de um patrocinador que aceite perder dinheiro com
serenidade.
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