Consumo, produção e investimentos poderão ser estimulados com mais um corte dos juros básicos, desta vez para 6,5%, se os dirigentes do Banco Central (BC) se entusiasmarem, de novo, com as novidades no front da inflação. A oferta de emprego também aumentará mais velozmente, se o crédito mais barato facilitar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), por enquanto estimada na faixa de 2,5% a 3%. No mercado financeiro, as previsões de nova redução de juros ganharam força ontem, depois de anunciada a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os bens e serviços consumidos pelas famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos ficaram 0,32% mais caros no mês passado. Embora pouco superior à de janeiro (0,29%), a alta de fevereiro foi a menor contabilizada para esse mês desde o ano 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A variação acumulada em 12 meses, de 2,84%, foi a mais baixa para esse período em toda a série do indicador, iniciada em 1980. A elevação no primeiro bimestre, de 0,61%, foi a menor desde a implantação do Plano Real em 1994.
O aumento dos preços ao consumidor permanece bem abaixo da meta anual de 4,5% e sem tocar sequer no limite inferior de tolerância, de 3%. O IPCA continua sendo contido pela evolução excepcionalmente favorável do custo da alimentação, com queda de 0,33% no mês, mas, de modo geral, a variação dos preços livres tem sido muito limitada. As principais pressões têm ocorrido nos preços monitorados, como os de transportes, gás para uso doméstico e combustíveis. O cenário geral permanece positivo para o consumidor. O índice de difusão passou de 57,9% em janeiro para 48,5% em fevereiro, segundo cálculo da Rosenberg Associados.Esse indicador mede o quanto está espalhada a alta de preços no conjunto de itens pesquisados.
Inflação mais baixa significa melhores condições de vida para a maioria da população, porque é menor a corrosão da renda familiar. O quadro é ainda melhor quando os mais poupados são os consumidores de menores ganhos.
Com foco nas famílias com rendimento em dinheiro de 1 a 5 salários mínimos por mês, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) continua trazendo novidades muito boas. Seu ritmo de alta passou de 0,23% em janeiro para 0,18% em fevereiro, graças, principalmente, à queda de 0,36% do custo da alimentação. A variação mensal do INPC foi a menor desde fevereiro de 2000. A alta acumulada em 12 meses, de 1,81%, foi a mais modesta desde o começo do Plano Real.
O consumidor dificilmente reconhece, quando consultado, o recuo da inflação, porque seu orçamento é em geral limitado e, além disso, sempre há a alta de algum preço importante. Mas o reconhecimento implícito aparece em seu comportamento: a expansão das compras e o retorno ao consumo de alguns itens abandonados até recentemente mostram a percepção de melhora nas condições de vida.
A inflação baixa tem surpreendido, disse há poucos dias o presidente do BC, Ilan Goldfajn. Nessa entrevista, ele admitiu, em princípio, a possibilidade de novo corte de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 20 e 21.
Depois da última reunião, em janeiro, o comitê havia indicado como mais provável a interrupção do ciclo de afrouxamento do crédito. Hoje a hipótese de mais uma redução da taxa básica parece mais forte do que há algumas semanas. Alguns analistas do mercado chegam a dá-la como certa.
Além de estimular o crescimento e, portanto, a arrecadação tributária, juros mais baixos diminuirão o custo da dívida pública, sem, no entanto, impedir crescimento do estoque devido. O peso da dívida continuará a aumentar, mesmo nos cenários econômicos mais favoráveis, se a política emperrar ainda por muito tempo os ajustes e reformas necessários. Falta ver como os membros do Copom pesarão todos esses fatores, ao lado da boa surpresa da inflação, quando se reunirem para decidir como ficará a taxa básica de juros.
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