Ex-presidente tucano faz apelo público por união de lideranças moderadas
Desde muito antes do início da campanha, o mundo político desconfiava das chances da candidatura presidencial de Geraldo Alckmin —e não apenas em razão da folclórica falta de carisma do tucano.
As pesquisas de intenção de voto do ano passado já mostravam números decepcionantes para o então governador de São Paulo, e setores do próprio partido especulavam em torno de alternativas como Luciano Huck, apresentador de TV, e João Doria, que governava a capital do estado.
Já parecia claro, ademais, que o PSDB deixara de ser a escolha natural dos antipetistas, como havia sido até o pleito municipal de 2016.
A legenda carregava o fardo de pertencer ao governo Michel Temer (MDB) e, pior, teve expoentes mencionados nas delações colhidas pela Operação Lava Jato.
No episódio mais vergonhoso, os tucanos se omitiram quando o senador Aécio Neves (MG), candidato presidencial em 2014, foi flagrado ao pedir R$ 2 milhões a um empresário sob investigação.
Quase por gravidade, Alckmin obteve a condição de presidente do partido e candidato à Presidência, deixando para trás rivais que não apresentaram solidez política.
Talvez tenha imaginado que algo similar se daria na corrente disputa pelo voto popular. A pouco mais de duas semanas do primeiro turno, não existe sinal disso.
O contexto ajuda a entender o movimento de seu correligionário mais ilustre, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de pedir publicamente uma união de última hora das forças políticas que “não apostam em soluções extremas”. Compreende-se também por que a iniciativa desperta ceticismo.
Não que os temores citados sejam impertinentes. À direita, Jair Bolsonaro (PSL), com 28% no Datafolha, não apenas revela despreparo pessoal e fragilidade na articulação partidária —a cada dia, ele e seus aliados dão mostras alarmantes de propensão autoritária.
À esquerda, Fernando Haddad (PT), com 16%, parece em busca de um discurso mais moderado. Entretanto sua campanha sustenta as acusações farsescas de um golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff e de uma perseguição político-judicial a Lula; promete ainda um retorno mágico à bonança social da década passada.
Acima de Alckmin, que marca apenas 9% na pesquisa, está ainda o pedetista Ciro Gomes (13%), que vence todos os adversários nas simulações de segundo turno. Infelizmente, seu programa repete teses que arruinaram a economia e as contas públicas no governo Dilma.
Convenha-se, de todo modo, que as candidaturas ao centro têm pouco a oferecer ao eleitorado. Largada pelo caminho, a agenda liberal conduzida sob Temer encerrou a recessão, mas sem reativar a produção e o emprego; quanto à oxigenação de práticas políticas, não há mais que retórica pouco crível.
Não se pode descartar, claro, um reposicionamento dos amplos contingentes que rejeitam Bolsonaro e o PT. Soa improvável, no entanto, que tal fenômeno venha a ser liderado por caciques e partidos.
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