O Estado de S. Paulo
Embora inevitável, o pacote de compensação às
empresas prejudicadas pelo tarifaço, da ordem de R$ 30 bilhões em crédito e
outros benefícios, envolve grande complexidade e sua operação pode produzir
distorções.
Iniciativa como esta precisa ser entendida
como paliativo. É analgésico contra a dor; não cura braço quebrado. A melhor
política contra este tarifaço consiste em negociar tarifas mais baixas,
diversificar exportações e tratar de conseguir novos acordos comerciais.
A paulada desferida pelo presidente Donald Trump não atingiu por igual exportadores e fornecedores de exportadores. Mesmo dentro de cada setor, como o de calçados ou de móveis de madeira, o impacto foi assimétrico, de acordo com a dependência de cada qual das exportações para os Estados Unidos. Distribuir compensações exigirá a adoção de critérios também desiguais ou influenciados pelo poder de lobby de cada uma delas.
Ninguém sabe quanto tempo durarão essas
megatarifas. Pode acontecer que sejam até mesmo aumentadas, como já ocorreu
também no caso do Brasil ou da Índia, por questões que nada têm a ver com
comércio exterior. A possível decretação da prisão do ex-presidente Bolsonaro,
em setembro, ou o avanço da campanha eleitoral no Brasil, por exemplo, poderão
ser usados como motivos para mais castigos às empresas brasileiras. Nesse caso,
os benefícios compensatórios também teriam de ser reforçados? Em que proporção?
A proposta de que os créditos especiais, com
juros favorecidos, já previstos, exijam contrapartidas – como compromissos das
empresas de não dispensar mão de obra–, pode ser outro complicador. Muitos
exportadores operam com trabalho temporário ou terceirizado. Para outros
setores, como a cafeicultura e a cultura de cana-deaçúcar, falta pessoal. A
administração dessas diferenças fica sujeita a contrariedades políticas.
E não tem cabimento afirmar que um pacote
assim não produza impacto fiscal relevante. Se os juros são subsidiados, o
Tesouro terá de comparecer com o pagamento da diferença. O pacote incluirá,
ainda, adiamento ou parcelamento no recolhimento de impostos (diferimento). Ou
seja, embutirá novos Refis explícitos ou disfarçados. Alguém lá do Tesouro fez
os cálculos do que custará isso para o contribuinte brasileiro?
Dívida em rápida expansão, juros muito altos
e baixo nível de investimento são demonstrações de que a economia está
desarrumada. É um carro com amortecedores e freios avariados, sujeito a
trombada por qualquer fator desestabilizador. Seria bem outra a situação da
economia brasileira se as contas públicas estivessem nos trinques e as
reformas, encaminhadas.
Esse socorro tem lá suas justificativas. Mas,
a longo prazo, o Brasil tem de se preparar para o prolongamento dessa guerra
comercial sem pé nem cabeça. E isso passa pelo aumento da competitividade da
empresa brasileira, e não pelo aumento do protecionismo interno.
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