quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Custo da imprevidência, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Pacote confirma que Lula prefere usar folga para pagar despesas ordinárias do que fazer frente às surpresas

O governo acerta ao lançar um pacote para socorrer as empresas que acumulam prejuízos com o tarifaço de 50%. Não havia saída para o presidente Lula nessa emergência de pressão total de Donald Trump contra o Brasil.

No curto prazo, as empresas pediam crédito subsidiado e também adiamento de impostos. Conseguiram essa ajuda e, de quebra, a ampliação do Reintegra, benefício que prevê o ressarcimento de parte dos tributos para empresas que exportam manufaturados. A oposição bolsonarista, que critica as medidas, não teria feito muito diferente neste primeiro momento diante do tamanho do problema e da diversidade das empresas.

O que ficou ruim foi o sinal contrário passado em relação às contas públicas e regras fiscais. Até o último momento, o governo sustentou que o custo do pacote ficaria fora do teto de despesas do arcabouço fiscal, mas dentro da meta fiscal. Uma ação que indicaria algum compromisso para conter a alta da dívida pública.

Não foi isso que aconteceu. O senador Jaques Wagner (PT-BA) apresentou projeto para excluir os gastos e as renúncias fiscais da meta fiscal deste ano e também de 2026, ano de eleições.

A verdade é que o governo propôs um arcabouço fiscal com uma banda (margem de tolerância) de 0,25% do PIB para acomodar imprevistos, como os das enchentes no Rio Grande do Sul e das queimadas, mas toda hora que eles aparecem a opção é pedir dispensa.

Até poucos dias atrás, o governo tinha R$ 20,6 bilhões de despesas congeladas, o que permitiria acomodar a conta do pacote. Mas acabou liberando esse dinheiro no final de julho, quando já estava na mesa o tarifaço. Na época, o governo tinha deixado uma reserva de R$ 4,7 bilhões em relação ao piso da banda, mas não usou agora essa folga.

O pacote confirma que Lula prefere usar a folga para pagar despesas ordinárias, como benefícios do INSS, do que fazer frente às surpresas. Como a disputa com Trump será longa e deve exigir novas medidas, a imprevidência cobra seu preço. Ele aparece nos juros altos, que machucam as empresas.

 

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